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Os valores, segundo o depoimento de Cid, chegam a US$ 86 mil que foram repassados a Bolsonaro. Motivo para vender itens foi o pagamento de indenizações do ex-presidente. Mauro Cid diz que Bolsonaro pediu para vender relógio que recebeu de presente
Na delação premiada de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que o ex-presidente pediu para que fossem levantados os valores de relógios e de joias que tinha recebido durante a presidência para tentar vendê-los: “E aí, bicho, vamos tentar vender isso daqui?”.
Os valores, segundo o depoimento de Cid, chegam a US$ 86 mil que foram repassados a Bolsonaro. O ex-presidente foi indiciado junto de 11 pessoas em julho de 2024 no inquérito das joias, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente é suspeito de ter cometido os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro sempre negou os crimes.
Cid citou que os motivos que levaram Bolsonaro a querer vender os itens foi o pagamento de indenizações, incluindo o pagamento à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
O depoimento aparece em um dos vídeos da delação premiada do ex-ajudante de ordens. O ministro tornou as gravações públicas nesta quinta-feira (20) após a denúncia contra Bolsonaro por tentativa de golpe ser apresentada pela PGR.
Mauro Cid e seu pai, Lourena Cid, repassaram US$ 86 mil a Bolsonaro da venda de joias e relógios, segundo disse o ex-ajudante de ordens na delação.
No depoimento, Cid afirma que Bolsonaro pediu um levantamento de quais seriam os presentes que ele recebeu que poderiam ter algum valor. O ex-ajudante afirmou que o que ele conseguiria quantificar facilmente seriam relógios “por conta da marca”.
Ele explica que recebeu um levantamento dos relógios que estavam registrados como presentes na presidência. “Não sei se 10 ou 20. A gente viu qual relógio poderia ser quantificado, qual podia realmente ter algum valor, né. E esse relógio que tava nessa relação , o Rolex , tava entre eles.”
“Eu apresentei essa lista e aí ele falou: “e aí, bicho, vamos tentar vender isso daqui?”.
Segundo Mauro Cid, os relógios Rolex e Patek Philippe foram vendidos por R$ 68 mil e o kit de joias Chopard foi vendido por R$ 18 mil. As duas vendas foram realizadas nos Estados Unidos, em 2022.
Na sequência, Cid confirma que Bolsonaro deu a ordem para vender o Rolex e os outros itens de um kit, valor que, segundo ele, ficou entre US$ 15 mil e US$ 18 mil.
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Relembre o inquérito das joias em que Bolsonaro foi indiciado
Joias e Rolex de Bolsonaro
Reprodução
Venda dos presentes
Na delação, Mauro Cid detalhou repasses que somam R$ 78 mil ao ex-presidente em valores fracionados, e de forma direta ou indireta:
US$ 18 mil (R$ 103 mil) por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022;
US$ 30 mil (R$ 171 mil) por Lourena Cid em Nova York, em setembro de 2022;
US$ 10 mil (R$ 57 mil) por Lourena Cid no Brasil, no final de 2022;
US$ 20 mil (R$ 114 mil) por Lourena Cid em Miami, em fevereiro de 2023.
Ainda de acordo com o ex-ajudante de ordens, o restante dos R$ 86 mil foi repassado por Lourena Cid em março de 2023.
Inquérito no STF
Bolsonaro foi indiciado junto de 11 pessoas em julho de 2024 no inquérito das joias, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente é suspeito de ter cometido os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro sempre negou os crimes.
Os primeiros indícios envolvendo o caso das joias surgiram em março de 2023. Na época, um kit de joias dado pela Arábia Saudita ao governo Bolsonaro ficou retido no Aeroporto de Guarulhos, na Receita Federal, desde o fim de 2021.
Os itens foram encontrados, em 26 de outubro daquele ano, na mochila do militar Marcos André dos Santos Soeiro, que assessorava o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.
As joias de luxo — avaliadas, após conclusão de perícias, em R$ 5,1 milhões — foram apreendidas porque o governo não as declarou como um presente de estado nem pagou os impostos devidos para que os itens pudessem entrar no país como item pessoal.
Em março de 2023, a Polícia Federal, abriu um inquérito para investigar o caso e os envolvidos. No caso, Jair Bolsonaro e o entorno dele.
Em abril daquele ano, Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre o caso. Ele negou irregularidades e disse que soube das joias um ano depois da apreensão, mas que não se lembra quem o avisou sobre a existência dos itens.
Além de Bolsonaro, foram indiciadas outras 11 pessoas – todas por associação criminosa, 7 por peculato, 9 por lavagem de dinheiro e 1 – o ex-chefe da Receita Julio Cesar Vieira Gomes – por advocacia administrativa. Veja os nomes abaixo:
Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro (peculato e associação criminosa);
José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia (peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro);
Julio César Vieira Gomes, auditor-fiscal e ex-secretário da Receita peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia administrativa);
Marcelo da Silva Vieira, chefe do gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República no mandato de Bolsonaro (peculato e associação criminosa);
Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro);
Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (peculato e associação criminosa);
Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro);
Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-secretário de Comunicação (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Frederick Wassef, advogado do ex-presidente (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva do Exército (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro e associação criminosa).