
Milhares de pessoas e autoridades prestaram homenagem ao ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica durante velório realizado nesta quarta (14) e quinta-feira (15), no Salão dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo, em Montevidéu. O jornal El País estima que cerca de 100 mil pessoas compareceram à cerimônia.
No primeiro dia de despedida, os cantores Mario Carrero, Eduardo Larbanois e Numa Moraes entoaram o tradicional “A don José”, de Rubén Lena, acompanhados pelo público que se aglomerava em frente às escadarias do Legislativo.
Ao som de “olé, olé, olé, Pepe, Pepe!”, a música uniu cidadãos de todas as idades em homenagem ao ex-governante.
Personalidades e líderes no velório
Em mensagem transmitida durante sua visita ao velório nesta quinta-feira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que “Pepe Mujica foi um ser humano superior” e destacou sua competência política e capacidade de palavra.

“Uma pessoa como Pepe não morre: seu corpo se vai, mas as ideias permanecem”, disse Lula, recordando a generosidade de Mujica, que após 14 anos de prisão não guardou rancor de seus torturadores e se tornou referência para gerações futuras.
As portas do Palácio Legislativo foram abertas às 10h desta quinta-feira para o segundo dia de despedida a José Mujica.
O ex-presidente uruguaio será cremado na sexta-feira (16), com cerimônia íntima em sua fazenda. Suas cinzas serão espalhadas ao lado da cadela Manuela, conforme sua vontade.
Entre as autoridades presentes estiveram o presidente uruguaio Yamandú Orsi, a vice-presidenta Carolina Cosse, o secretário da Presidência Alejandro Sánchez e a ex-vice Lucía Topolansky, que recebeu os pavilhões que acompanharam o caixão.
Chegaram também o presidente chileno Gabriel Boric, o governador de Buenos Aires, Argentina, Axel Kicillof, ex-presidentes Julio María Sanguinetti, Luis Lacalle Herrera e Luis Lacalle Pou, além de quarenta delegações diplomáticas, ministros, legisladores e representantes de organismos internacionais, todos se unindo ao luto nacional decretado por três dias.

Homenagem literária
O escritor e poeta Mauricio Rosencof, amigo de longa data de Mujica desde o período em que ambos estiveram presos, dedicou ao companheiro um poema marcado pela resistência e cumplicidade: “Se este fosse o meu último poema, insubmisso e triste, puído, mas inteiro, escreveria apenas uma palavra: companheiro”.
“y si este fuera mi último poema, insumiso y triste,
raído pero entero,
tan solo una palabra escribiría: compañero” pic.twitter.com/yzG5Nk9Be3— MPP 609 (@MPP609) May 15, 2025
Rosencof lembrou as bibliotecas improvisadas nos muros da cela, onde novelas e versos garantiam a comunicação e o espírito coletivo entre os detentos.
Mensagem do atual líder uruguaio
Em registro no livro de condolências, o presidente Orsi ressaltou a “permanente e insistente generosidade” de Mujica e falou sobre seu exemplo de empatia, simplicidade e austeridade.

As homenagens encerraram dois dias de velório, com recordações e música, reforçando a convicção de que Mujica ensinou, acima de tudo, que política pode ser um instrumento de união e respeito às diferenças.