Ambientalistas defendem que Brasil aprove metas ambiciosas na COP, mas veem desafios, a começar pelos EUA

Conferência da ONU sobre o clima, a ser realizada em Belém, em novembro, pode consolidar o Brasil como potência ambiental. Mas as dificuldades na área vão desde o crescente aquecimento global à saída dos EUA do Acordo de Paris. Desde o início de seu mandato, em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca reposicionar o Brasil como protagonista na agenda ambiental global. A realização da COP 30 em Belém, prevista para novembro deste ano, é a oportunidade de consolidar essa liderança, mas o evento também apresenta desafios políticos.
Além disso, especialistas avaliam que, para a COP ser bem-sucedida, o Brasil terá que conseguir aprovar medidas ambiciosas.
Como obstáculos no caminho estão: o superaquecimento global, eventos climáticos extremos e a resistência de países desenvolvidos em assumir responsabilidades proporcionais em financiamento e redução de emissões.
Presidente da COP 30 cita ‘poder de convocação’ de Lula e minimiza risco de evento esvaziado em Belém
Amazônia como palco global
Belém sediará a conferência no coração da Amazônia, o que promete ampliar a percepção internacional sobre a complexidade e importância da floresta para o equilíbrio climático do planeta.
“Discutir o futuro climático do planeta dentro da Amazônia é simbólico e pode trazer elucidações sobre a importância de manter florestas em pé”, destacou Raimunda Monteiro, da Universidade Federal do Oeste do Pará. A COP 30, segundo ela, também será um convite para que o Brasil mostre coerência em suas políticas internas, que ainda carregam contradições entre desenvolvimento e preservação ambiental.
Carlos Nobre, climatologista de renome mundial, alerta que o Brasil só será capaz de exercer verdadeira liderança se adotar uma postura clara e ambiciosa. “Não tem sentido o Brasil defender novas explorações de petróleo e gás natural. Para liderar, é necessário reduzir drasticamente as emissões e zerá-las até 2040, como prometido pelo presidente Lula no G20”, pontuou.
Desafios estruturais e políticos
A COP 30 herda questões pendentes das conferências anteriores, como o financiamento climático. A COP 29 falhou em garantir os 1,3 trilhões de dólares necessários para a mitigação e adaptação climática em países em desenvolvimento, fixando-se em apenas 300 bilhões. Além disso, enquanto a COP 28 iniciou o debate sobre combustíveis fósseis, não houve avanços concretos na redução de sua exploração.
“O Brasil deve aproveitar a COP 30 para liderar a transição energética e fortalecer o financiamento internacional para preservação de florestas”, afirmou Stela Herschmann, do Observatório do Clima. Segundo ela, o Brasil tem credibilidade para atuar como ponte entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento, mas precisa alinhar suas contradições internas, como a exploração na Foz do Amazonas e retrocessos ambientais no Congresso Nacional.
EUA e o ‘vácuo de liderança’
A saída dos EUA do Acordo de Paris, declarada pelo ex-presidente Donald Trump, permanece uma sombra sobre os esforços globais. Carlos Nobre classifica a postura americana como “suicídio ecológico” e afirma que outros países precisarão ocupar esse vácuo de liderança. “O mundo precisa se unir para limitar a temperatura a 1,5ºC e evitar catástrofes irreversíveis”, disse.
Stela Herschmann destaca que, apesar do impacto negativo, a ausência de compromisso dos EUA pode galvanizar outras nações e aumentar a pressão para acordos mais ambiciosos. “O fracasso dos EUA não é desculpa para o mundo recuar; pelo contrário, é um chamado à ação.”
Metas e vontade política
O Brasil enfrenta a responsabilidade de reafirmar compromissos internacionais, como reduzir emissões de gases do efeito estufa em até 67% até 2035 e zerar emissões líquidas até 2040. Para isso, será necessário avançar em políticas públicas, ampliar o financiamento interno para adaptação e acelerar a implementação de tecnologias de energia renovável.
“A tecnologia já existe; o que falta é vontade política”, afirmou Nobre. Ele também alerta para a necessidade de combater o crime organizado em áreas de preservação, que ameaça não apenas ecossistemas, mas também a credibilidade do Brasil como líder ambiental.
A COP 30 também marca uma década desde o Acordo de Paris, o que pode servir tanto como marco de fracasso quanto de progresso.
“Os 10 anos do Acordo de Paris são uma oportunidade de rever metas e galvanizar a mobilização necessária dos líderes mundiais”, disse Herschmann.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.