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Tema da escola de samba carioca, João Batista lutou contra perseguição ao povo escravizado, numa área que ia do Recife até onde hoje é a cidade de Goiana, Mata Norte de Pernambuco. Após a morte, evoluiu como mestre e líder espiritual da Jurema Sagrada. Ensaio técnico da Viradouro
Alex Ferro/Riotur
São de 1817 os primeiros registros históricos sobre a vida de João Batista, o Malunguinho, último líder de um dos quilombos mais importantes de Pernambuco e do Brasil, que este ano é tema da Escola de Samba Unidos do Viradouro, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
De acordo com as pesquisas do professor João Monteiro, o Quilombo do Catucá surgiu onde hoje estão situados os bairros de Linha do Tiro e Dois Unidos, na Zona Norte do Recife.
Com o tempo, se estendeu por Olinda e Paulista, hoje municípios da Região Metropolitana, até alcançar terras de onde atualmente está delimitado o município de Goiana, na Mata Norte do estado.
“Naquela época, essas localidades que hoje são bairros periféricos [do Recife] eram zonas rurais, áreas de mata. Foram várias incursões contratadas pela Coroa Portuguesa para dar fim ao quilombo. A história de Malunguinho foi contada por quem o perseguiu e o tratou como bandido por conta do seu ideário libertador. Por isso, é importante o resgate e a salvaguarda da memória do que realmente foi essa forma de organização social”, disse o pesquisador, em entrevista ao g1.
João Monteiro foi funcionário do Arquivo Público de Pernambuco. Ao longo de quase três décadas, pesquisou tanto, a ponto de participar da criação do grupo de estudos “Malunguinho Histórico e Divino”.
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Nos documentos antigos, contou ele, também há a citação ao “Quilombo da Cova da Onça” como sendo o liderado por João Batista. “Foram quase duas décadas de resistência, até que em 1835, onde hoje é a cidade de Abreu e Lima, as forças de repressão conseguiram desmantelar o quilombo”, complementou o professor.
A pesquisadora Ana Paula Jones, presidente da Associação Raízes da Tradição, contou que, entre os anos de 2004 e 2009, visitou 54 povos indígenas.
“Todos eles trabalham com a Jurema Sagrada e Malunguinho é considerado uma entidade que até hoje é cultuada nos terreiros. A reparação histórica em torno dessa figura tão importante é o que mais me deixou feliz nessa homenagem [da Viradouro]”, explicou Ana Paula.
A Jurema Sagrada é uma prática ancestral de origem indígena que acabou sendo incorporada às tradições afro-brasileiras.
O nome jurema faz menção a uma árvore, do gênero acácia. Uma bebida de efeito alucinógeno é feita tendo como base partes da planta, para auxiliar praticantes e adoradores a transcenderem.
Luta pela liberdade na busca pelo bicampeonato
A resistência contra a opressão liderada por João Batista é a aposta do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro para repetir a conquista do grupo especial do carnaval do ano passado.
Com o samba-enredo “Malunguinho: o mensageiro de três mundos”, o carnavalesco Tarcísio Zanon vai levar para a avenida a estética colorida do universo da Jurema Sagrada.
“As roupas em fitas e os cristais representando o mundo encantado serão alguns dos elementos”, antecipou ele.
Durante o desfile da Viradouro, Malunguinho evolui para sua versão espiritual, passando a viver em três mundos de maneiras diferentes: como caboclo curandeiro, mestre da Jurema e guardião das encruzilhadas.
Parceira com a Empetur e fomento de R$ 2,8 milhões
Por meio da Empresa de Turismo de Pernambuco, o governo do Estado firmou um termo de fomento com a Unidos da Viradouro para viabilizar o tema do enredo de 2025.
A parceria incluiu um intercâmbio cultural com shows da Unidos do Viradouro em Pernambuco e a oportunidade de realização de eventos de divulgação turística do destino Pernambuco no Rio de Janeiro. E também garante a presença de 70 pernambucanos juremeiros na Marquês de Sapucaí neste domingo (2). A transmissão do desfile chega a 150 países.
O termo de fomento também prevê contrapartidas para o estado, como a possibilidade de utilizar conteúdos, links e demais materiais da Viradouro em mídias sociais do governo de Pernambuco e a participação do elenco da Viradouro em dois eventos corporativos.
Confira o samba-enredo da Unidos de Viradouro
“Malunguinho: o mensageiro de três mundos”
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigoTransbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
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