Após 4 horas de reunião, Conselho da UFSC adia decisão sobre mudança do nome do Campus Trindade

Campus Trindade, o principal da UFSC, leva o nome de João David Ferreira Lima, ex-reitor acusado de colaborar com a ditadura militar - Foto: Reprodução/ND

Campus Trindade, o principal da UFSC, leva o nome de João David Ferreira Lima, ex-reitor acusado de colaborar com a ditadura militar – Foto: Reprodução/ND

Na tarde desta terça-feira (29), o auditório da reitoria da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) foi palco de mais de quatro horas de longas discussões sobre o nome do Campus Trindade, em Florianópolis, que homenageia o ex-reitor João David Ferreira Lima. Entre os que apoiam a mudança de nome e os que defendem a manutenção, não houve uma definição.

A reunião iniciou por volta das 14h e, às 18h33, o reitor Irineu Manoel de Souza declarou a sessão encerrada, seguindo pedidos de conselheiros. A nova data será na próxima terça-feira (6/5), também às 14h. Três pessoas ainda estavam inscritas para falar, entre elas um familiar do ex-reitor, que farão suas falas na próxima sessão.

Mudança no nome do Campus Trindade começou a ser discutida em 2018 após relatório da Comissão da Verdade

As discussões começaram após a Comissão da Memória e Verdade da UFSC apontar, em 2018, que João David Ferreira Lima – primeiro reitor da Universidade cujo mandato durou entre 1962 e 1972 – teria colaborado com a ditadura militar do país, denunciando e perseguindo estudantes, professores e servidores que se opunham ao governo da época.

Após apresentar do relatório, a Comissão sugeriu que o nome do ex-reitor fosse retirado de quaisquer homenagens feitas pela UFSC, incluindo o nome do Campus Trindade e a estátua presente na Praça da Cidadania.

Em 2022, a advogada da família do ex-reitor, Heloisa Blasi Rodrigues, entrou com um pedido de contestação das medidas sugeridas e, em 2023, foi criada uma comissão dentro do CUn responsável por avaliar os encaminhamentos. Nesta quinta, o parecer desta comissão, elaborada pelo professor da UFSC e relator do processo, Ubirajara Franco Moreno, foi apresentada ao público pela primeira vez.

João David Ferreira Lima, que dá nome ao Campus Trindade, foi reitor da UFSC por dez anos - Foto: UFSC/Reprodução/ND

João David Ferreira Lima, que dá nome ao Campus Trindade, foi reitor da UFSC por dez anos – Foto: UFSC/Reprodução/ND

Reunião do Conselho Universitário durou mais de 4 horas, mas terminou sem definição sobre o nome do Campus Trindade

A sessão teve seu início atrasado por conta de uma manifestação de estudantes, que pediam que a reunião fosse aberta. Inicialmente, ela seria feita apenas entre os conselheiros, dentro da sala do CUn (Conselho Universitário).

Após a manifestação, os conselheiros votaram para abrir a sessão, transferindo os trabalhos para o auditório da reitoria, que já estava lotado, incluindo estudantes com placas contendo fotos de pessoas perseguidas durante a ditadura militar.

Auditório da reitoria da UFSC, no Campus Trindade, esteve lotado para presenciar a sessão - Stefani Ceolla/ND

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Auditório da reitoria da UFSC, no Campus Trindade, esteve lotado para presenciar a sessão – Stefani Ceolla/ND

Sessão iniciou com atraso por conta da manifestação de estudantes - Stefani Ceolla/ND

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Sessão iniciou com atraso por conta da manifestação de estudantes – Stefani Ceolla/ND

Em seu parecer, Moreno se manifestou contrário ao pedido de impugnação do relatório, feito por Rodrigues, considerando que o material possui caráter histórico e memorialístico, e não há embasamento quanto ao mérito da solicitação.

O relator considerou que o CUn não possui uma legislação específica para mudança de nome de campi e se crie um dispositivo jurídico para realizar a revogação do nome atual do Campus Trindade.

A advogada da família Ferreira Lima se pronunciou durante a sessão e questionou a legalidade dos processos que, segundo ela, aconteceram sem respeitar princípios da defesa ampla. Ela repetiu os argumentos apresentados no pedido de impugnação feito em 2022, questionando a composição da comissão contar com integrantes que não são conselheiros e a participação de membros que também fizeram parte da Comissão Memória e Verdade.

Rodrigues também ressaltou que o trabalho realizado pela Comissão Memória e Verdade apresentou uma visão enviesada e unilateral dos fatos, privilegiando determinados relatos e ignorando outros. A família do ex-reitor entende que o objetivo seria apagar a memória do ex-reitor no processo de criação da UFSC.

Sessão irá continuar na próxima semana

Com as discussões durando a tarde inteira, os conselheiros entenderam que não haveria uma decisão a ser tomada ainda na sessão. Ainda, apontaram para trechos do parecer de Moreno que precisam ser revisados.

O relator concordou com os apontamentos e afirmou que fará alterações no parecer, que serão discutidas na próxima reunião, que também ocorrerá no Campus Trindade. O local específico ainda não foi confirmado.

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