
Casa Fazenda São Pedro foi fundada em 1911. O local resistiu ao desenvolvimento de Fernandópolis, no interior de São Paulo, e preserva hábitos e tradições de um passado que nunca foi esquecido. Imóvel com mais de um século mantém características originais em Fernandópolis (SP)
Uma casa, construída por volta de 1911, resiste ao tempo e carrega um pedaço da história. Localizado na área rural de Fernandópolis, interior de São Paulo, o imóvel mantém sua estrutura original, mesmo após mais de um século. Em meio à natureza e aos animais, a fazenda se tornou um ponto turístico nos últimos anos.
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Com mais de um século, imóvel de Fernandópolis mantém características originais
Arquivo pessoal
De madeira, erguida sem pregos, com encaixes precisos que sustentam as paredes e o telhado, a casa preserva não apenas sua arquitetura, mas também as memórias de uma época em que a cidade ainda era mata fechada e sequer existia.
A fazenda São Pedro entrou para a história da família em 1917, quando o imigrante italiano Afonso Cáfaro, um dos fundadores de Fernandópolis, adquiriu a propriedade. Produtor e comerciante de café, ele tinha acabado de perder tudo na recessão da década de 1920 e encontrou ali a chance de recomeçar.
Em entrevista ao g1, Humberto Cáfaro Filho, de 63 anos, neto do pioneiro e atual administrador do local, explicou que, à época, ao comprar a área, seu avô recebeu o primeiro documento de aquisição de terra registrado em cartório na região.
“Naquele tempo, não havia estradas, apenas trilhas. Ele [Afonso] viajava a cavalo e dormia na Casa Fazenda São Pedro antes de seguir para a cidade”, conta Humberto.
Dentro da casa, além das características originais, há informações sobre o fundador.
Arquivo pessoal
Com o tempo, a casa passou a abrigar funcionários da fazenda e fez parte do dia a dia das primeiras famílias que se estabeleceram no noroeste de SP. Segundo Humberto, uma das primeiras moradoras sabia escrever, habilidade rara naquele tempo, e ensinava as crianças dali, fazendo do imóvel uma espécie de escola informal.
Um século de história
Manter uma construção centenária exige carinho, amor e muito cuidado. Em 2017, a casa foi desconstruída e refeita em outro ponto do terreno para protegê-la de incêndios e da ação do tempo. Algumas adaptações foram necessárias, como a instalação de energia elétrica, mas a base, a estrutura e os itens de uso doméstico continuam praticamente os mesmos.
“As madeiras eram lavradas à mão, encaixadas sem pregos. As vigas inferiores foram feitas de modo que a própria estrutura da casa se firmasse com o peso do telhado. Hoje, isso seria praticamente impossível de reproduzir”, explica Humberto.
São feitas manutenções periodicamente para a preservação do imóvel.
Arquivo pessoal
Além do desgaste natural, há o desafio da manutenção. “Não existem mais fabricantes de telhas feitas manualmente como antes. A madeira precisa ser protegida com cuidados específicos. Pequenos detalhes do dia a dia, que antes eram comuns, hoje são difíceis de manter”, diz Cafáro Filho.
Contato com a natureza
Para quem visita a Casa Fazenda São Pedro, a sensação é de um mergulho no tempo. O treinador de cavalos Antônio dos Santos se impressionou com a estrutura.
“A casa foi toda construída sem pregos, com encaixes perfeitos. É uma verdadeira obra de arte, um pedaço vivo da história”, relata.
Já a advogada Ana Lúcia Cotrim Gomes de Albuquerque destaca a atmosfera do lugar: “A sensação de estar ali é de paz, de conexão com o passado”.
Com a preservação do imóvel, outros hábitos e tradições são desenvolvidos até hoje no local, como a equitação. A propriedade abriga uma hípica onde alunos de diferentes idades aprendem a montar e a lidar com os cavalos de forma segura e consciente.
À reportagem, Juliana Cáfaro, de 33 anos, que administra o espaço junto com outros representantes da família, contou que o contato com os animais vai além do esporte. “O cavalo aproxima as pessoas da natureza e de si mesmas. Ele desperta o melhor de quem o trata com respeito”, explica. Assista o vídeo abaixo.
A empresária Ana Carneiro Junqueira Mota também sente esse vínculo especial com o local e, além de já ter realizado eventos da família ali, faz questão que sua filha Maju Junqueira Mota, de 3 anos, tenha contato com a natureza e com os animais.
“O contato com os cavalos é rico demais, é excepcional. Minha filha faz aulas lá e só de eu estar junto com ela, me acalma muito”, conta.
A pequena Maju, de apenas 3 anos, tem aulas regulares há mais de 1 ano.
Arquivo pessoal
O imóvel também guarda histórias inusitadas. Em um dos episódios considerados memoráveis pela família, um retireiro que ordenhava as vacas e correu para dentro da casa fugindo de um animal enfurecido, mas a vaca invadiu o local, causando um verdadeiro alvoroço. Foi depois desse incidente que a disposição das portas foi alterada.
Essas pequenas narrativas, passadas de geração em geração, são parte do que torna a fazenda um exemplo importante para a história do interior paulista. Para Humberto Cáfaro Filho, a missão de preservar o lugar vai além do valor sentimental.
“Muitas pessoas se emocionam ao entrar na casa, lembrando de suas próprias infâncias no campo. Nossa responsabilidade é manter esse elo com o passado para que ele não se perca”, destaca.
Aos finais de semana, a casa receber turistas de cidades próximas. Os visitantes pagam uma taxa para passar algumas horas no local e podem conhecer a fazenda, fazer piquenique na área externa, ter acesso aos animais e inclusive andar a cavalo.
* Colaborou sob supervisão de Henrique Souza
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