Assassinatos invisíveis: 51 mil mortes sumiram das estatísticas

Estudo revela mais de 50 mil mortes não contabilizadas oficialmenteMaxim Hopman/Unsplash

Entre 2013 e 2023, o Atlas da Violência 2025 identificou 51.608 homicídios que não apareceram nos registros oficiais. Em média, foram quase 4.700 assassinatos deixados de fora das estatísticas todo ano.

A partir de 2018, o aumento dessas “mortes misteriosas” ficou mais evidente, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, o que aponta falhas crescentes no jeito de registrar casos de violência.

Para chegar a esses números, pesquisadores usaram algoritmos de aprendizado de máquina para rever casos apontados como mortes por causas indeterminadas, aquelas em que não ficou claro se houve intenção de matar, e descobriram que 8,6% delas, ou 135.407 ocorrências, eram de fato assassinatos.

Para separar o que era homicídio do que não era, o estudo considerou dados como idade, sexo, local e circunstâncias da morte.

Efeito na taxa de homicídios

Oficialmente, o Brasil registrou 598.399 homicídios em dez anos. Com as estimativas corrigidas, o total sobe para 650.007 casos.

Isso elevou a diferença entre a taxa real e a registrada de 1,8 para 2,6 mortes por 100 mil habitantes quando comparamos os períodos de 2013–2017 e 2018–2023.

Em 2023, a taxa estimada foi de 23,0 por 100 mil, mas, em São Paulo, por exemplo, o registro oficial apontou apenas 6,4, o cálculo real chega a 11,2 mortes por 100 mil, o que muda a posição do estado no ranking de violência.

Impactos nos estados

Depois que esses números vieram a público, 21 estados brasileiros passaram a revisar seus processos de investigação e classificação das mortes.

No Espírito Santo, por exemplo, os homicídios “escondidos” caíram de 205 em 2022 para apenas 7 em 2023.

O estado conseguiu isso unindo dados da saúde, da segurança pública e do planejamento.

Além do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia também reforçaram a checagem dos casos.

Em São Paulo, mesmo com 2.277 homicídios não registrados em 2023, houve investimento em treinamento de peritos para identificar corretamente a intenção nas mortes violentas.

Atlas da Violência

Atlas da Violência é um relatório anual produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) que analisa dados sobre violência no país, com foco em grupos vulneráveis e tendências regionais.

Para identificar os homicídios ocultos, os pesquisadores utilizaram modelos de machine learning, tecnologia que analisa padrões em grandes volumes de dados.

Eles cruzaram informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, considerando características das vítimas, como idade, sexo, local da morte, e circunstâncias dos crimes.

A edição de 2025, recém-divulgada, traz um retrato detalhado de homicídios, violência contra mulheres, negros, população LGBTQIAPN+, indígenas, idosos e outros grupos, além de temas como armas de fogo, drogas e acidentes de trânsito.

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