
Para o diretor-executivo do Brasil no FMI, medidas abrem uma possibilidade comercial imensa para a China. A revista britânica “The Economist” defende ainda que medidas criam oportunidades para redesenhar o mapa geopolítico da Ásia. EUA x China: quem pode se sair melhor?
GloboNews
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez questão de desencadear insegurança nos mercados globais após uma enxurrada de tarifas comerciais impostas a mais de 180 países.
Enquanto os líderes mundiais analisam respostas ao republicano e as bolsas mundiais derretem, a China tenta mostrar ao mundo a confiança no crescimento do país, projetando a imagem de um país estável e pacífico.
Pequim reagiu com força às novas tarifas comerciais impostas pelo republicano, e alertou os EUA que está pronta para lutar em “qualquer tipo” de guerra. Analistas observam que o momento pode ser propício para beneficiar os chineses, se conseguirem se aproveitar da lacuna deixada por Washington.
Para o diretor-executivo do Brasil no FMI, André Roncaglia, as medidas recentes de Trump abrem uma grande oportunidade para a China avançar no comércio exterior, e consolidar seu poder comercial, econômico e financeiro na Ásia.
“Alguns países podem sofrer tremendamente até que consigam entrar no processo de negociação. […] É como se você estivesse na entrada de um shopping e, agora, os EUA colocaram uma catraca. Então você tem que pagar para entrar para poder se beneficiar daquele comércio”, defende.
Segundo Roncaglia, é possível que existam agora duas regiões polares que convidem o resto do mundo a negociar com elas, e algumas áreas devem receber mais atenção de Pequim.
“Onde acho que a China tem muito poder de avançar é na área tecnológica. A direção que aponta a gestão Trump é de uma deterioração nas condições da produção de conhecimento científico no país”, afirmou.
Roncaglia, no entanto, vê limites para o alcance da China. “Acho mais difícil que ela avance aqui no hemisfério Ocidental, porque o desenho que a administração Trump vem fazendo cria um polo com forte poder de atração, para que os países da região orbitem em torno dele”, afirmou.
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A revista britânica “The Economist” também traz uma perspectiva positiva para a China. A capa da publicação desta semana traz o famoso boné MAGA, marca da política de Trump, com a inscrição “Make China great again” (“Faça a China grande de novo”, em tradução para o português).
No editorial, a revista descreve como os americanos “poderiam acabar fazendo a China grande de novo” e chama o momento de “uma bela grande oportunidade”.
“O MAGA está pressionando os líderes da China para corrigir seus piores erros econômicos. Também está criando oportunidades para redesenhar o mapa geopolítico da Ásia em favor da China”, escreve.
O texto lembra que as exportações ainda representam cerca de 20% do PIB da China, como em 2017, o que prejudicará a economia do país — situação agravada pela tática de Pequim de redirecionar as cadeias de fabricação de empresas para países como o Vietnã, fortemente taxado por Trump.
Mas, apesar da deflação, crise imobiliária e consumo fraco, o editorial defende que a China entra na nova era MAGA mais forte do que no primeiro mandato de Trump.
“Xi [Jinping] vem se preparando para o mundo caótico de hoje desde que se tornou líder da China, em 2012. Ele pediu autossuficiência econômica e tecnológica. A China reduziu sua vulnerabilidade aos estrangulamentos americanos, como sanções e controles de exportação.”
Um exemplo é o DeepSeek, que demonstrou a capacidade do país de inovar mesmo diante dos embargos de semicondutores dos EUA. “Xi não tem intenção de preencher o vazio deixado pelo Tio Sam, mas ele tem a chance de expandir a influência da China, especialmente no sul global”, afirma o texto.
Capa da revista “The Economist”
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