
Mobilização dos Munduruku começou na última terça-feira, 25. A ação deste sábado (29) não deixou feridos. Caminhoneiro alegou que o freio do veículo parou de funcionar. Momento em que carreta arrasta troncos que bloqueavam trecho da BR-230, no interior do Pará.
Frank Akay Munduruku
Um caminhão arrastou o bloqueio montado pelos indígenas Munduruku na BR-230, em Itaituba, no sudoeste do Pará, neste sábado (29). Não houve feridos.
Lideranças e representantes da manifestação, que ocorre desde a última terça-feira (25), filmaram o momento em que o veículo passa pelo trecho interditado de forma lenta e arrasta os troncos de madeira colocados no local.
De acordo com a equipe da PRF que está no local, o caminhão apresentou “falhas no sistema de freio”. Os agentes informaram que o caminhoneiro ultrapassou o primeiro bloqueio na rodovia, mas conseguiu parar antes de atingir o segundo ponto de retenção e não seguiu viagem.
O bloqueio foi retomado às 10h pelos indígenas, como ordena a Justiça, que solicitou a interdição no trecho em horários específicos ao longo do dia para minimizar os impactos no fluxo rodoviário.
Indígenas recolocaram os troncos de madeira após carreta passar pelo bloqueio no Pará.
Coletivo Indígenas Kirinbawaita
Esta foi ao menos a terceira vez que caminhoneiros furaram o bloqueio. Na quinta (27), alguns deles atiraram contra os manifestantes. Ninguém ficou ferido.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os agentes não estavam no local durante os ataques de quinta (27), porque a via tinha sido liberada às 18h daquele dia. Os indígenas continuaram às margens da rodovia, em acampamento.
Como ocorreram os ataques, segundo os indígenas:
às 18h de quinta (27) a via foi liberada, e os agentes deixaram o local;
duas horas depois, às 20h, ocorreu o primeiro ataque. Um caminhoneiro efetuou três disparos contra o acampamento
e às 21h, ocorreu o segundo ataque. Um outro caminhoneiro atirou uma vez contra os manifestantes.
Já na manhã, às 6h, os indígenas voltaram a interditar a pista e carretas furaram o bloqueio. Os veículos passaram pelas barricadas e destruíram parte dos equipamentos usados para alimentação e abrigo.
Indígenas denunciam ações de caminhoneiros durante bloqueio da BR-230, no Pará
Os relatos foram repassados ao Ministério Público Federal (MPF), que acompanha o caso. Uma audiência de conciliação foi marcada pela Justiça para o dia três de abril entre os manifestantes e a concessionária da rodovia, que entrou com um pedido judicial para a desobstrução da pista.
A PRF foi novamente acionada para o local da manifestação. Segundo a corporação, não há rota alternativa viável por causa das fortes chuvas na região.
Sobre os ataques e o furo do bloqueio na pista, o g1 questionou a Secretaria de Segurança Pública (Segup) se haverá investigação pela Polícia do Pará, mas ainda não obteve resposta.
Manifestação contra o Marco Temporal
A mobilização dos Munduruku começou na última terça-feira (25), no km 1104 da BR-230. Neste trecho há uma sobreposição com a BR-163.
Eles pedem a revogação da Lei 14.701/2023, que trata do reconhecimento, da demarcação, do uso e gestão das terras indígenas.
A lei estabelece que os povos indígenas só têm direito às terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Há, também, em algumas disposições da Lei 14.701, uma fragilização do direito de consulta aos povos indígenas.
“O protesto é pacífico e inclui mulheres, gestantes, idosos e crianças. Os manifestantes relatam terem sido ameaçados e agredidos por motoristas, sem intervenção das forças de segurança”, apontou o Ministério Público Federal (MPF).
MPF recorre contra reintegração
O Ministério Público Federal (MPF) divulgou nesta sexta-feira (28) que recorreu contra a decisão judicial que determinou a reintegração de posse da BR-230. O MPF argumentou que a decisão não considera a necessidade de um “diálogo interétnico e intercultural previsto em resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”.
A instituição indicou, também, que poder haver repressão ou violência contra os manifestantes indígenas, já que a decisão autoriza o uso de força policial, ainda que contida.
O MPF disse que está em contato permanente com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para cobrar que sejam tomadas todas as medidas possíveis para evitar agressões e violências.
Caminhoneiro furou o bloqueio na madrugada desta sexta-feira (28).
Reprodução / Redes sociais
Trecho da BR-330 onde ocorre a interdição.
Frank Akay Munduruku
Indígenas pedem pela revogação do chamado ‘Marco Temporal’.
Frank Akay Munduruku
VÍDEOS com as principais notícias do Pará
Confira outras notícias do estado no g1 Pará.