
Percentual de reciclagem caiu pela metade em sete anos e atinge apenas dois quilos de lixo a cada 100 produzidos na cidade. Prefeitura defende valor gasto e afirma investir para aumentar percentual reciclado. Sorocaba gastou R$ 1 bilhão com coleta e armazenamento de resíduos nos últimos 10 anos
Marcel Scinocca/g1
Sorocaba (SP) gastou R$ 1 bilhão somente com resíduos sólidos nos últimos dez anos. O levantamento, exclusivo do g1 para o Dia Internacional do Lixo Zero, celebrado neste domingo (30), leva em consideração os valores para coleta e para destinação final do material, que é feita em um aterro privado na cidade de Iperó, também no interior de São Paulo.
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Conforme o levantamento, desde 2015 foram gastos R$ 764,5 milhões para a coleta dos resíduos residenciais da cidade. O município gera, em média, 19 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por mês, o que representa 634 toneladas diárias.
Acúmulo de lixo em área de Sorocaba
Reprodução/TV TEM
A composição do total desses resíduos produzidos é feita da seguinte forma:
Domiciliares;
Limpeza urbana;
Estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços;
Resíduos de capina e poda.
A cidade também gastou R$ 234,5 milhões para a destinação final desses resíduos. Eles são coletados e enviados para um aterro sanitário particular na cidade de Iperó. O local fica a 15 quilômetros do Centro de Sorocaba, perto do limite do município com a zona norte.
Apenas 2% coletados
Apenas 2% de todo o resíduo produzido em Sorocaba (SP) entram para a coleta seletiva
Marcel Scinocca/g1
Conforme a própria Prefeitura de Sorocaba, a cada 100 quilos de resíduos produzidos, apenas dois são reciclados. Os outros 98 quilos vão ao aterro para decomposição, que pode durar centenas de anos.
A Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema) tem um acordo de cooperação para coleta seletiva no município com duas cooperativas: a Coreso e a Coopereso, que realizam os serviços no sistema porta a porta, triagem e comercialização dos resíduos passíveis de reciclagem. São geradas cerca de 300 toneladas recicladas por mês.
Em 2018, ao anunciar o Plano Municipal de Coleta Seletiva (PMCS) da cidade, a própria Prefeitura de Sorocaba informou que 3% do total produzido eram reciclados. A meta era dobrar o índice um ano depois, o que não aconteceu.
Haitianas trabalham em cooperativa de reciclagem em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
“No período da pandemia da Covid-19, as cooperativas enfrentaram desafios com os cooperados e a venda dos materiais, devido à dificuldade na comercialização e à queda dos preços dos materiais em todo o país. A sazonalidade do mercado de recicláveis também interfere nos resultados, devido à oscilação da oferta e procura pelos produtos”, alega a Prefeitura de Sorocaba.
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Os valores levantados pela reportagem não levam em consideração o que foi gasto no aterro de inertes, na zona industrial de Sorocaba, e na manutenção do aterro desativado da cidade, que fica no bairro Retiro São João.
Investimento e consciência
Engenheiro Sandro Donnini Mancini, especialista em materiais e reciclagem e professor da Unesp, fala sobre resíduos sólidos em Sorocaba
Reprodução/g1
O engenheiro Sandro Donnini Mancini, especialista em materiais e reciclagem e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), diz que é preciso mais investimento.
“Tem que investir. Não vai achando que o mercado vai regular isso. Os catadores fazem um trabalho incrível, com os parcos recursos que eles têm. Mas eles não fazem milagres, não conseguem passar em todas as casas. É uma estrutura muito pequena e que gera custo, inclusive para a prefeitura. O caminho para isso é investir mais, não tem outro segredo.”
“É um investimento [em reciclagem] que precisa ser feito. O poder público e a sociedade precisam fazer para não mandar tudo para o aterro.”
Como uma possível solução, o engenheiro defende a parceria público-privada para a questão. Na opinião do especialista, o problema não é apenas governamental, mas envolve toda a sociedade.
Além disso, ele lembra que a cidade não tem lixão, o que já é um “avanço”. “O problema é que fazemos o básico. O básico é bem feito, que é coletar e enterrar, fazer o que gato faz. O aterro sanitário não é uma coisa simples, mas é o básico, o mínimo que se tem que fazer. E aqui em Sorocaba se faz o mínimo, bem feito”, pontua.
Ainda conforme Mancini, dos mais de 5,5 mil municípios do Brasil, apenas 15 tratam ou reciclam mais de 20% do produzido. “Os números de Sorocaba não são bons, de jeito nenhum, mas são comuns no Brasil. Sorocaba podia melhorar nisso aí? Podia… Desde quando cheguei a Sorocaba, a cidade está patinando [na questão da reciclagem].”
Ele lembra ainda que a média de coleta seletiva no município está menor que a média do Brasil, que é de 2,2%. Ele já mediu 2,4%, ou seja, 20% a mais que o patamar atual.
Sandro comenta que são gastos R$ 270 mil por dia com coleta e destinação final de lixo, mas que o valor é necessário. “Imagina o caminhão de lixo parar de passar na casa das pessoas?.”
Gerador x reciclagem
O especialista também lembra que o comportamento do consumo e da geração de lixo é diferente entre as pessoas. Para ele, a sociedade precisa se preocupar mais. “A sociedade quer distância do lixo. ‘Eu gerei e quero que ele vá embora'”.
“A pessoa, enquanto consumidora, é proativa. Ela vai no lugar, compra coisas, traz para casa. A hora que ela gera o resíduo, ela quer moleza. Ela quer que o caminhão passe na casa dela. Ela não admite pegar esse resíduo e levar para qualquer [lugar]. Ela nem quer saber para onde o lixo vai.”
Sandro defende mais educação ambiental e considera que não há necessidade de novas leis para o setor. “Dá trabalho separar, dá trabalho colocar em um ecoponto? Dá trabalho, não tem como. Mas a proatividade enquanto consumidor desaparece enquanto geradora de lixo. Ela precisa mudar isso, ela precisa ser parte do problema.”
Prefeitura rebate
A Prefeitura de Sorocaba comentou sobre os valores empregados na gestão dos resíduos sólidos na cidade. “Com relação aos valores investidos em resíduos sólidos, considerando a dimensão da cidade, a complexidade que envolve a coleta/transporte e a disposição final de resíduos sólidos, os custos são razoáveis e similares aos praticados em outros municípios.”
Sobre a reciclagem, além do acordo com as cooperativas, a prefeitura disse que está em trâmite a implantação de um novo sistema de coleta e gestão de resíduos para o município, por meio de parceria público-privada (PPP), para atender toda a cidade, junto às cooperativas.
“Este modelo considera os princípios da universalização, prestação de serviço com qualidade e eficiência, minimização e redução nos impactos ambientais, conforme o que preconizam as leis nº 12.305/2010 e nº 11.445/2007. Atualmente, a etapa do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) foi concluída e o município prossegue com os trâmites para viabilizar o novo sistema.”
Porém, conforme a prefeitura, ainda não foi estipulada uma meta de aumento no percentual reciclado. “A meta será definida somente após a formatação final da futura PPP.”
A prefeitura lembrou também que a cidade possui vários ecopontos, e o projeto Metareciclagem, que tem como objetivo a reutilização e o reaproveitamento dos componentes de informática, em cursos e em parceria com a Universidade do Trabalhador, Empreendedor e Negócios (Uniten).
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