
O empréstimo consignado CLT atingiu a marca de 40 milhões de simulações em apenas três dias, conforme divulgado pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) na segunda-feira (24). No entanto, chama atenção a baixa adesão à modalidade, uma vez que apenas 0,02% das propostas foram efetivadas. Fatores como endividamento e o valor das taxas de juros podem estar relacionados a esse baixo número de contratações.

Empréstimo consignado CLT pode ser realizado através do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital – Foto: Vivian Leal/ND
A modalidade foi criada no dia 21 de março de 2025, através da Medida Provisória nº 1.292, e permite que 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada – incluindo domésticos, rurais e empregados do MEI – tenham acesso ao crédito consignado.
Inicialmente, a modalidade está disponível exclusivamente pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital. A partir do dia 25 de abril, todas as instituições bancárias poderão ofertar o crédito em suas próprias plataformas digitais.
Número de simulações impressiona, mas adesão é baixa
Segundo dados do Dataprev, responsável por liberar os valores, entre às 6h da manhã da sexta-feira (21) e às 18h do domingo (23), o aplicativo da CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social Digital) registrou 40.180.384 simulações de empréstimo.
Destas, cerca de 11% (4.501.280) se transformaram em solicitações de propostas, mas apenas 11.032 (0,02%) empréstimos foram formalizados. Para o economista e mestre em ciências econômicas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Martin Kirsten, o indicador pode estar relacionado ao alto índice de endividamento da população.
“Hoje, o nível de endividamento das famílias já está bastante elevado, então seria mais uma dívida para lidar. Mesmo sendo um empréstimo mais barato do que os tradicionais, a taxa de juros ainda é bastante elevada e pode variar. As taxas anualizadas podem girar entre 40% a 80%”, explica em entrevista ao ND Mais.
Essa taxa anualizada, mencionada pelo especialista, é o resultado da aplicação mensal de juros compostos, que nada mais é do que o percentual de juros acumulados mensalmente. Quando projetado ao longo de um ano, o custo total do empréstimo pode ultrapassar facilmente os 40% ou até 80%.

Alta da taxa Selic impacta sobre os juros aplicados a empréstimos bancários – Foto: Freepik/ND
Mesmo com um percentual elevado de juros, o consignado CLT consegue ofertar taxas menores quando comparadas com bancos e outras instituições financeiras, aspecto positivo para quem precisa do dinheiro extra. Em uma simulação do consignado CLT, realizada pelo ND Mais nesta terça-feira (25), os juros aplicados para um empréstimo de R$ 2.000, a ser pago em 36 parcelas, foi calculado em 3,04% ao mês.
“Os juros são mais atrativos em relação ao cheque especial, por exemplo, o que diminui o risco da dívida se tornar uma bola de neve. Em relação a outros bancos, são taxas interessantes, mas é preciso ter cautela. Mesmo com juros mais baixos, a taxa efetiva ainda é alta e pode chegar a 80% ao ano. Isso significa que em 1 ano a sua dívida pode praticamente dobrar”, pondera Kirsten.
Por que os juros do consignado CLT são mais baixos?
O Crédito do Trabalhador, nome oficial do programa federal, atrela o contrato de empréstimo ao vínculo empregatício através da CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social). Essa medida reduz a chance de inadimplência, uma vez que as parcelas do empréstimo serão descontadas diretamente da folha de pagamento.
Trabalhadores que estão há muito tempo na mesma empresa podem obter taxas de juros mais interessantes na hora de aderir ao consignado CLT, assim como aqueles que mudam, constantemente, de emprego podem ser prejudicados na hora desse cálculo.
“Todas essas informações são levadas em conta na hora da análise do crédito, assim como histórico em outras instituições e score de pagamentos anteriores, nome limpo e outros mecanismos. Com o cruzamento desses dados e baseado critérios de cada instituição, chega-se em uma taxa que pode ser mais ou menos atrativa”, explica o economista Martin Kirsten.

Empréstimo consignado CLT está disponível para mais de 47 milhões de trabalhadores – Foto: Money Times/Reprodução ND
Caso o trabalhador seja desligado da empresa, é possível usar até 10% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) como garantia e 100% da multa rescisória para quitar parcelas em aberto. “Os mecanismos são interessantes, mas é preciso ter cuidado com esse tipo de empréstimo, pois pode comprometer um valor que serve de emergência para o trabalhador”, destaca o mestre em ciências econômicas.
Vale a pena fazer o empréstimo?
O consignado CLT oferta praticidade, por ser feito digitalmente, e transparência ao tomador, que poderá visualizar o pagamento da dívida no seu contracheque mensalmente, garantindo um controle mais preciso do que está em aberto e do que já foi quitado.
“Para quem não possui nenhuma restrição no orçamento, pagar à vista sempre evita problemas no futuro. No entanto, pode surgir alguma emergência ou alguma oportunidade boa de uso desse recurso para investimento, ou plano de vida”, afirma Martin Kirsten.
Em contrapartida, ao aderir ao consignado CLT, como qualquer outro empréstimo, é contrair uma nova dívida, geralmente, a ser paga em longo prazo. Por isso, o especialista orienta: “O mais importante é tomar cuidado se o valor da parcela a ser paga ali na frente não irá comprometer o orçamento”, finaliza.