
Angelos Tzortzinis
Centenas de milhares de pessoas se manifestaram novamente em Istambul neste sábado (29) para denunciar a prisão de Ekrem Imamoglu, prefeito da cidade e um dos principais opositores do presidente da Turquia.
A multidão, com menos jovens do que em manifestações anteriores, se reuniu ao meio-dia no lado asiático de Istambul “para continuar a marcha ao poder”, de acordo com o apelo do líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Özgür Özel.
Özel disse aos manifestantes que havia cerca de 2,2 milhões de pessoas na manifestação. A AFP não conseguiu confirmar esses números de forma independente até o momento.
Entre os manifestantes, que gritavam “A resistência está em toda parte!”, estavam a esposa, a mãe e os dois filhos de Ekrem Imamoglu, membro do CHP.
Desde o início da manhã, balsas fretadas pelo partido para cruzar o Estreito de Bósforo em Istambul começaram a levar os manifestantes, muitos carregando a bandeira turca e retratos de Mustafa Kemal Ataturk, considerado o pai da nação turca.
A prisão de Imamoglu em 19 de março desencadeou uma onda de protestos em todo o país, com dezenas de milhares de manifestantes indo às ruas todas as noites.
Desde a última segunda-feira, não houve manifestações em frente à Prefeitura de Istambul, mas Ögür Özel anunciou que haverá protestos “todos os sábados em uma cidade da Turquia” e nas noites de quarta-feira em Istambul, em entrevista ao jornal francês Le Monde.
“Acreditamos que as prisões diminuirão a partir de agora”, disse.
As manifestações foram proibidas pelas autoridades, mas o líder do CHP diz que está pronto para “arriscar passar oito ou dez anos na prisão, se necessário, porque se não repelirmos essa tentativa de golpe, as urnas vão acabar”.
– Centenas de detenções –
O CHP, o principal partido da oposição, estava prestes a nomear Imamoglu como seu candidato para a eleição presidencial de 2028 quando ele foi detido e enviado para a prisão cinco dias depois.
A repressão aos protestos levou à prisão de manifestantes, jornalistas e advogados, em alguns casos em suas casas durante a madrugada.
Em Istambul, 511 estudantes foram detidos na sexta-feira, e 275 deles foram encarcerados, de acordo com o advogado Ferhat Güzel.
Segundo os últimos dados oficiais, divulgados na quinta-feira, mais de 2.000 pessoas foram detidas e 260 delas foram encarceradas.
O jornalista sueco Joakim Medin, detido na segunda-feira ao descer do avião, foi enviado para a prisão na sexta-feira, disse Andreas Gustavsson, editor de seu jornal, Dagens UTC.
Segundo a mídia turca, o repórter é acusado de “insultar o presidente turco” e de ser “membro de uma organização terrorista armada”.
Pelo menos doze jornalistas turcos foram presos em uma semana. A maioria foi libertada, mas continua acusada de participar de manifestações proibidas que estavam cobrindo para seus meios de comunicação, incluindo o fotógrafo da AFP Yasin Akgül.
Na sexta-feira, o advogado do prefeito de Istambul, Mehmet Pehlivan, foi “preso por motivos forjados”, disse Imamoglu nas redes sociais, e depois libertado naquela noite.
A manifestação do CHP coincide com o início do feriado prolongado do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã no domingo, com muitas pessoas fora da cidade.
O presidente, Recep Tayyip Erdogan, anunciou esta semana nove feriados para funcionários de instituições públicas.
Segundo o CHP, quinze milhões de pessoas participaram das primárias simbólicas realizadas em 23 de março para apoiar Imamoglu, que já estava preso.
“A candidatura de Ekrem Imamoglu é o início de uma jornada que garantirá justiça e soberania para a nação”, disse Özel na plataforma X.