
Estudo está sendo feito para avaliar para onde o espaço, que funciona no Centro de Rio Branco, deve ser transferido. Prédio alugado vai ser destinado ao encaminhamento para unidades de saúde, atendimento psicossocial, dentre outros. Mudança do Centro Pop para bairro de Rio Branco preocupa moradores de localidades que estão sendo analisadas pelo poder público municipal
Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (Seasdh) de Rio Branco estuda mudar o Centro Pop, que funciona no Centro da capital acreana, para outro endereço. Atualmente, o local atende mais de 600 pessoas em situação de rua cadastradas e a mudança preocupa moradores de localidades apontadas como possíveis locais para o novo aluguel.
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A troca de endereço deve acontecer, segundo o órgão municipal, porque a estrutura do prédio não consegue mais fazer os atendimentos, além das constantes reclamações de comerciantes sobre vandalismo e furtos na região.
Um estudo está sendo feito para avaliar para onde o espaço deve ser transferido. Um dos locais estudados seria a região da Baixada da Sobral. O secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, João Marcus Luz, ainda citou que a mudança pode ser feita para a região do Bosque, Floresta ou Castelo Branco.
“O Ministério Público prefere o Castelo Branco, por conta da nossa unidade de Restaurante Popular, por conta do Hosmac [Hospital de Saúde Mental do Acre], da delegacia, da UPA [Unidade de Pronto Atendimento], ou seja são unidades que tem tudo a ver com a população em situação de rua”, comentou o secretário.
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O prédio alugado vai ser destinado ao encaminhamento para Unidades de Saúde, atendimento psicossocial e direcionamento para entidades que auxiliam na recuperação do vício em álcool e drogas.
A cozinheira Dayane Alves trabalha no Centro há mais de oito anos, e nesse tempo ela constatou que o fluxo de clientes diminuiu.
“Muitas pessoas deixaram de vir almoçar, principalmente as mulheres. Eles chegam abordando pedindo, e aí elas [clientes] ficam com medo e pedem até pra gente deixar elas lá, e muitas deixaram de vir. Só vem quando alguém vem junto se não, sozinha elas não vem mais por causa disso”, explicou ela.
Preocupação
A presidente da Associação Comercial do Acre (Acisa), Patrícia Dossa, declarou que o órgão apoiou a decisão da Prefeitura de Rio Branco de transferir o Centro Pop para outro local da cidade, mas entende o receio de quem ficará perto da unidade.
“Nós como Acisa defendemos os interesses dos comerciantes e dos empresários, que é retirar dali [Centro] e colocar num bairro. Porém, tem que levar também mais segurança para esse bairro que for. O Centro Pop está prejudicando os comerciantes e os empresários do Centro, mas se mudar para o Castelo Branco ou Sobral, nesse bairro os comerciantes de lá também vão ser prejudicados”, pontuou Patrícia.
O comerciante Afonso Gomes tem um comércio na região onde o Centro de Referência Especializado pode ser levado.
“Eu acho que tinha que procurar um lugar mais adequado. Aqui não é adequado para vir o Centro Pop. Nós fizemos um abaixo-assinado de quase 500 assinaturas e já mandei para a Câmara e para a Assembleia, porque se vier pra cá não vai dar pra trabalhar aí eu não sei o que fazer”, declarou ele.
Mudança do Centro Pop para bairro de Rio Branco causa polêmica
Pessoas em situação de rua
De acordo com uma pesquisa do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, o número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil aumentou cerca de 25%.
Ainda de acordo com o observatório, com base em dados de 2012 a 2021, na capital acreana existem 28 pessoas em situação de rua por 100 mil habitantes. Dessa população, a maioria está na faixa etária dos 30 aos 60 anos.
O professor de sociologia, Nilson Euclides da Silva, expõe que esse é um fenômeno que toda sociedade vive.
“Todo o processo de urbanização desde o século passado, por razões que vão do vício, desemprego, até a falta de oportunidade. Então toda a sociedade principalmente nas áreas urbanas, sempre geraram digamos, esses indivíduos”, esclareceu ele.
O estudo do observatório também classifica que de sete em cada dez pessoas em situação de rua no país não terminaram o ensino fundamental e 11% se encontram em condição de analfabetismo. Nilson questiona até quando a essas pessoas existirão na nossa sociedade.
“Qual é o objetivo dessa sociedade incluir? A civilização serve pra isso: incluir indivíduos nos grupos diversos dentro de um sistema produtivo. Sistema produtivo esse que possa levar qualidade de vida, uma maior igualdade social e econômica e nós estamos exatamente fazendo o inverso”, lamentou o professor.
Centro Pop funciona no centro de Rio Branco e atende pessoas em situação de rua
Izaías Gomes/Assecom
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