
Daniel Gonçalves, é morador de Juiz de Fora, e quer levar informação e empatia sobre o Transtorno do Espectro Autista a mais pessoas. Daniel Gonçalves se veste de Capitão América para levar levar informação e empatia sobre o Transtorno do Espectro Autista a escolas e ações sociais
Arquivo Pessoal
Nas histórias em quadrinhos, o Capitão América enfrenta vilões para salvar o mundo. Na vida real, Daniel Gonçalves, de 45 anos, veste a mesma fantasia, porém, com um propósito diferente: levar informação e empatia sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A motivação veio com o diagnóstico do filho, que tem TEA grau 3 – quando se tem maior necessidade de apoio – e o dele próprio, que ao se ver cada vez mais no menino, descobriu que também é autista.
“Essa carência é evidente em Juiz de Fora. Muitas famílias enfrentam dificuldades para acessar as informações necessárias”, afirma.
Benício Faria Moreira Gonçalves, hoje com 8 anos, foi diagnosticado com autismo aos 5 anos. Desde então, Daniel decidiu vestir a fantasia de Capitão América, para visitar escolas, hospitais e praças públicas, sempre promovendo a inclusão.
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O trabalho voluntário se transformou em uma verdadeira história de super-herói para as crianças, mães, pais e para a sociedade. Ele também destaca a ligação especial que compartilha com as crianças.
“Como Capitão América, os pequenos me veem usando o cordão de girassol [símbolo que representa pessoas com autismo e outras deficiências ocultas], e se sentem representados. Eles dizem: ‘Olha, ele usa o mesmo cordão que eu!'”, contou, emocionado.
Sinais e a busca do diagnóstico
A família reunida
Arquivo Pessoal
Segundo Daniel, a família ficou em alerta quando percebeu que Benício não fazia contato visual e começou a perder habilidades que já tinha desenvolvido até os dois anos.
A mãe de Benício, Isabela Faria, advogada de 42 anos, também notou outros sinais, como o desinteresse em brincar com outras crianças, sensibilidade auditiva e movimentos repetitivos com as mãos, conhecidos como ‘flapping’ — uma forma de autoestimulação usada para regular emoções ou sensações como excitação ou ansiedade
Em busca do diagnóstico, a família teve conhecimento de uma médica especializada que atendia em Itaipava (RJ) e após 6 meses de espera pela consulta, tiveram a confirmação.
“Tivemos um certo alívio, pois nos deu um certo caminho. Mas é claro que também foi assustador, já que o mundo do TEA é complexo e surgiram dúvidas sobre o que fazer dali em diante. O que nos preocupa até hoje não é o autismo em si, mas sim as estratégias de tratamento, considerando os comportamentos e habilidades que ele tem e os que ainda precisa desenvolver.”
Em casa, os pais reforçam que paciência, tranquilidade e amor são essenciais para lidar com os desafios diários.
“Celebramos cada conquista, por menor que seja, como quando ele conseguiu levar a colher até a boca. Sempre acreditamos no Benício e no potencial dele, nunca o escondemos do mundo”, conclui Daniel.
O autismo no pai
Já o diagnóstico de Daniel, que é autista grau 1, veio na idade adulta. De acordo com ele, desde mais novo lida com mudanças de humor, seletividade alimentar e dificuldades de estudo. Com o tempo, começou a perceber que alguns dos comportamentos do filho eram parecidos com os dele.
A busca pelo diagnóstico, no entanto, não foi fácil. Ele também teve que sair de Juiz de Fora e procurar especialistas em outra cidade, já que o atendimento para adultos com autismo é escasso.
“Quanto maior o contato dessa nova geração e de todas as outras com informações sobre inclusão, melhor”, ressaltou.
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‘A inclusão precisa ser o ano inteiro’
Durante a entrevista, a família ressaltou que a rotina é desafiadora e não deve ser romantizada, daí a importância de falar sobre inclusão e colocá-la em prática diariamente.
“Não é sempre fácil e é por isso que precisamos de grupos de apoio, para compartilhar as frustrações. É necessário ter secretarias de educação que promovam a inclusão e centros de apoio para acolher as famílias. As pessoas precisam entender os desafios diários que enfrentamos”, afirma.
Ele também destaca a falta de recursos essenciais, como centros de terapia, campanhas de conscientização e escolas inclusivas.
Pai se veste de super-herói para levar informação e acolher famílias atípicas
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