Em dia de queda de 330 árvores, cidade de SP ganha prêmio da ONU por cuidado com árvores e áreas verdes


Prêmio ‘Tree Cities of the World’, da Arbor Day Foundation e da FAO/ONU, foi concedido à capital paulista pelo 4° ano seguido e antes do temporal desta quarta (12). 171 cidades em todo o planeta receberam o prêmio, 20 delas no Brasil. Queda de uma árvore de grande porte provocou a morte de um taxista em SP
William Moreira/Estadão Conteúdo
No mesmo dia que a cidade de São Paulo enfrentou uma forte chuva que causou a queda de 330 árvores, a capital paulista também ganhou nesta quarta-feira (12), pelo 4° ano seguido, um prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) de preservação adequada e manejo sustentável de árvores e florestas urbanas do município.
O prêmio foi anunciado antes do temporal. Entre as árvores que caíram na cidade com a chuva desta quarta (12) está a terceira árvore mais antiga da cidade, que ficava no Largo do Arouche, no Centro (veja mais aqui).
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Um taxista morreu após ter tido o carro atingido por uma árvore na avenida Senador Queirós, na região central de SP.
Segundo a gestão municipal, o certificado de “Cidade Árvore do Mundo” (Tree Cities of the World) – concedido pela Arbor Day Foundation e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) – é um reconhecimento internacional do trabalho que vem sendo desenvolvido pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) na cidade.
Em comunicado distribuído para a imprensa, a pasta afirmou que o prêmio dado neste ano para 171 cidades em todo o planeta (20 delas no Brasil) é uma “conquista do compromisso da cidade de São Paulo em promover um desenvolvimento sustentável e resiliente”.
“Pelo quarto ano consecutivo, o município de São Paulo foi reconhecido pela ONU como uma das cidades que se destacam na preservação adequada e manejo sustentável de árvores e florestas urbanas. Essa conquista é um reconhecimento do compromisso da cidade de São Paulo em promover um desenvolvimento sustentável e resiliente, e se junta a outras iniciativas da Prefeitura que visam proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, disse o texto.
Prêmio “Cidade Árvore do Mundo” (Tree Cities of the World) – concedido pela Arbor Day Foundation e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU).
Reprodução/ONU/FAO
Segundo a pasta, para receber a premiação cinco critérios foram avaliados pela ONU: responsabilidade com as árvores urbanas, políticas de arborização, avaliações de árvores e florestas, orçamento anual e celebrações de conquistas.
A capital paulista atendeu a todos os requisitos e conquistou novamente o título. De 2021 a 2024, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) plantou mais de 200 mil árvores por meio de ações de incremento, compensação e reparação ambiental.
A SVMA diz que entre as iniciativas municipais destacadas pela ONU estão o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), que reúne diversas ações para ampliar a cobertura verde na cidade. Um exemplo é a ação 96, que identifica e avalia novos locais para o plantio. Das 170 ações previstas, 14 já foram concluídas, 18 estão em fase de finalização e 36 seguem em implementação.
Para o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Rodrigo Ashiuchi, o prêmio é uma demonstração de que o trabalho da Prefeitura de São Paulo na área de arborização urbana está no caminho certo.
“Em parceria com diversas secretarias da gestão do prefeito Ricardo Nunes, conseguimos implementar projetos assertivos para o plantio, a manutenção e a preservação de árvores, sempre com o objetivo de transformar a cidade em um ambiente mais sustentável e resiliente. O reconhecimento da ONU é um marco, mas, acima de tudo, é um incentivo para continuarmos investindo na vegetação urbana como parte fundamental do planejamento da cidade”, afirmou.
Vídeo mostra momento em que árvore cai e atinge carros no Centro de SP
Em 2025, a gestão Ricardo Nunes (MDB) diz que tem como objetivo para este ano bater recorde de plantios arbóreos na cidade, totalizando 120 mil novas mudas de árvores.
Para isso, a SVMA diz que está sendo executadas diversas iniciativas em parceria com as secretarias de Subprefeituras, Mudanças Climáticas, Educação, Saúde e do Programa de Mananciais, como a “Caravana do Verde”, que todos os sábados faz novos plantios a diferentes regiões da cidade; “Bosques Urbanos”, que se configuram como pequenas florestas para preservação da biodiversidade; além das “Vagas Verdes”, “Jardins de Chuva” e também o fortalecimento da campanha de doação de mudas do Viveiro Manequinho Lopes aos munícipes interessados em fazer o plantio em suas residências.
“Isso demonstra que desenvolver iniciativas de enfrentamento às emergências climáticas é um dever de todos, e nós, como agentes públicos, temos que viabilizar esses projetos e oportunidades. Não tenho dúvidas de que foi essa visão que nos levou a conquistar por mais um ano o certificado de ‘Cidade Árvore do Mundo’”, defende o secretário da pasta.
As 20 cidades brasileiras reconhecidas pela ONU:
Araucária (PR) • Campo Grande (MS) • Cianorte (PR) • Cordeirópolis (SP) • Fortaleza (CE) • Guarujá (SP) • Hortolândia (SP) • Ivaiporã (PR) • João Pessoa (PB) • Marialva (PR) • Maringá (PR) • Monte Alto (SP) • Niterói (RJ) • Paranaguá (PR) • Recife (PE) • Ribeirão Preto (SP) • Rio de Janeiro (RJ) • São Carlos (SP) • São José dos Campos (SP) • São Paulo (SP).
Balanço de árvores caídas em SP
Terceira árvore mais antiga da cidade de SP cai durante chuva no Largo do Arouche, no Centro
Segundo levantamento da própria Prefeitura de SP, a capital paulista teve 330 quedas de árvores nas regiões de quatro subprefeituras da cidade na tarde desta quarta (12).
A área da Subprefeitura da Sé, na região central da capital paulista, registrou 106 quedas de árvores durante o temporal que castigou parte da cidade nesta quarta-feira (12).
Isso representa 32% das 330 árvores que caíram na cidade durante o temporal. Esses números fazem parte de um balanço da própria prefeitura obtido pela GloboNews.
Um taxista morreu, atingido por uma delas, enquanto fazia uma corrida para um casal de passageiros chineses.
A Sé foi a segunda região com o segundo maior registro de quedas de árvores durante essa chuva.
A Subprefeitura do Butantã registrou quatro a mais: 110 (33% do total). A administração regional de Pinheiros contabilizou 95 quedas de árvores e a da Lapa, 19.
O levantamento da prefeitura aponta que as quedas de árvores, um problema crônico da cidade de São Paulo sempre que chove forte, se concentrou em bairros da Zona Oeste e da região central.
O levantamento foi atualizado por técnicos da prefeitura no final da noite desta quarta-feira.
Quedas de árvores por subprefeitura
Butantã (Zona Oeste): 110 árvores
Sé (Centro): 106 árvores
Pinheiros (Zona Oeste): 95 árvores
Lapa (Zona Oeste): 19 árvores
Entre as árvores que caíram está a terceira mais antiga da capital paulista. Ela ficava no Largo do Arouche, no Centro, era um chichá da Mata Atlântica que pode alcançar grandes dimensões e é usada em reflorestamento. Ela tinha 30 metros de altura e estava no local havia cerca de 200 anos.
Árvore centenária cai durante chuva em SP nesta quarta-feira (12)
Arquivo Pessoal
Um vídeo enviado para o g1 mostra que a árvore centenária se quebrou ao meio devido à forte chuva (veja acima).
Nas redes sociais, moradores lamentaram a queda da árvore. “Que tristeza, um pedaço da história se foi”, escreveu uma internauta.
“Lamentável! Não existe volta… Essa é uma perda definitiva. Mas será que os responsáveis pela manutenção dos parques e jardins de SP ficarão tristes ou felizes? Os cidadãos paulistanos, aqueles que frequentam o Largo do Arouche mais do que ninguém, com certeza se entristecerão”, afirmou uma moradora nas redes sociais.
Em janeiro deste ano, o Bom Dia São Paulo mostrou, no Quadro Verde, que a árvore precisava de cuidados. Em uma parte do tronco havia machucados aparentes e perda de galhos, o que fez com que o chichá perdesse a forma original.
Clóvis Casemiro, turismólogo, destacou na época sobre o lixo que ficava em volta da árvore.
Árvore centenária é derrubada durante chuva no largo do Arouche em SP
O que é a Arbor Day Foundation
A Arbor Day Foundation é uma organização sem fins lucrativos que inspira pessoas a plantar, cultivar e celebrar árvores para resolver alguns dos maiores desafios do mundo, como pobreza, fome, água e ar puros, mudanças climáticas e perdas de espécies.
Com quase 50 anos de história, a entidade é a maior organização sem fins lucrativos do mundo dedicada ao plantio de árvores, tendo ajudado a semear quase 500 milhões de exemplares em 50 países.
Junto com a FAO, a organização apoia o desenvolvimento de ações, projetos e ferramentas de planejamento estratégico em prol de florestas urbanas e periurbanas que promovam um modelo sustentável e resiliente para o desenvolvimento de cidades no mundo todo.
Por que tantas árvores caem em São Paulo?
Para especialistas, mais do que uma fatalidade, este cenário é um problema histórico, consequência de uma soma de fatores, e que atravessa várias gestões da Prefeitura de São Paulo e de outras prefeituras da região metropolitana. São eles:
Calçadas estreitas para árvores grandes;
Árvores “doentes”, com cupins ou fungos;
Podas mal realizadas;
Falta de acompanhamento da flora da cidade;
Ventos e chuvas fortes.
Árvore cai, atinge carro e deixa motorista morto no Centro de SP
Reprodução/TV Globo
Para o pesquisador do Laboratório de Árvores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Sergio Brazolin, em entrevista ao g1 em novembro de 2020, o problema começou no início da arborização da cidade, 70, 80 anos atrás, sem planejamento entre o tamanho e espécie da árvore e a calçada que a abrigaria.
“É muito comum andar pela cidade e ver árvores enormes, de 15, 20 metros de altura, com calçadas pequenas. É uma gigante de pé pequeno”, aponta Brazolin. Hoje, os novos plantios seguem as regras estabelecidas pelo Manual Técnico de Arborização Urbana, da Prefeitura de São Paulo, desenvolvido para evitar tais discrepâncias.
Árvore do Largo do Arouche cai durante chuva nesta quarta-feira (12) em SP
Arquivo Pessoal
O biólogo também lembrou que as árvores são seres vivos. Logo, também ficam doentes: “Cupins, apodrecimento, o que é natural de um ser vivo adulto que está ficando velhinho. Quando acontecem esses problemas na árvore, associado ao peso dela, elas vão se fragilizando na sua base”.
Brazolin aponta que a manutenção, com o olhar periódico de um especialista, é uma das questões principais. “Às vezes ela está bonita por fora mas por dentro está oca. Esse manejo é essencial em qualquer cidade”.
Outro fator apontado são as podas mal feitas, que podem desequilibrar a árvore, deixando um lado muito mais pesado que o outro. Os cortes também devem ser feitos nos galhos menores. Quando feito nos grandes, podem causar o alojamento de cupins ou apodrecimento.
Para o botânico e paisagista Ricardo Cardim, também em entrevista em 2020, a fiação elétrica é uma das grandes vilãs das árvores da cidade.
“A fiação elétrica aérea leva a mutilação de grande parte da floresta urbana em São Paulo”, afirma Cardim. O paisagista defende que a fiação deveria ser enterrada. Até hoje, poucos quilômetros, dos mais de 17 mil de cabos que a cidade têm, são enterrados, como a Avenida Paulista e a região do Museu do Ipiranga.
Quando a isso se somam ventos fortes fortes e chuvas intensas, o resultado, segundo ele, pode ser fatal. “Todo verão vemos uma série de problemas com arborização na cidade e tragédias horrorosas como essa por causa de falta de cuidado”, afirma Cardim.
“O que acontece é que até hoje parece que o poder público, principalmente o executivo, não entendeu que as áreas verdes de São Paulo são essenciais para a qualidade de vida e saúde da população e precisam de investimentos à altura”, disse o botânico e paisagista.
Segundo Cardim, em várias gestões se promete fazer um levantamento detalhado das árvores da cidade, quais, quantas são e onde estão, o que ainda não foi realizado. “O raciocínio é simples, como você vai cuidar de algo que não sabe quantas são e qual o estado?”
Para os especialistas, não é necessário remover as árvores grandes da cidade, essenciais para a qualidade do ar e para a saúde da população. A solução passa também pelo manejo eficiente dessa população arbórea. Uma das técnicas utilizadas é podar a copa de forma que ela deixe o vento fluir e não atue como um “paredão”.
O pedido de solicitação de poda na Prefeitura pode ser feito pelo número 156 ou pelo aplicativo 156 da administração municipal.
Árvore caiu sobre carro em Pinheiros, na Zona Oeste
Reprodução
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