A árvore da paz: oliveira é símbolo sagrado que atravessa a fé, a história e a natureza


Símbolo de paz, esperança e resistência, a oliveira atravessa milênios de história e renova seu significado durante a Semana Santa. Oliveira é árvore símbolo de paz e esperança
Mariann Lipcsei/iNaturalist
Do Monte das Oliveiras, onde Jesus orou antes de ser crucificado, às plantações que cobrem o Mediterrâneo há milênios, a oliveira carrega séculos de história entre seus ramos. Símbolo de paz e esperança, seus frutos já iluminaram casas, curaram feridas e até ungiram reis. Na Semana Santa, sua presença ganha ainda mais significado. Mas o que há por trás de toda a simbologia desta resistente árvore?
De nome científico Olea europaea, a oliveira tem uma origem envolta em mitos, tradições e registros históricos. Segundo Carolina Ferreira, doutora em Botânica pela USP Ribeirão Preto, sua origem exata ainda é tema de debate, mas muitos autores concordam que ela surgiu em uma região que se estende do sul do Cáucaso até a Síria, passando pelos países banhados pelo Mediterrâneo.
Trata-se de uma das espécies cultivadas há mais tempo pela humanidade — com registros que remontam a até 6.000 anos antes de Cristo, mas que no Brasil foram introduzidas por volta de 1800.
Curiosamente, segundo relatos de especialistas, muitas das primeiras mudas foram plantadas próximas à igrejas, por conta da celebração do Domingo de Ramos. No entanto, por ordem da realeza portuguesa, essas plantações iniciais foram cortadas para evitar que o Brasil se tornasse um concorrente na produção de azeite.
O ramo da oliveira simbola paz, vitória, fertilidade, sabedoria, prosperidade, saúde, sorte, estabilidade e tranquilidade
Mariann Lipcsei/iNaturalist
Atualmente, existem centenas de variedades de oliveiras espalhadas pelo mundo, cada uma com suas próprias características. Algumas com troncos mais grossos, folhas mais alongadas ou frutos com formatos e teores de gordura variados. Entre as mais conhecidas, estão a Arbequina, a Arbosana e a Koroneiki, muito utilizadas na produção de azeites finos.
Mas o ciclo da oliveira exige paciência e condições específicas. De acordo com a especialista, a oliveira teve origem em regiões de clima mediterrâneo, com inverno rigoroso e verão quente e seco, sendo justamente as baixas temperaturas que estimulam a formação das inflorescências, condição essencial para a frutificação.
Os frutos da oliveira — as famosas azeitonas — são amplamente conhecidos por sua transformação em azeite, mas seu uso na antiguidade ia muito além da gastronomia. Esse valor multifuncional, unido à resistência da planta, ajudou a construir o status simbólico da espécie ao longo dos séculos.
“Alguns trabalhos relatam que o óleo era também utilizado na antiguidade para iluminação; como bálsamo após o banho; como unguento no tratamento de feridos e misturados com outros ingredientes para tratamentos de beleza e cabelo. Eram utilizados também como combustível nas piras funerárias”, explica Carolina.
Baixas temperaturas são necessárias para a frutificação da espécie
Sujan Henk/iNaturalist
“Árvore da paz”
A oliveira é uma árvore considerada sagrada e que simboliza a paz, a fertilidade, a esperança, a renovação, a abundância e a purificação. Por isso, sua presença em textos sagrados e em outras tradições religiosas não é coincidência.
O azeite obtido dos seus frutos é considerado um ingrediente sagrado nas 3 principais religiões monoteístas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo, com diversas citações sobre ele na Bíblia, Torá e Alcorão.
Na Bíblia, na passagem de Lucas 22:39-46, o Monte das Oliveiras é citado como o lugar onde Jesus se retirou para orar antes de ser capturado. E não para por aí: a planta também aparece também em Gênesis 8:11, quando Noé percebe que as águas do dilúvio tinham diminuído quando uma pomba voltou com uma folha de oliveira no bico.
“O ramo de oliveira também representava um símbolo de paz na Grécia; já que se acreditava que os ramos afastavam os maus espíritos e representavam abundância. Uma outra referência a esta planta é a nomeação da cidade de Atenas pelo seu povo em agradecimento à Deusa Atenas que havia presenteado os cidadãos daquela cidade com uma oliveira”, diz a botânica.
O ramo de oliveira está presente em muitas culturas do Mediterrâneo e é associado à paz no mundo moderno
Duarte Frade/iNaturalist
Além disso, segundo Carolina, ramos de oliveira já foram utilizados também como símbolo de poder e sabedoria por reis e imperadores. No início dos Jogos Olímpicos (776 a.C.), os atletas vencedores eram premiados com coroas feitas de ramos de oliveira, chamadas “kótinos”.
Não à toa, a oliveira é também um símbolo institucional da paz. Seus ramos estão representados na bandeira da ONU, e a UNESCO decretou o dia 26 de novembro como o Dia Internacional da Oliveira, para valorizar sua herança cultural e natural.
Hoje, a Olea europaea é cultivada em diversas partes do mundo, mas continua sendo, para muitos, mais do que uma árvore. Ela é um elo entre passado e presente, entre a terra e o sagrado. Em tempos como a Semana Santa, seu significado se renova, convidando à reflexão sobre fé, resiliência e a beleza das raízes que “insistem” em florescer.
*Texto sob supervisão de Lizzy Arruda
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