Com desenhos de artistas locais, camisas de blocos de carnaval viram itens de colecionador e geram renda para desfiles


Arte nas camisetas dá toque especial nas peças, aumentando as vendas e contribuindo para a arrecadação das agremiações. Troças e blocos de carnaval convidam artistas para fazer a arte das camisas como forma de encantar os foliões
Entre as formas de os blocos e agremiações do carnaval de Pernambuco arrecadarem recursos para financiar os desfiles estão a realização de eventos e a venda de camisas. Para o carnaval de 2025, várias agremiações apostaram em artistas plásticos e designers para dar um toque especial às suas camisas, que acabam se tornando itens de colecionador.
Comprar uma delas é uma forma de contribuir para o desfile e de valorizar a arte pernambucana. Numa loja colaborativa montada num dos shoppings do Grande Recife, é possível encontrar camisas de diversos blocos importantes do carnaval da capital e de Olinda. A maioria custa R$ 55.
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O curador da loja, Hilton Santana, também é diretor do “Cariri Olindense”. A camisa da troça deste ano é assinada pela artista visual Joana Lira.
A troça centenária só passou a dar mais atenção à proposta visual das camisetas em 2019. De lá para cá, as vendas cresceram mais de 100%. Neste ano, já foram vendidas 1.500 unidades.
“Acho que, com o passar do tempo, várias outras agremiações aderiram a esse movimento de transformar a camisa num objeto de colecionador. O folião quer ter a camisa para além de ajudar a agremiação a sair no carnaval. Ele quer vestir a camisa porque a arte está bonita, a arte é assinada por aquele artista A ou B, de quem a pessoa já admira o trabalho. Então [a arte] deu valor agregado às camisas”, analisou Hilton Santana.
É difícil não se encantar com os desenhos e artes criadas pelos artistas para os blocos e troças. A camisa do tradicional “Eu acho é pouco” foi desenhada pela gravurista Luiza Morgado.
No caso do Elefante de Olinda, a arte foi criação do artista Júlio Klenker, enquanto a da Pitombeira dos Quatro Cantos é uma reprodução de um quadro do artista plástico Zé Som em homenagem à troça, e a da Macuca tem xilogravura exclusiva de Jota Borges.
Artes das camisas de blocos do Carnaval de Pernambuco são feitas por artistas plásticos e designers locais
Reprodução/TV Globo
Novo nicho para artistas
O ano de 2021 não teve carnaval, por causa da pandemia do coronavírus. Mas o artista plástico Aluízio Câmara reviveu a festa em leves e coloridas pinceladas durante o isolamento. A série de quadros pintadas naquele período foi sucesso de vendas e ele decidiu fazer cópias menores e doar o dinheiro para agremiações carnavalescas.
A partir dessa experiência surgiu o convite para o artista fazer a arte da camisa do Homem da Meia Noite em 2023. Foi a estreia dele nesse trabalho.
“Confesso que quando rolou o Homem da Meia Noite, que vende um volume grande de camisas, fiquei preocupado no primeiro momento. Será que vão gostar da camisa? Será que a camisa vai vender da forma como deveria vender e como precisa vender? Porque a maioria dessas agremiações, desses grupos, têm a fonte de recursos na venda da camisa, né? Então, se eu fizesse uma coisa muito ruim, a minha turma não comprasse, seria um desastre, né? Mas, graças a Deus, até então tem dado certo”, falou.
Desde então, outras encomendas surgiram. Em 2025 Aluizio se dedicou à arte da camiseta que celebra os 30 anos do bloco Guaiamum Treloso.
O rascunho normalmente é feito no papel com carvão e liberdade criativa. Depois, ele passa para a tela e a arte final é adaptada para o tecido por um designer gráfico e aprovada pelo bloco.
O projeto para o Guaiamum Treloso está pronto e a venda das roupas vai ajudar a festa do bloco, marcada para 22 de fevereiro, no bairro de Aldeia, em Camaragibe. Este ano, a programação vai ter desfile e shows gratuitos, algo que não acontece desde 2017.
“Isso sempre foi um detalhe do Guaiamum Treloso. Sempre ter artistas plásticos. Daniel Dobbins, Carla Viana, Delano, Miguel – que é cartunista. Já tivemos várias camisas bacanas, mas a gente vem muito com a relação também de divulgar as artes plásticas do estado de Pernambuco. Então, uma peça com essa arte você usa no dia a dia também”, explicou o fundador do bloco, Felipe Cabral de Melo.
Aluízio Câmara fala da alegria de ver as pessoas vestindo algo com uma arte criada por ele. “É legal ver as pessoas vestindo. É mais legal quando as pessoas que sabem que eu fiz [o desenho] vêm dizer que gostaram da camisa, os comentários nas redes sociais. Tudo isso é muito gratificante. Ver as pessoas levarem um pedaço da minha arte para a casa, para o corpo, para a sua alegria, para se juntar, para se somar à alegria e à efervescência do Carnaval”, finalizou o artista.
Blocos carnavalescos de Pernambuco vendem camisas com estampas autorais
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