
Eles cresceram com acesso livre às redes sociais e são considerados a primeira geração verdadeiramente digital. No entanto, a Geração Z está cada vez mais distantes dos aplicativos de namoro. Será que você sabe o motivo?

Os jovens da Geração Z estão cada vez mais longes dos aplicativos de namoro – Foto: Canva/ND
Diferente dos millennials — que abraçaram ferramentas como Tinder, Bumble e Hinge para formar conexões —, os jovens entre 18 e 30 anos parecem preferir caminhos mais naturais e menos mediados por algoritmos para encontrar parceiros.
Conforme uma pesquisa da plataforma Statista, 61% dos usuários ativos de aplicativos de namoro nos Estados Unidos têm entre 30 e 49 anos. Já os que pertencem a Geração Z representam apenas 26%.
A diferença chama atenção, especialmente considerando que essa geração é muito íntima do digital desde a infância. Mas por que, afinal, os jovens que cresceram com o “swipe” ao alcance do polegar estão abandonando esse universo?
Geração Z: medo de rejeição e o “cringe” social
Conforme o relatório D.A.T.E 2023, da plataforma Hinge, os maiores motivos para esse afastamento digital são o medo da rejeição e o receio de parecer “cringe” — expressão usada para descrever situações constrangedoras ou que geram vergonha alheia.
A Geração Z tende a internalizar mais essas experiências negativas, tornando-as duradouras e emocionalmente pesadas.
Estudos em psicologia evolutiva, como o publicado no Journal of Social and Personal Relationships, mostram que a rejeição social impacta profundamente a autoestima em fases de formação identitária — como a adolescência e a juventude.
Em um ambiente digital altamente performático, onde tudo é público, o risco de humilhação pode ser paralisante.
Além disso, o design gamificado dos aplicativos reforça uma lógica de consumo rápido e descartável, o que contrasta com os valores de autenticidade e saúde mental priorizados por muitos jovens da Geração Z.
A frustração da geração Z com os aplicativos

Os jovens acreditam que a percepção dos algoritmos não favorecem conexões reais – Foto: Canva/ND
Outro ponto de tensão é a percepção de que os algoritmos não favorecem conexões reais. Muitos jovens relatam que sentem que os aplicativos são projetados para gerar lucro, e não necessariamente para promover encontros compatíveis.
Além disso, recursos importantes são frequentemente bloqueados atras de paywalls caros, o que alimenta uma sensação de frustração e desconfiança dentro desses aplicativos.
Um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirma que a maioria dos usuários desinstala aplicativos de namoro nas primeiras quatro semanas de uso. Os motivos? Experiências negativas como assédio, discriminação e baixo autoestima.
Vale ressaltar que mulheres, pessoas negras, gordas e com deficiência são os grupos mais afetados.
Então, onde os jovens estão conhecendo pessoas?
Sem os aplicativos, os encontros acontecem em espaços mais tradicionais, como faculdades, círculos de amizade e eventos sociais. A interação casual, considerada como “old school”, voltou a ser valorizada por permitir trocas mais naturais e menos ansiosas.
Redes sociais como TikTok e Instagram também têm sido utilizadas para conexões afetivas. Por meio do compartilhamento de vídeo e postagens, os usuários conseguem demonstrar personalidade, interesses e até valores — algo que os aplicativos de namoro não conseguem transmitir.

A Geração Z procura mais formas de ter interações reais com outras pessoas – Foto: Canva/ND
A ascensão dos “Date Me Docs”
A falta de uso dos aplicativos de namoro tem despertado uma tendência curiosa entre a Geração Z, o “Date Me Docs”. Trata-se de documentos online (geralmente no Google Docs), onde a pessoa se apresenta de forma detalhada.
Esses documentos, que incluem interesses, intenções e até “avaliações” de amigos e ex-parceiros. Esses documentos são compartilhados em links nas biografias das redes sociais, retomando o controle narrativo das mãos dos algoritmos para os próprios usuários.
Para a psicóloga americana Jean Twenge, autora de iGen, essa rejeição aos mecanismos de encontro padronizados reflete uma busca por autenticidade.
“A Gen Z cresceu hiperconectada e agora quer desacelerar. O namoro se torna mais significativo quando há contexto e intenção, e não apenas um match aleatório baseado em aparência”, explica.
Menos tecnologia, mais humanidade
A pandemia da covid-19 também teve papel relevante nessa virada comportamental. O isolamento forçado escancarou o vazio emocional das interações virtuais e reascendeu o desejo de conexões verdadeiras e espontâneas.
Embora pareça irracional, talvez seja justamente a geração mais online de todas que esteja nos guiando para um novo modelo de relacionamentos: mais humano e menos automatizado.
E talvez o resto de nós devesse prestar atenção.

A Geração Z procura conexões mais naturais e menos automatizados – Foto: Canva/ND