Conheça o Blender, software gratuito que ajudou ‘Flow’, da Letônia, a ganhar Oscar


Programa usado no longa é de código aberto e tem se consolidado como uma ferramenta poderosa e acessível para profissionais de animação, design e arte, permitindo produções de alta qualidade, afirmam especialistas. Blender: o que é o software gratuito que ajudou a Letônia a ganhar o Oscar de melhor animação com ‘Flow’
Divulgação/Blender
A Letônia conquistou seu primeiro Oscar em 2025 com o filme “Flow”, superando grandes produções como “Divertida Mente 2”, da Disney, e “O Robô Selvagem”, da DreamWorks, na categoria de melhor animação.
No entanto, o que mais chamou a atenção nesse longa foi o seu processo de produção: o filme foi criado com o Blender, um programa de edição gratuito.
Dirigido por Gints Zilbalodis, “Flow” é um filme sem diálogos e acompanha a jornada de um gatinho cinza escura e seus amigos que navegam por um planeta coberto por uma inundação apocalíptica.
O longa conquistou a crítica e os votantes do Oscar com uma narrativa delicada, silenciosa e cheia de emoção. O diretor contou que se inspirou na gatinha da infância dele, Josefine, para criar o protagonista.
“Por muito tempo, grandes produções de animação eram dominadas por estúdios que utilizam softwares caríssimos, inacessíveis para a maioria dos artistas independentes. ‘Flow’ desafia essa lógica”, conta ao g1 a cineasta Carol Gonzalez, da Maria Marcolina Filmes.
O que é o Blender?
Processo de criação do filme ‘Flow’ no Blender
Reprodução/Blender
Lançado em 1995, o Blender é um software de código aberto (“open source”, em inglês) para edição de vídeo, modelagem 3D, animação, renderização e efeitos visuais. Com uma ampla gama de recursos gratuitos, a ferramenta é utilizada tanto por estúdios quanto por amadores, segundo a própria empresa.
Amplamente adotado na indústria do cinema, jogos e design, o Blender se destaca pelo alto nível de personalização, o que a torna uma ferramenta poderosa para trabalhos visuais, explica Fernando Oliveira, conhecido como Fernando 3D, especialista em IA e diretor de arte.
“É um software open source, então é possível aprimorá-lo constantemente e até criar plugins personalizados para ações específicas. Bons desenvolvedores e designers trabalhando com ele conseguem encontrar possibilidades de criação praticamente ilimitadas”, afirma.
Disney e Pixar também desenvolveram plugins específicos para seus filmes, como foi o caso de “Up – Altas Aventuras” e “Monstros S.A.”, e isso também pode ser feito no Blender, explica Fernando.
Frames do filme ‘Flow’
Reprodução/Blender
O especialista destaca que o Blender é uma ferramenta de projetos 3D mais leve em comparação a outros softwares do mercado. Além disso, o programa se consolidou como uma opção acessível e versátil para profissionais de arte, design e desenvolvimento.
Em entrevista ao blog do Blender, o diretor de “Flow” destacou a rapidez com que os arquivos são abertos no programa. Ele afirmou que isso pode parecer um detalhe, mas faz diferença ao economizar tempo e evitar frustrações durante o processo de produção.
“Também adoro a quantidade de recursos disponíveis on-line. Existem tantos tutoriais e ferramentas, e posso encontrar rapidamente respostas para quase tudo”, disse Gints Zilbalodis.
‘Flow’ custou menos que seus concorrentes
Gints Zilbalodis, diretor do filme ‘Flow’.
Reprodução/Redes Sociais
Gints Zilbalodis afirmou que o projeto de desenvolvimento do filme levou cinco anos e meio. No primeiro ano, em 2019, ele disse que estava trabalhando no roteiro, aprendendo a usar o Blender e buscando financiamento.
“Em 2020, conseguimos garantir algum financiamento e eu me mudei para um estúdio de coworking com outros artistas e desenvolvedores que usavam o Blender”, contou.
Segundo a revista The Hollywood Reporter, “Flow” custou US$ 3,7 milhões (cerca de R$ 21,2 milhões), enquanto seus concorrentes nas premiações, “Divertida Mente 2”, custou US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,15 bilhão), e “O Robô Selvagem”, US$ 78 milhões (aproximadamente R$ 447,7 milhões).
Para a cineasta Carol Gonzalez, o filme do gatinho cinza não venceu o Oscar apenas por sua técnica ou narrativa envolvente. “Ele ganhou porque prova que o futuro do cinema pode ser mais democrático, inclusivo e surpreendente. E isso, para qualquer artista, é uma revolução inspiradora”, diz.
“Não é apenas sobre o Blender em si, mas sobre o conceito de fazer o melhor com o que temos em mãos”, completa.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.