
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou como uma “vitória muito importante” a prisão de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, apontado como o novo líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (19), em Brasília, o governo enalteceu a parceria com a Bolívia e a atuação conjunta de órgãos e instâncias brasileiras.
“Foi uma operação extremamente complexa, que exigiu articulação entre diferentes órgãos do Governo Federal e cooperação internacional. O presidente da República foi imediatamente informado, e o Itamaraty passou a atuar na negociação para garantir o retorno desse criminoso ao Brasil”
A captura ocorreu na última sexta-feira (16), em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde o foragido foi detido por uso de documento falso.
Tuta era considerado um dos principais articuladores de um esquema internacional de lavagem de dinheiro operado pelo PCC e estava foragido desde 2020. Além disso, ele é apontado como substituto de Marcola no comando da facção criminosa.
A prisão foi viabilizada por meio da Lista de Difusão Vermelha da Interpol e do trabalho coordenado entre a Polícia Federal (PF) e a Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen (FELCC), da Bolívia.
“Hoje existe uma rede internacional de cooperação contra o crime organizado extremamente bem-sucedida, extremamente sólida. É importante lembrar que a Bolívia inclusive é país-membro do Mercosul. Nós temos diversos tratados de intercâmbio no que diz respeito à cooperação policial”
Identificação imediata
A identificação de Tuta foi possível a partir de um cruzamento de dados biométricos, solicitado pelo escritório da Interpol em Brasília e repassado às autoridades bolivianas. Segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a tecnologia foi fundamental para garantir a prisão em flagrante.
“Conseguimos confirmar, quase em tempo real, que aquela pessoa era, de fato, o criminoso procurado, dando segurança às autoridades bolivianas para procederem com a detenção”
De acordo com Lewandowski, diante da periculosidade do foragido e do risco de fuga, mesmo sob custódia das autoridades bolivianas, as autoridades de ambos os países optaram por expulsar Tuta do país vizinho, com base em um instrumento previsto no direito internacional.
“A Bolívia exerceu sua soberania ao expulsar um indivíduo que representava risco à sua sociedade. A PF prontamente enviou uma aeronave para buscar o preso e trazê-lo a Brasília”
“Recebemos esse preso na fronteira, levamos até a nossa delegacia para fazer procedimentos administrativos e jurídicos legais, por exemplo, exames de corpo de delito, enfim, e documentação, e a partir daí embarcamos na nossa aeronave da Polícia Federal, que já estava lá aguardando, e fizemos esse translado com o desfecho muito favorável”, acrescentou o diretor da PF.
O secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, destacou que Tuta já constava nos bancos de dados internacionais desde 2020, e que o Centro Biométrico da organização foi essencial para o desfecho da operação.
“Esse caso exigiu uma atuação coordenada entre polícias de dois países e reforça a importância do intercâmbio de dados e da cooperação policial global”
“A Interpol também atuou apoiando a Polícia Federal do Brasil e da Bolívia no intercâmbio de informações de biometria, que foram extremamente necessárias e úteis para a correta identificação desse indivíduo. A Polícia Federal participa do Centro Biométrico da Interpol, um centro que conta com a participação de vários países do mundo, e que tem por objetivo realizar esse intercâmbio quase que em tempo real de informações biométricas, o que apoiou, então, na identificação do criminoso”
Cooperação
Lewandowski também ressaltou o papel do Ministério Público de São Paulo no início das investigações e defendeu a integração entre sistemas de segurança locais, estaduais e federais — bandeira que, segundo ele, será consolidada com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, atualmente em tramitação no Congresso Nacional.
“Isso revela o entrosamento das forças locais de segurança que se integram no sistema judiciário com as forças locais. É justamente aquilo que nós almejamos com a PEC da Segurança que está tramitando no Congresso Nacional”
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo, Tuta é considerado uma figura estratégica dentro da estrutura do PCC. Após a prisão de Marcola, em 2019, ele teria assumido a liderança da facção e passou a atuar diretamente na movimentação financeira do grupo, além de estar envolvido em tentativas de resgate e planejamento de atentados.
Conhecido também pelos codinomes “Angola”, “Africano” e “Gringo”, Tuta tem um histórico criminal que inclui condenações por latrocínio, roubo, falsificação e corrupção ativa. Foi preso pela primeira vez em 2006 e, após ser solto em 2014 por progressão de pena, voltou a atuar no crime por meio de um esquema de lavagem de dinheiro com uso de “laranjas”.