Brasil precisará equilibrar postura ‘firme’ e ao mesmo tempo ‘cuidadosa’ com EUA após discurso de Trump, dizem diplomatas


Em discurso no Congresso, Donald Trump citou Brasil entre países que, para ele, ‘roubam’ Estados Unidos. Para diplomatas, cuidado não significa deixar de responder, mas, sim, avaliar o momento certo para a resposta. Trump faz discurso do Estado da União
Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Diplomatas ouvidos pela GloboNews avaliaram nesta quarta-feira (5) que o Brasil precisará, ao longo das próximas semanas, equilibrar uma postura “firme”, mas, ao mesmo tempo, “cuidadosa” em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e às tarifas eventualmente a serem impostas a produtos do país exportados para o mercado americano.
Nesta terça, ao fazer o tradicional discurso do Estado da União, no Congresso, Donald Trump citou o Brasil entre os países que, para ele, “roubam” os Estados Unidos com taxas sobre produtos americanos.
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Ainda na campanha, o então candidato prometeu adotar uma política mais protecionista sob o argumento de que países ao redor do mundo lucram com os Estados Unidos.
Já empossado, Trump tem editado uma série de medidas para sobretaxar produtos de diversos países alegando ser necessário preservar os produtores locais, a exemplo da taxação de 25% sobre o aço e o alumínio estrangeiros. Esse conjunto de medidas impacta diretamente a economia de países que exportam produtos para os EUA.
De forma reservada, um diplomata ouvido pela GloboNews afirmou que a atitude do governo já tem sido cuidadosa em relação a Trump para não agravar a situação, acrescentando que “prudência não é deixar de responder”, mas, sim, “saber o momento de responder”.
“Era só o que faltava, discurso do Trump pautar a política externa brasileira”, afirmou.
Um outro diplomata defende que o Brasil não tente “apagar o fogo colocando gasolina” porque isso poderia piorar a situação.
Na mesma linha, um integrante do Palácio do Planalto disse que a estratégia neste momento deve ser manter uma postura “cuidados, mas responsiva”. Isto é, segundo ele, “prudente e firme” ao mesmo tempo.
Conforme avaliação desse integrante do governo, o Itamaraty precisará ser prudente para “não escalar” a situação de forma desnecessária, respondendo de forma “firme” somente “se for preciso”.
Brasil não deve aceitar provocações
O diplomata Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil na França e na Argentina, disse em entrevista à GloboNews avaliar que o discurso de Trump “não foi promissor” porque o atual presidente dos Estados Unidos tem “convicções agressivas” e defende medidas como se o país fosse “vítima da sociedade internacional”.
Conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Azambuja também disse que Trump tentou colocar o Brasil numa espécie de “lista de espera” de países que poderão ser atingidos por “severa resposta americana”, o que exige do Brasil uma postura “cuidadosa”.
“O Brasil tem que ficar em alerta, atento e cuidadoso, sobretudo, porque o Trump tem uma agressividade natural, dele, uma violência contida nele, de modo que o Brasil tem que agir com grande firmeza, mas com grande prudência. O adversário é forte, as acusações dele não se fundamentam em nada que se justifique, mas ele tem hoje na China, Índia e Brasil a ideia de que seremos […] os novos países a serem punidos”, declarou.
Para Azambuja, a diplomacia brasileira precisará equilibrar uma posição “firme”, “clara” e “articulada” de um lado, mas não deve provocar nem aceitar provocações do governo dos Estados Unidos, evitando “animosidades” nas relações entre os dois países.
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