
Os 60 homens encapuzados marcam as seis décadas ininterruptas da encenação, que foi feita pela primeira vez no século 18. A Procissão do Fogaréu recria pelas ruas da cidade de Goiás os últimos momentos de Jesus antes da crucificação
Jornal Nacional
Em Goiás, a Procissão do Fogaréu reúne uma multidão.
É uma tradição organizada pelos próprios moradores. Vem passando de geração em geração. E, desta vez, depois de 41 anos, o João Conceição da Silva decidiu se despedir do papel de Farricoco, como são chamados os homens de túnicas coloridas e capuzes.
“Emoção do povo, no que a gente vai passando. Na procissão, o povo gritando, chorando, batendo palma. Isso toca na gente”, conta João.
Personagens da Procissão do Fogaréu representam os soldados romanos à procura de Jesus. No centro histórico da antiga capital de Goiás, patrimônio mundial, as luzes são apagadas. Só tochas iluminam as ruas e becos. O caminho é difícil porque os soldados sobem e descem ladeiras descalços, pelo chão de pedra.
A Procissão do Fogaréu recria pelas ruas da cidade de Goiás os últimos momentos de Jesus antes da crucificação. Em frente da Igreja do Rosário, uma das mais importantes igrejas da cidade, acontece a Última Ceia. Os fiéis acompanham cantos em latim e o único diálogo da encenação. Neste momento, os passos são mais firmes e rápidos. A multidão se esforça para acompanhar. Nem que seja para ver por alguns segundos.
“É inexplicável. Coisa de cinema!”, diz um casal.
“Muito bacana, muito gostoso assistir isso aqui. É uma tradição”, afirma um senhor.
Os 60 homens encapuzados marcam as seis décadas ininterruptas da encenação, que foi feita pela primeira vez no século 18. Do alto da Igreja de São Francisco, que representa o Monte das Oliveiras, o som do clarim anuncia a prisão de Jesus. Ele surge pintado em um estandarte, diante de 40 mil pessoas.
“Com 71 anos, pela primeira vez, é uma emoção indescritível, maravilhoso. Toca o coração, dá uma reflexão. Não é só estar aqui, é perceber o que significou esse momento e o que vai significar na minha vida daqui para frente”, diz a advogada Carmencita Balestri.
LEIA TAMBÉM
Procissão do Fogaréu celebra 280 anos com 60 farricocos e milhares de visitantes em Goiás