
O termo “Frei Gilson” sofreu uma escalada nas pesquisas do Google desde 4 de março, véspera da Quarta-feira de Cinzas, data que marcou o início da Quaresma em 2025. Desde então, o frade católico passou a ser alvo de uma disputa entre bolsonaristas e a esquerda.

Frei Gilson é figura conhecida no meio católico e, desde o início da Quaresma, “furou a bolha” – Foto: @freigilson_somdomonte/Instagram/Reprodução/ND
Desde a Quarta de Cinzas, que neste ano ocorreu em 5 de março, Frei Gilson passou a realizar lives na madrugada, iniciadas às 4h, para rezar o terço. A prática deve ocorrer todos os dias até o fim da quaresma, que termina em 14 de abril. Só no primeiro dia do período, a live do frade reuniu mais de 1 milhão de espectadores.
Ao podcast Café da Manhã, o professor de antropologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Rodrigo Toniol, explicou que, apesar de ser o centro de uma disputa atual, o frade há anos é conhecido dentro da igreja católica e ascendeu após a pandemia.
Conforme o especialista, Frei Gilson anda em um caminho pavimentado por figuras religiosas que ficaram conhecidas na televisão e rádio e que, por exemplo, faziam a benção da água por esses meios.
“O frei Gilson faz a benção pelo canal dele no WhatsApp, com um monte de gente conectada. Então ele é uma espécie de nato digital do catolicismo, o que diz bastante sobre a capacidade do catolicismo se reinventar, apesar dele ter sido decretado como morto aí nas duas últimas décadas no Brasil. Acho que o frei Gilson mostra o contrário”, avalia Toniol.

Frei Gilson ficou conhecido no meio católico na pandemia, quando passou a postar pregações nas redes sociais – Foto: @freigilson_somdomonte/Instagram/Reprodução/ND
Frei Gilson ‘furou a bolha’ e teve falas desenterradas
Desde que “furou a bolha” católica, onde já era conhecido desde a pandemia, o frei teve trechos de falas recortadas divulgadas na internet e alvo de críticas nas redes socais. Especialmente uma pregação feita por meio das redes sociais onde o frade criticou mulheres que buscam se empoderar e disse que o papel delas é auxiliar homens.
“Essa é uma fraqueza da mulher: ela sempre quer ter mais. ‘Eu não me contento só em ser… em ter qualidades normais de uma mulher. Eu quero mais’. Isso é ideologia dos mundos atuais. Uma mulher que quer mais… vou até usar a palavra que vocês já escutaram muito: empoderamento”, falou.
“O homem, foi dado a ele a liderança, mas a mulher tem o desejo de poder. Não é desejo de serviço, é desejo de poder. Repito a palavra: empoderamento. Portanto, eu já começo a falar: a guerra dos sexos é ideologia pura, é diabólica. Para curar a solidão do homem, Deus fez você [mulher]. Ela nasceu para auxiliar o homem”, complementou.
Frei Gilson não necessariamente se enquadra em um dos lados, diz especialista
Conforme Toniol, perto de outras figuras religiosas conservadoras, frei Gilson é sutil e não procura se enquadrar nos lados da disputa política. No entanto, a disputa teria partido de uma estratégia política.
“Nos últimos anos, é tentado enquadrar todos os religiosos que aparecem na mídia de um lado ou de outro, quando, no fundo, talvez isso não ajude tanto. O frei Gilson me parece um desses casos. Ele é mais sutil do que um petista ou um bolsonarista, embora ele tenha aparecido em alguns momentos mais associados ao bolsonarismo. O que tem acontecido na última semana com ele é muito mais uma tentativa de usá-lo como uma espécie de token da direita”
O especialista ainda ressalta que, se isso é uma disputa entre esquerda e a direita, está sendo ganha pela direita.
“Um religioso que está ascendendo e que nesse momento está sendo disputado. Está sendo disputado pela direita, que me parece, tá ganhando essa disputa e está conseguindo apreender o frei Gilson em apresentá-lo como uma figura da direita. Em relação aos grupos de esquerda, que tem acusado ele de ser um bolsonarista, não me parece uma boa estratégia”

Frei faz, todos os dias da Quaresma, lives rezando o terço às 4h da madrugada – Foto: Frei Gilson/YouTube/Reprodução/ND