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Áudios obtidos pela investigação com autorização da Justiça mostram que, durante os roubos, os ladrões ficavam em contato com os demais integrantes da quadrilha e ao menor sinal de resistência, recebiam ordem para matar. A Polícia Civil prendeu nesta terça-feira (18) 35 pessoas de uma quadrilha que roubava celulares em diferentes bairros do Rio de Janeiro. A investigação mostrou como os bandidos agiam.
Os presos lotaram uma delegacia. Eles faziam de celulares roubados a porta de entrada para uma série de crimes. O primeiro: saques em contas bancárias, como mostra a mensagem de áudio de um bandido:
“Estourei uma boa aqui, mano, R$ 100 mil na conta do cara, R$ 100 mil”.
Depois, extorsão. Em alguns casos, quando a quadrilha não conseguia limpar o aparelho para revender, entrava em contato com a pessoa que teve o celular roubado se passando por funcionários da fabricante do celular.
“Consta que você teve seu celular roubado ou perdido. Gostaria de obter a localização?”, perguntava o bandido, enviando um link para acesso. Ao clicar, a quadrilha conseguia remover a conta da vítima e instalava um novo número. Quando não conseguia, ameaçava:
“Tenho seus dados. Meu interesse é a conta do iCloud. Remove”.
iCloud é a nuvem do celular, onde muitas vezes ficam dados importantes e senhas. O bandido ainda enviou a foto de uma arma e disse: “Vai ter 10 minutos”. Outras vítimas recebiam fotos com o nome delas junto a armas e munição.
Havia ainda outro tipo de golpe. Homens da quadrilha procuravam pessoas que anunciavam celulares à venda na internet; diziam ter interesse e combinavam um momento para a entrega. Em um caso, um motoqueiro buscou o aparelho, mas quando a dona foi verificar a conta, o dinheiro não havia sido depositado.
“No e-mail chegou um comprovante falso de pagamento, e falava que eu ia receber em dois dias úteis”, conta a vítima.
Polícia prende 35 integrantes de quadrilha de roubo a celulares que agia no Rio; investigação mostra como bandidos atuavam
Jornal Nacional/ Reprodução
Esses casos estão na investigação da Polícia Civil, que durante dois anos monitorou a quadrilha. O bando rodava as ruas procurando alvos em potencial – principalmente pessoas com celular na mão. Áudios obtidos pela investigação com autorização da Justiça mostram que, durante os assaltos, os ladrões ficavam em contato com os demais integrantes da quadrilha e ao menor sinal de resistência, recebiam ordem para matar. Em uma gravação, o bandido narrava para um comparsa os passos durante o assalto.
“Ah, aquela de azul aqui, falando no tel (telefone), aqui, a de azul. Está na esquina ela”.
Os bandidos chegam até as vítimas:
“Me dá o celular, quero o telefone, me dá o celular, me dá o celular. Me dá o celular logo, pô, dá o celular aqui, está dando uma de maluco, pô?”
E o comparsa que acompanha tudo de longe, dá a ordem:
“Ó, se não quer dar, tu mata”.
De acordo com a Polícia Civil, traficantes emprestavam armas para os assaltantes, e funcionários de operadoras telefônicas estavam envolvidos no esquema.
“Conseguimos detectar um grupo bem estruturado com nítida divisão de tarefas. Onde havia o núcleo responsável pelo fornecimento de armas, outro núcleo responsável pela prática do roubo. Um núcleo também muito bem estruturado responsável pela receptação dos celulares. E um quarto núcleo, que foi o que nos surpreendeu, que obtinha os dados das vítimas do roubo”, diz o delegado Pedro Brasil.
A polícia identificou 43 integrantes da quadrilha; 35 foram presos nesta terça-feira (18).
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