‘Not like Us’, hit de Kendrick Lamar que expõe briga com Drake é aguardada no Superbowl; entenda a treta


Kendrick Lamar foi um dos maiores vencedores do Grammy 2025, levando dois dos maiores prêmios (Canção do Ano e Gravação do Ano) e cinco no total, pela faixa “Not Like Us”. (Da esq. p/ dir.): Os rappers Drake e Kendrick Lamar
Richard Shotwell/John Salangsang /Invision/AP
O Super Bowl 2025 acontece neste domingo (9), com show do intervalo de Kendrick Lamar. A apresentação, que terá a participação especial da cantora SZA, é muito esperada pois deve expor a briga com rapper canadense Drake.
Kendrick Lamar foi um dos maiores vencedores do Grammy 2025, levando dois dos maiores prêmios (Canção do Ano e Gravação do Ano) e cinco no total, pela faixa “Not Like Us”.
A música é considerada uma “diss” sobre Drake e foi um grande sucesso, solidificando o lugar de Lamar no posto de realeza do rap. Kendrick deve incluir um refrão do hit que, segundo o “New York Times”, se tornou uma espécie de tema para entoar contra rivais esportivos. Mas é possível que ele evite os versos mais pesados, em que chega a acusar Drake de pedofilia.
“Not Like Us” é um dos singles mais importantes para o rap nos últimos 20 anos, quebrando recordes e empilhando streams:
O single estreou em primeiro lugar no Hot 100 da ‘Billboard’ com 70.9 milhões de streams;
1° lugar de estreias globais na Apple Music e Spotify;
Tornou-se o rap mais rápida a atingir 100 milhões de plays no Spotify.
A música ataca Drake, acusa o rapper de pedofilia, ao mesmo tempo que Kendrick faz uma declaração de amor ao hip-hop da costa oeste dos Estados Unidos.
O clipe de “Not Like Us” traz diversas referências visuais à sua briga com Drake, além de uma homenagem à cidade californiana de Compton e à toda a história do rap da costa oeste americana (veja as referências).
Além do impacto comercial, a briga entre Drake e Kendrick Lamar reacendeu o espírito de disputa dos artistas dentro do rap.
Ao todo, foram nove músicas de ataque (ou contra-ataque) entre Drake e Kendrick. Elas causaram uma disputa na internet, com muitas teorias e interpretações (entenda o que aconteceu).
Em um estilo conhecido por troca de farpas e disputas entre artistas rivais, esta é com certeza a maior treta dos últimos dez anos.
O g1 explica a seguir a trajetória da briga e seu reflexo nas músicas.
O início de tudo
Anos atrás, a relação entre Drake e Kendrick era completamente diferente da atual. Os dois até cantavam juntos. Dividiam o microfone em “Buried Alive Interlude” (2011), “Poetic Justice” (2012) e “F**kin’ Problems” (2013).
O conflito começou tímido, com uma disputa de território. Quem é o melhor rapper da atualidade? Basicamente, foi com essa pergunta que a natural competitividade dos músicos engatinhou e, aos poucos, se tornou mais pessoal do que profissional.
Em 2013, o rapper Big Sean lançou “Control”, em parceria com Kendrick. Na faixa, o americano caçoa de Drake e outros rappers, citando seus nomes e dizendo: “Eu tenho amor por todos vocês, mas estou tentando matá-los, ‘niggas’”.
A música é uma diss track. Ou seja, uma canção cujo propósito é insultar uma ou mais pessoas — de forma desbocada e quase sempre explícita. Presente em vários gêneros musicais, a prática ganhou destaque nos anos de 1990, sobretudo no rap.
É bem comum que uma diss track surja a partir de outra, com músicos revidando na mesma moeda as críticas que recebem. Justamente por isso, alguns dos rappers citados em “Control” lançaram canções atacando Kendrick.
Drake, porém, fez diferente. Quando questionado na época sobre o assunto pela revista “Billboard”, o canadense se limitou a definir “Control” como ambiciosa e a sugerir que o nível de sucesso dele jamais seria ultrapassado pelo do Kendrick.
Ainda em 2013, Drake lançou “The Language”. Para alguns ouvintes, a letra seria uma indireta ao rapper, mas a teoria foi negada pelo produtor Birdman. Seus versos dizem: “Eu sou o único com quem você deve se preocupar/ eu não sei ao que você está se referindo/ quem é esse cara que você ouviu falar?”.
“The Language” é uma faixa do disco “Nothing Was the Same”, termo que Kendrick usou meses depois durante o BET Hip-Hop Awards. “Nada tem sido o mesmo [‘nothing was the same’ em inglês] desde que eles abandonaram ‘Control’ e puseram um rapper sensível de volta em suas roupas de pijama”, cantou o músico.
De lá para cá, tanto Drake quanto Kendrick se enfiaram em rixas maiores envolvendo outros músicos, o que aquietou a intriga dos dois. Até que, em março de 2024, o americano voltou a provocar o canadense, em “Like That”.
‘Like That’
A música foi uma resposta a “First Person Shooter”, parceria entre Drake e J. Cole lançada em outubro de 2023.
Em “First Person Shooter”, J. Cole afirma que ele, Drake e Kendrick são “o grande trio” do rap.
“Filho da puta, os três grandes são somente eu”, cantou Kendrick em “Like That”, irritado.
O rapper Kendrick Lamar em show no Allianz Parque, em São Paulo
Reprodução/Instagram
‘7 Minute Drill’
J. Cole não gostou do que ouviu e, em 7 de abril de 2024, lançou “7 Minute Drill”.
“Ele tem uma média de um verso difícil a cada trinta meses ou algo assim/ Se ele não estivesse zombando, então não estaríamos discutindo sobre eles/ senhor, não me faça fumar esse ‘nigga’ porque eu fodo com ele”, diz a letra.
O sucesso da faixa veio rápido. Mas Cole não quis permanecer na briga. Dois dias depois do lançamento, o artista anunciou que retiraria a música das plataformas de streaming, porque “não combinava com seu espírito”.
A promessa foi cumprida, mas a confusão já estava feita.
‘Push Ups’
Até então, Drake estava poupando palavras. Mas, em 13 de abril de 2024, lançou “Push Ups”, debochando do flerte musical de Kendrick com o pop.
“Você não está em nenhum ‘trio grande’/ SZA te enxugou, Travis te enxugou, Savage te enxugou”, diz a letra. “Você vai sentir as consequências do que escrevo / Estou no topo da montanha, então você está apertado agora.”
“O Maroon 5 precisa de um verso/ é melhor você torná-lo espirituoso / precisamos de um verso para os swifties.”
‘Taylor Made Freestyle’
Seis dias após “Push Ups”, Drake lançou outro ataque a Kendrick, “Taylor Made Freestyle”.
O cantor sugeriu que o americano não havia respondido à sua diss anterior porque estaria aguardando o lançamento do álbum “The Tortured Poets Department”, de Taylor Swift.
Drake em ‘Hotline Bling’.
Reprodução/YouTube
‘Euphoria’
Em 30 de abril de 2024, Kendrick lançou “Euphoria”, despejando ali em seis minutos todo o ódio que vinha alimentando contra o canadense.
Nos versos, o americano chama Drake de “mestre manipulador” e “mentiroso habitual”. Também sugere que ele é um péssimo pai e finge ser negro.
O ápice da briga
Já intensa, a treta piorou de vez entre os dias 3 e 4 de maio do ano passado, quando os artistas trocaram ataques com músicas lançadas com apenas horas de diferença.
Em “6:16 in LA”, “Family Matters”, “Meet the Grahams”‘ e “The Heart Part 6”, os dois se dedicam a tecer longas e duras acusações de um contra o outro. As denúncias são relacionadas a pedofilia, violência contra a mulher e abandono paterno.
Em resumo, Drake acusa Kendrick de bater na esposa, Whitney Alford, enquanto Kendrick acusa Drake de ter uma filha secreta e de transar com garotas menores de idade.
Os dois negam as acusações das quais são alvo.
4 detalhes no clipe de “Not Like Us” do Kendrick Lamar
Mas, afinal, o que está em disputa?
Nem só de fofocas sobrevivem as diss tracks. Em termos de letra, as músicas do estilo têm potencial de provocar reflexões profundas que extrapolam a bolha dos envolvidos. Mas esse não parece ser o caso.
A batalha musical entre Drake e Kendrick é legítima (e adorada pelo público, pelo visto), mas limitada a mero egocentrismo.
Os questionamentos que ficam são vários. Sob qual condição acontece a treta autocentrada? Do que se trata o ringue? Qual o interesse em tornar acusações tão sérias como essas em piadas sarcásticas?
Banalizada, a misoginia exposta nas letras não é sobre a dor feminina, mas sim Kendrick e Drake. É sobre até onde vão as acusações contra eles e como reagem diante delas.
“Quando você coloca as mãos na sua garota, é legítima defesa porque ela é maior que você?”, canta Drake em “Family Matters”, transformando uma suposta agressão doméstica em deboche de porte físico masculino.
Enquanto isso, Kendrick entoa versos como “nós odiamos as vadias que você fode porque elas se confundem com mulheres reais”, em “Euphoria”, xingando meninas que, segundo ele, são vítimas de abuso do canadense.
Drake se defende em “The Heart Part 6” cantando: “Se eu estivesse transando com garotas, prometo que teria sido preso / sou famoso demais por essa merda que você acabou de sugerir”.
Já Kendrick tenta limpar a própria imagem rimando que o rival “destrói famílias em vez de cuidar das suas”, em “Meet the Grahams”.
Os dois também evocam a feminilidade para fazer piadas de teor homofóbico e sexista como se estivessem numa guerra para ver quem é mais machão, ou menos mulherzinha.
A impressão que fica é a de que Drake e Kendrick lutam para ver qual misoginia é mais moralmente aceita no circuito mainstrain do rap americano, dominado há décadas por homens.
Mentirosas ou verdadeiras, as acusações cantada pelos rappers envolvem pessoas reais: mulheres à sombra da disputa, reduzidas a meras cartadas de rima e flow.
g1 analisa ‘GNX’, novo álbum de Kendrick Lamar
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