Conheça o único professor brasileiro finalista em prêmio considerado o ‘Nobel da Educação’ em 2025


Helder Guastti da Silva concorre ao Global Teacher Prize. Professor criou projeto em que alunos de escola pública do ES resgatam contos populares com o uso de inteligência artificial. Helder Guastti é o único professor brasileiro finalista em prêmio internacional considerado o “Nobel da Educação”.
Arquivo pessoal
Helder Guastti da Silva herdou da mãe professora o ofício, o prazer em conhecer as histórias e a vontade de mudar a realidade dos alunos. Foi a inspiração para que ele desenvolvesse o projeto “Como Diz o Outro”, que levou o professor a ser finalista no prêmio internacional Global Teacher Prize, considerado por especialistas da área o “Nobel da Educação”.
Natural de João Neiva, no Norte do Espírito Santo, Helder foi selecionado entre 5 mil inscritos de 89 países e é o único brasileiro entre os 50 finalistas na competição anual, que reúne professores com iniciativas notáveis de todo o mundo. O grande vencedor da edição de 2025 vai levar a quantia de US$ 1 milhão.
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Helder Guastti desenvolveu projeto “Como Diz o Outro…” com alunos de uma turma do 5° ano.
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Na descrição do site da premiação que apresenta cada finalista, o professor Helder, de 37 anos, é descrito como “excepcional, com abordagens inovadoras, paixão pela educação e compromisso em promover um senso de comunidade que o destacam como um modelo global no campo educacional”.
“Acredite. A gente tem a tendência de não apostar tanto na gente, se não fosse isso eu não estaria aqui como finalistas e nem alcançado outros feitos na minha carreira. […] Estar aqui nessa situação em que sou finalista é quase surreal. Não sou eu sozinho, nesses anos todos, com as turmas que eu tenho, as crianças que eu recebo, na escola ou em casa, são elas que fazem eu ser o professor que eu sou! É uma realização que está no nome do professor Helder, mas que é coletiva”, celebrou o professor.
O professor embarca para Dubai, nos Emirados Árabes, no dia 10 de fevereiro, para participar de uma imersão com outros finalistas. O top 10 será anunciado ainda em fevereiro, e o vencedor será revelado em uma cerimônia no final do ano.
“Estar entre os finalistas já é uma realização de vida. Não trabalhamos para validação, mas é um reconhecimento que simboliza um esforço coletivo. O professor no Brasil é muito valorizado no discurso, mas pouco na prática. A rede de João Neiva nem paga o piso salarial. Trabalhar em uma escola pública é sempre desafiador. Esse prêmio é para mostrar que nossa educação tem potencial e que acreditar em si mesmo é transformador”, concluiu.
O Global Teacher Prize é um prêmio anual criado em 2014 pela Varkey Foundation em parceria com a Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Projeto aliou tradição e tecnologia
Helder Guastti é o único professor brasileiro finalista em prêmio internacional considerado o “Nobel da Educação”.
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Formado em Pedagogia, atualmente, o professor dá aula em duas escolas públicas de cidades vizinhas, a Emef Pedro Nolasco, em João Neiva, e a Emef Mário Leal, em Aracruz, para turmas do ensino fundamental, com alunos entre 8 e 11 anos.
O projeto inovador “Como Diz o Outro…” foi desenvolvido em 2023, com uma turma de alunos do 5° ano, da escola de João Neiva, e mesclou tradição e tecnologia.
“Eu desenvolvi o projeto com uma turma muito singular e especial. Um projeto simples, de resgate de contos da tradição popular, só que com o diferencial da autonomia, da participação das crianças em todas as tomadas de decisão”, contou.
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Segundo o professor, inicialmente, a ideia era modernizar contos populares brasileiros, através das pesquisas feitas em casa, com pais e avós, e também na rua. Uma iniciativa que valorizasse a memória e a oralidade.
Entretanto, após a leitura de uma notícia em sala de aula que falava sobre o mau uso da Inteligência Artificial (IA), por alunos de uma escola no Rio de Janeiro, veio a ideia de mostrar que a ferramenta poderia ser incorporada de um jeito diferente.
“As crianças trouxeram histórias de suas famílias, trava-línguas, parlendas e contos populares para a sala de aula. No início, seria um simples livro com desenhos, mas elas expandiram a ideia e usamos IA para modernizar as ilustrações”, lembrou o professor.
Também com o projeto “Como Diz o Outro…”, Helder venceu o prêmio ‘Educador Nota 10’, em dezembro de 2024, um dos maiores prêmios de Educação do Brasil.
Garagem de casa aberta para a leitura
Professor Helder Guastti toca com a mãe, Rogéria Guastti (a esquerda), o projeto Espaço de Leitura Confabulando, na garagem de casa. Espírito Santo
Arquivo pessoal
Além das salas de aula, Helder impacta a comunidade onde nasceu, cresceu e mora com o Espaço de Leitura Confabulando, criado em 2017, no bairro de Fátima, região conhecida como Caixa D’Água.
Na garagem de casa, o professor e a mãe, Rogéria Guastti, oferecem empréstimos de livros, atividades culturais e até já realizaram aulas de inglês.
“É um espaço para crianças e adultos, onde incentivamos o hábito da leitura e a troca de conhecimento. A gente já tinha um acervo literário nosso, só dividimos esse acesso. […] Isso contou para o prêmio também que não contabiliza apenas ações em sala de aula, mas a atuação como um todo”.
Apesar de já ter ouvido de colegas que deveria sair de onde nasceu e se lançar em cidades maiores, Helder contou que não cogita essa possibilidade, e que acredita no poder de transformação que uma pessoa pode ter sobre o ambiente em que ela está.
“Para a maioria, o conceito de sucesso é deixar o lugar de onde você veio, mas eu sou muito teimoso em permanecer. Justamente por mentalidade como essas eu tenho que estar aqui e não largar o lugar de onde eu venho!”, explicou.
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