Cinzas de carvão podem ser alternativas para substituir fertilizantes no campo em SC

O preço dos alimentos tem pesado no bolso do consumidor. Desde o ano passado alguns itens subiram mais que a inflação deixando a conta ainda mais cara. Segundo o IBGE a última queda foi em agosto de 2024. De lá pra cá os reajustes foram todos os meses.

Nas cinzas de carvão pode estar a alternativa para redução de custos nas lavouras com fertilizantes – Foto: Reprodução/NDTV/ND

Para Bruno Bergmann, economista, alguns fatores que tem contribuído para essa alta.

“Eventos climáticos como um El Niño bastante forte acabou prejudicando muito a produção de alimentos, então, menos oferta já é um impacto de inflação. Além disso, nós tivemos a alta do dólar. O real brasileiro foi a moeda que mais perdeu valor em 2024, o dólar subir 27% de preço. Então, o produtor que comprava seus insumos com um dólar no início do ano a R$4,80 no final do ano está comprando esse mesmo insumo acima dos seis reais. Então, esse aumento do dólar vai impactar a cadeia de produção toda. Os fertilizantes, a própria ração dos bois e por isso a gente vê um aumento forte no preço das carnes” explica.

No cálculo dos gastos do produtor, os fertilizantes, por exemplo, representam quase 40%. E a grande maioria usa insumos do exterior. O Brasil é o maior importador do planeta de adubos e fertilizantes. Em 2023, o mercado nacional importou 85% dos fertilizantes usados no campo de países como China, Rússia e Canadá.  Uma importação que ficou mais cara com a alta do dólar, encareceu a produção e consequentemente refletiu no preço do produto.

“Principalmente neste último trimestre com o dólar chegando a quase 6,30, então, é um aumento muito grande que teve num curto espaço de tempo. E para tentar manter a margem o produtor repassar isso para o preço do consumidor e por isso a gente tem visto esse aumento nos produtos”, analisa Bergmann.

Alternativa para fertilizantes: o papel das cinzas de carvão

Nas cinzas de carvão pode estar a alternativa para redução de custos nas lavouras com fertilizantes. Pesquisadores de Criciúma, no sul do estado, estão transformando as cinzas da queima do carvão em pequenas esferas chamadas de zeolitas. Nelas são depositados nutrientes como fosforo, potássio e nitrogênio, necessários para a fertilização do solo.

Pesquisadores de Criciúma, no sul do estado, estão transformando as cinzas da queima do carvão em pequenas esferas chamadas de zeolitas – Foto: Reprodução/NDTV/ND

Numa primeira etapa os testes aconteceram em ambiente controlado. Agora, estão sendo realizados no campo, numa lavoura de milho com mais de 4300 pés, em uma área de 900 metros quadrados.

O pesquisador Thiago Aquino explica que as plantas estão num processo de análise e acompanhamento.

“Parâmetros como altura, diâmetro de caule, clorofila. Isso tudo indica quais são os níveis de desenvolvimentos, e claro, o fechamento será saber a produtividade. A lavoura foi plantada em novembro e a ideia é que no mês de março a gente faça a colheita e possamos conferir como está o desempenho dessa zeolita frente a fertilizantes comerciais”, afirma Aquino.

Além de dar para as cinzas de carvão uma nova utilidade a pesquisa traz uma perspectiva de redução no uso de fertilizantes ou até mesmo a possibilidade de substituir totalmente os agrotóxicos pelas zeolitas.

Pesquisadores de Criciúma, no sul do estado, estão transformando as cinzas da queima do carvão em pequenas esferas chamadas de zeolitas – Foto: Reprodução/NDTV/ND

“A gente sabe da dependência do país com fertilizantes importados, cerca de 85% dos fertilizantes são importados, então, qualquer iniciativa que a gente tenha no sentido de reduzir essa dependência é muito bem-vinda. E se a gente fizer isso agregando valor a um produto produzido em grande quantidade, só aqui na nossa região, a geração de energia é capaz de gerar cerca de um milhão de toneladas ano de cinzas. Grande parte é absorvida pelo setor cimenteiro, o que é ótimo, mas uma parcela disso a gente pode agregar valor. E essa combinação de possíveis aplicações pode ser muito bem-vinda”, avalia o pesquisador.

Transição justa para quem vive do carvão

A indústria do carvão movimenta 15 cidades do sul de Santa Catarina. É responsável por mais de 20 mil empregos e movimenta seis bilhões de reais ao ano. Uma cadeia que vive as incertezas de uma transição energética e que tem lutado para que seja um processo justo.

A indústria do carvão movimenta 15 cidades do sul de Santa Catarina – Foto: Reprodução/NDTV/ND

O presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS) afirma que a luta dos setores envolvidos é para conseguir minimizar os impactos da transição numa cadeira tão importante para o estado.

“Na realidade, nós estamos falando de uma transição energética injusta. O compromisso do governo brasileiro no acordo de Paris é ter uma transição justa, ou seja, dar o tempo necessário para as comunidades se adaptarem ou gerarem carvão de forma neutra ou criar uma nova economia. O que importa são as pessoas, é manter o emprego, renda e o desenvolvimento”, analisa Fernando Zancan.

Além de dar para as cinzas de carvão uma nova utilidade a pesquisa traz uma perspectiva de redução no uso de fertilizantes – Foto: Reprodução/NDTV/ND

Por isso, o que se espera é que não haja uma ruptura brusca. Pois, já há pesquisas em andamento que tem mostrado que as chances da indústria do carvão cumprir a projeção de capturar CO2 e reduzir as emissões de gases poluentes. E assim, continuar contribuindo com a geração de energia elétrica, principalmente, diante de cenários climáticos cada vez mais desafiadores.

Além disso, estudos como o das zeolitas no campo poderão contribuir com a população de uma forma ainda mais ampla, melhorando a qualidade do que é cultivado e reduzindo os custos do produtor que acabam caindo na conta de tosos os brasileiros.

“O aumento de produtividade é um fator deflacionário. Então, isso ajuda quando nós temos mecanismos mais tecnológicos que conseguem produzir o mesmo produto num custo menor. Isso ajuda toda a população!”, finaliza Bergmann.

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