
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, nesta terça-feira (6), a suspensão imediata dos bombardeios contra o grupo rebelde Houthi no Iêmen. A declaração foi feita durante reunião no Salão Oval com o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney.
Trump justificou a decisão alegando que os Houthis teriam demonstrado intenção de cessar os ataques a embarcações comerciais e militares no Mar Vermelho e no Golfo de Áden.
“Os Houthis anunciaram que não querem mais lutar. Eles simplesmente não querem lutar, e nós honraremos isso e interromperemos os bombardeios. Eles capitularam, mas, mais importante, aceitaremos a palavra deles”, afirmou.
O presidente dos EUA não apresentou evidências da comunicação mencionada, limitando-se a dizer que recebeu a informação de uma “fonte muito boa”. A declaração foi feita de maneira pública, sem detalhamento de interlocutores ou canais diplomáticos.
Desde novembro de 2023, os Houthis, grupo armado baseado no Iêmen e apoiado pelo Irã, têm atacado embarcações no Mar Vermelho como forma de apoio à população palestina durante o conflito entre Israel e Hamas.
Em resposta, os Estados Unidos iniciaram bombardeios aéreos a partir de janeiro de 2024, intensificados a partir de 15 de março deste ano, quando Trump assumiu novamente a presidência. A operação foi denominada Rough Rider.
Segundo dados do Departamento de Defesa, mais de 800 ataques aéreos foram realizados desde março, atingindo alvos como sistemas de defesa aérea, fábricas de armas e portos controlados pelos Houthis.
Estimativas da Comissão de Orçamento do Congresso indicam que a operação custou mais de 1 bilhão de dólares.
Um dos ataques com maior número de mortes ocorreu em 17 de abril, no porto de Ras Isa, matando ao menos 74 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde vinculado aos Houthis.
O grupo rebelde negou que tenha capitulado ou estabelecido qualquer acordo com os EUA.
Em entrevista à emissora Al-Mayadeen, Deifullah al-Shami, integrante do bureau político dos Houthis, declarou que a decisão de Trump representa uma tentativa de “salvar a face” após a campanha militar americana não ter impedido novos ataques.
Al-Shami afirmou que os Houthis continuam com capacidade de combate e citaram o abatimento de drones americanos, incluindo modelos MQ-9 Predator.
As ações militares afetaram diretamente o fluxo de comércio no Mar Vermelho, por onde transita cerca de 12% do comércio marítimo global.
A suspensão das hostilidades pode reduzir o impacto nas cadeias logísticas internacionais, embora o grupo rebelde ainda não tenha confirmado o fim dos ataques às rotas comerciais.
Israel e o bombardeio

Durante o mesmo período, Israel intensificou bombardeios contra alvos dos Houthis no Iêmen.
Entre ontem e hoje, a Força Aérea israelense atingiu o porto de Hodeida e o aeroporto de Sanaa, em retaliação ao lançamento de um míssil que atingiu o Aeroporto Ben-Gurion, no último domingo (4).
Trump não comentou os ataques aos interesses israelenses e restringiu sua fala à questão naval.
A decisão de suspender a operação ocorre em meio a críticas sobre os impactos humanitários dos bombardeios.
Organizações internacionais relataram dificuldades na chegada de suprimentos ao Iêmen após ataques a portos, refinarias e centros de distribuição. Cerca de 70% das importações do país entram por zonas controladas pelos Houthis.
A condução da campanha também foi alvo de controvérsia após a revista The Atlantic noticiar que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, compartilhou inadvertidamente planos de ataque em um grupo de mensagens no aplicativo Signal que incluía um jornalista da publicação.
Até o momento, o Departamento de Estado não divulgou informações adicionais sobre eventual acordo ou mediação com os Houthis. O Irã, aliado do grupo rebelde, não se pronunciou oficialmente sobre a suspensão dos ataques aéreos por parte dos Estados Unidos.