
Emergência em saúde foi decretada devido ao aumento nas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave e infecções virais, especialmente em crianças. Pacientes reclamam de demora no atendimento em UPAs de Piracicaba
Os moradores de Piracicaba (SP) que procuram por Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) seguem relatando demora para serem atendidos, oito dias após a prefeitura publicar o decreto de emergência em saúde e anunciar que avalia a ampliação de atendimento nas unidades.
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O decreto de emergência ocorreu devido à fila de espera de pacientes por vagas de enfermaria e UTI, em decorrência do aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e infecções virais.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a situação não apresentou piora desde a publicação do decreto, e por isso, ainda não foi necessário reforçar os atendimentos nas unidades.
Demora no atendimento
No entanto, moradores que procuram pelas UPAs ainda relatam demora e problemas no atendimento médico.
A EPTV, afiliada da TV Globo, esteve nesta segunda-feira nas UPAs Piracicamirim, Vila Cristina e Vila Rezende. A reportagem registrou salas de espera cheias, com pacientes aguardando do lado de fora devido à falta de espaço, pessoas impacientes devido à demora e reclamações sobre a qualidade dos atendimentos prestados.
A empresária Laís de Lima relatou que esteve na UPA Piracicamirim e levou duas horas que o filho Samuel fosse atendido. E que, quando chegou sua vez, teve problemas com o atendimento.
“A gente vê que falta bastante equipamento. O médico não conseguia ver o ouvido dele porque tinha um equipamento só, então, tá um absurdo. E ontem estava mais lotado ainda, quando trouxe meu outro filho”, reclama Laís.
Laís conta que seu outro filho sofreu uma queda na escola, batendo a cabeça, e que, ao chegar na unidade, foi atendida rapidamente devido ao quadro de urgência. Outros pacientes abordados pela reportagem relataram que, em casos de emergência, os atendimentos seguem um fluxo melhor e mais rápido.
Fila de espera em frente à UPA Piracicamirim, em Piracicaba
Reprodução/EPTV
A auxiliar de cozinha Letícia de Souza comenta que já é a terceira vez, no período de um mês, que precisa levar a filha Camila para atendimento médico. A mãe reclama da demora e do atendimento.
“É complicado porque você chega aqui, medicam, dão Dramin, Buscopan, Paracetamol, mandam pra casa, mas não melhora. Os médicos falam que é virose que tá dando no ar, que tá pegando várias crianças, e fica nisso. Faz exame, não dá nada, e muitas vezes nem fazem exame.”
Espera por cirurgia
Ainda na UPA do Piracicamirim, a equipe conversou com a família do mecânico Edson Lopes, de 56 anos, que sofre com uma infecção na região do olho. A esposa e o filho notam piora no estado de saúde dele e lutam por transferência para cirurgia em um hospital estadual.
A família já passou por duas unidades de saúde em Piracicaba nos últimos cinco dias e relata que seguem nenhuma solução para o quadro de Edson. O filho, Juan Lopes, relata que os profissionais de saúde direcionam a atenção às pessoas com sintomas gripais e acabam não conseguindo atender o caso de seu pai.
Segundo a aposentada e esposa do mecânico Rosei Lopes, ao passarem pela UPA Vila Cristina, ela e o filho foram informados que a transferência para cirurgia não seria feita rapidamente devido à situação de emergência em relação às doenças respiratórias.
“O que eu tô buscando é a operação do meu esposo, porque eu vejo que, cada hora que passa, cada vez que tiram o curativo, eu vejo que tá cada vez pior. Ele sendo operado, eu vou ficar mais tranquila porque aí eu fiz alguma coisa por ele”, lamenta a aposentada.
Pacientes aguardam atendimento na sala de espera e do lado de fora da UPA Vila Rezende, em Piracicaba
Reprodução/EPTV
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de Piracicaba informou que, no caso do mecânico Edson, ele já vem recebendo acompanhamento médico da rede pública desde 2021, e que no próximo mês terá um retorno no hospital da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Sobre a demora nos atendimentos nas UPAs, a administração informou que existe um protocolo de atendimento que avalia os riscos de cada caso.
Decreto de emergência
Piracicaba deve decretar emergência por alta de casos de síndrome respiratória em crianças
O decreto foi anunciado pela prefeitura da cidade no último dia 17. No dia do anúncio, havia 15 crianças na fila por vagas de enfermaria e duas em UTI.
A publicação oficial do decreto ocorreu no dia 19, informando a dispensa de licitação para compra de insumos e materiais e contratação de profissionais e serviços voltados ao controle do surto. O prazo de duração do estado de emergência é de 120 dias, mas ele pode ser prorrogado.
O documento também criou o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COES) Sintomáticos Respiratórios Piracicaba, para monitoramento e gestão do cenário.
Aumento de repasse a hospitais
O secretário municipal de saúde, Sérgio Pacheco, explicou com a publicação é possível aumentar a quantidade de dinheiro repassado a hospitais parceiros, que já destinaram 17 leitos a mais a crianças na fila de espera desde o último dia 15.
“Todo o poder público trabalha através de processos licitatórios, que muitas vezes são morosos, levam até seis meses, oito meses, ou seja, as respostas precisam ser emergentes. Outra coisa que o decreto proporciona é que os hospitais que deram esses leitos, o Hospital dos Fornecedores de Cana e a Santa Casa de Piracicaba, conseguem através desse decreto receber repasses diferenciados para as crianças que tiverem síndrome respiratória aguda grave”, afirma Pacheco.
Sala de espera da UPA Vila Rezende, em Piracicaba
Edvaldo de Souza/ EPTV
Atendimento ampliado em UPAs
O secretário também apontou também a possibilidade de ampliação de atendimento em UPAs.
“Nós temos um pronto-socorro extremamente mal dimensionado, que é o Vila Rezende. Então, com o decreto, nós podemos tentar aumentar o espaço físico de atendimento, de acomodação. […]. Tentar transformar o anexo do pronto-socorro do Piracicamirim, que é um prédio grande onde nós temos 26 leitos que são utilizados como observação, que foi criado na época da Covid, e nós podemos direcionar para um hospital infantil se isso vier a ser necessário”, aponta.
Além disso, ele informou que o decreto permite compras mais rápidas de insumos, como testes para o vírus sinicial respiratório.
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