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Brasileiro recentemente resgatado confirmou uso do serviço da Starlink nos locais usados para a aplicação de fraudes online, reportado pela revista Wired. Empresa não se posicionou sobre o assunto. Serviço da Starlink é prestado por meio de operadoras credenciadas
Getty Images via BBC
As ‘fábricas de golpes online’ que funcionam em Mianmar e contam com pessoas escravizadas como força de trabalho estão conseguindo acesso à internet por meio do serviço via satélite da Starlink, de Elon Musk, segundo reportagem da revista norte-americana Wired.
De acordo com a publicação, registros de telefones celulares utilizados na área, evidências fotográficas e testemunhos de vítimas apontam que, apesar dos esforços para que a conexão de internet dos locais seja cortada, o acesso ocorre por meio da Starlink – que é oferecida pela empresa aeroespacial de Musk, a SpaceX.
O g1 entrou em contato com um brasileiro recentemente resgatado de uma dessas fábricas, e ele confirmou que os criminosos utilizam internet via Starlink no local. Segundo ele, a conexão era lenta e tinha períodos de instabilidade.
Os exploradores do esquema enfrentam obstáculos e restrições para se conectar a operadores de telefonia em Mianmar e na Tailândia, segundo a reportagem da Wired. A Starlink, com conexão via satélite e disponibilidade em regiões remotas e de difícil acesso, se tornou a solução para manter o acesso.
Em oito locais usados para os golpes, foi possível identificar que 412 dispositivos usaram a Starlink como provedora. Em quatro meses, há mais de 40 mil registros de acesso ao serviço de Musk por meio desses aparelhos, segundo a revista.
A revista afirma que obteve dados de dispositivos na área das fábricas por meio de uma ferramenta usada em publicidade digital que mostra coordenadas físicas, IP do telefone e provedor de internet utilizado.
De acordo com a Wired, as políticas da Starlink indicam que a SpaceX pode encerrar os serviços se os usuários participarem de atividades fraudulentas ou se o sistema for utilizado em locais não autorizados. Questionada pela revista sobre os acessos em Mianmar, a empresa não respondeu, disse a publicação.
O g1 também contatou a Starlink e a SpaceX sobre o assunto e aguarda resposta.
Fotos de antenas
Outras evidências citadas são fotos que mostram prováveis antenas Starlink instaladas em locais suspeitos na região. “Eles simplesmente colocam [Starlink] no telhado, e nós temos as fotos”, disse à revista Rangsiman Rome, membro da Câmara dos Deputados da Tailândia.
No início de fevereiro, o político marcou Elon Musk no X e o questionou sobre o uso da Starlink pelos criminosos. O bilionário não respondeu.
Na publicação, Rangsiman Rome diz ter provas sólidas de que os golpistas, envolvidos em tráfico de pessoas, “estão explorando a Starlink para fraudes massivas, causando mais de US$ 60 bilhões em danos econômicos globais por ano”.
“Este é um problema sério com consequências no mundo real. Temos pressionado por ações imediatas do nosso governo para cortar a eletricidade e a internet para os complexos, mas eles começaram a utilizar a Starlink para acessar a internet. Você poderia investigar este assunto?”, perguntou o político a Musk, sem obter resposta.
Brasileiros foram resgatados de fábrica
Mianmar enfrenta uma guerra civil desde 2021, quando criminosos passaram a se instalar no país. Nas ‘fábricas de fraudes’, localizadas próximo à fronteira com a Tailândia, ao menos 120 mil pessoas são mantidas escravizadas e obrigadas a aplicar golpes, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas informou em 2023.
Os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, foram mantidos reféns por três meses em um desses locais. Eles conseguiram fugir junto com centenas de imigrantes e acabaram resgatados com a ajuda da ONG “The Exodus Road” no último dia 9. Os dois desembarcaram no Brasil na semana passada.
Após o resgate, eles relataram uma rotina repleta de ameaças e agressões, com episódios de espancamento. No roteiro dos golpes que seria aplicado nas vítimas, havia um roteiro a ser seguido.
Por ser brasileiro, o jovem foi obrigado a aplicar golpes em outros brasileiros. Ele lembra que, sempre que terminava o turno, chorava no quarto.
Segundo Phelipe, ele e outros imigrantes trabalhavam, em média, 16 horas por dia aplicando golpes.