Na delação premiada, Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, faz revelações sobre a trama golpista envolvendo o ex-presidente, relata conversas com seu ex-chefe sobre a venda das joias sauditas e diz que dinheiro para o golpe circulava até em caixa de vinho.
O sigilo da delação caiu nesta quarta-feira (19), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de Moraes ocorre na esteira da denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre a trama golpista. Bolsonaro, Cid e mais 32 pessoas foram denunciadas nesta terça (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Segundo Gonet, Bolsonaro liderou uma organização criminosa para derrubar a democracia e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Veja abaixo detalhes da delação de Cid:
O dinheiro das joias
Mauro Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 78 mil (cerca de R$ 445 mil) a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Os repasses ocorreram em quatro ocasiões: US$ 18 mil foram entregues por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022; US$ 30 mil foram repassados por Lourena Cid em Nova York, em setembro do mesmo ano; US$ 10 mil foram entregues no Brasil, no fim de 2022; e US$ 20 mil foram entregues em mãos a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami, em fevereiro de 2023.
Os valores provinham da venda de joias dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Cid relatou que, ao viajar aos EUA para negociar parte das peças, retirou do valor final os gastos com passagens e aluguel de carro antes de repassar os fundos ao ex-presidente.
Tanto os US$ 30 mil quanto os US$ 10 mil entregues por Lourena Cid foram passados a Mauro Cid, que os repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues diretamente a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
As declarações de Cid reforçam a investigação que já levou ao indiciamento do ex-presidente por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro nega as acusações.
Bolsonaro e a tentativa de golpe
A delação também aborda a tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, incluindo liderança de organização criminosa armada e golpe de Estado.
Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção, mas afirmou que não esteve envolvido diretamente em “nenhum planejamento detalhado”. Ele descreveu a existência de grupos militares divididos entre mais “exaltados” e aqueles que tentavam “frear” Bolsonaro.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo era verificar se ele e o vice-presidente Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos.
A investigação sobre a tentativa de golpe segue em andamento, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro ainda em 2025 para evitar contaminação do processo eleitoral.
Filhos de Bolsonaro
A delação do tenente-coronel Mauro Cid revelou que os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tiveram posições opostas em relação à tentativa de golpe de Estado. Enquanto Flávio defendia que Bolsonaro aceitasse a derrota e assumisse o papel de líder da oposição, Eduardo estava entre os mais radicais e incentivava o pai a permanecer no poder.
O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (19), trazendo à tona detalhes sobre os bastidores da articulação golpista. Segundo Cid, Flávio fazia parte de um grupo conservador, que via a aceitação do resultado das eleições como a melhor estratégia. Essa ala aconselhava Bolsonaro a evitar um confronto direto e a organizar uma oposição forte para o governo de Lula.
O depoimento também revelou que havia um grupo radical, do qual Eduardo Bolsonaro fazia parte. Essa ala se dividia em dois segmentos: um que tentava encontrar provas de fraude nas eleições para justificar uma recontagem de votos e outro que defendia um golpe de Estado armado, acreditando que Bolsonaro contaria com apoio de forças populares e de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
Além de Eduardo Bolsonaro, o grupo radical contava com a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do ex-ministro Onyx Lorenzoni, do ex-assessor Felipe Martins e do senador Jorge Seiff. Eles pressionavam Bolsonaro a assinar um decreto que instauraria um Estado de Defesa, anulando o resultado das eleições e mantendo-o no cargo.
Já o grupo conservador, liderado por Flávio Bolsonaro, incluía nomes como Ciro Nogueira (então ministro da Casa Civil), o advogado-geral da União Bruno Bianco e o Brigadeiro Batista Júnior (comandante da Aeronáutica). Eles argumentavam que um golpe poderia ser um erro estratégico e que a oposição deveria ser fortalecida de maneira democrática.
A divisão interna entre os apoiadores de Bolsonaro reforça a complexidade da crise política que levou aos eventos do 8 de janeiro. As revelações de Mauro Cid ajudam a esclarecer como diferentes alas dentro do círculo bolsonarista divergiam sobre o caminho a ser seguido após a derrota eleitoral. Agora, o STF deve avaliar as implicações dessas declarações na denúncia contra Bolsonaro e seus aliados.
Pressão de aliados
Cid também revelou que, após iniciar sua delação, sofreu pressões para revelar o conteúdo dos depoimentos. O general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações sobre os primeiros depoimentos.
Segundo Cid, após sua soltura, diversos intermediários entraram em contato com seu pai e sua esposa para descobrir o que ele havia dito à Polícia Federal. Braga Netto chegou a solicitar oficialmente ao STF acesso à delação, mas teve o pedido negado.
Wajngarten também teria feito ligações para familiares de Cid com o mesmo objetivo. Esses contatos estão sendo investigados para verificar se configuram pressão sobre o delator.
A delação de Cid segue como peça-chave nas investigações contra Bolsonaro e seu entorno. A expectativa é que novas revelações surjam nos próximos meses, aprofundando o cerco ao ex-presidente e seus aliados.
Os termos da delação
Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, revelando detalhes comprometedores sobre Bolsonaro e seu círculo próximo.
Em troca de sua colaboração, Cid pediu que suas condenações fossem reduzidas ou limitadas a dois anos de prisão, que seus bens apreendidos fossem devolvidos e que sua segurança e a de sua família fossem garantidas. O acordo também previa que os benefícios fossem estendidos ao pai, à esposa e à filha mais velha do delator.
O STF alertou que os benefícios só serão concedidos caso as informações fornecidas por Cid sejam confirmadas e que qualquer violação do acordo resultará na perda das vantagens. Em novembro de 2024, inconsistências foram apontadas na delação, levando Cid a prestar novos esclarecimentos para evitar o cancelamento do pacto.
Como contrapartida, Cid se comprometeu a contar a verdade sobre todos os crimes que praticou ou presenciou, auxiliar a Polícia Federal na análise de provas e afastar-se de qualquer atividade criminosa. Ele também se comprometeu a relatar se for contatado por qualquer investigado.
A lei brasileira estabelece que, mesmo que o delator descumpra o acordo, as informações prestadas continuam válidas para a Justiça. Assim, as declarações de Mauro Cid já estão sendo utilizadas em inquéritos e processos contra os envolvidos.
O sigilo da delação caiu nesta quarta-feira (19), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de Moraes ocorre na esteira da denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre a trama golpista. Bolsonaro, Cid e mais 32 pessoas foram denunciadas nesta terça (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Segundo Gonet, Bolsonaro liderou uma organização criminosa para derrubar a democracia e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Veja abaixo detalhes da delação de Cid:
O dinheiro das joias
Mauro Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 78 mil (cerca de R$ 445 mil) a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Os repasses ocorreram em quatro ocasiões: US$ 18 mil foram entregues por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022; US$ 30 mil foram repassados por Lourena Cid em Nova York, em setembro do mesmo ano; US$ 10 mil foram entregues no Brasil, no fim de 2022; e US$ 20 mil foram entregues em mãos a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami, em fevereiro de 2023.
Os valores provinham da venda de joias dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Cid relatou que, ao viajar aos EUA para negociar parte das peças, retirou do valor final os gastos com passagens e aluguel de carro antes de repassar os fundos ao ex-presidente.
Tanto os US$ 30 mil quanto os US$ 10 mil entregues por Lourena Cid foram passados a Mauro Cid, que os repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues diretamente a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
As declarações de Cid reforçam a investigação que já levou ao indiciamento do ex-presidente por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro nega as acusações.
Bolsonaro e a tentativa de golpe
A delação também aborda a tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, incluindo liderança de organização criminosa armada e golpe de Estado.
Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção, mas afirmou que não esteve envolvido diretamente em “nenhum planejamento detalhado”. Ele descreveu a existência de grupos militares divididos entre mais “exaltados” e aqueles que tentavam “frear” Bolsonaro.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo era verificar se ele e o vice-presidente Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos.
A investigação sobre a tentativa de golpe segue em andamento, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro ainda em 2025 para evitar contaminação do processo eleitoral.
Filhos de Bolsonaro
A delação do tenente-coronel Mauro Cid revelou que os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tiveram posições opostas em relação à tentativa de golpe de Estado. Enquanto Flávio defendia que Bolsonaro aceitasse a derrota e assumisse o papel de líder da oposição, Eduardo estava entre os mais radicais e incentivava o pai a permanecer no poder.
O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (19), trazendo à tona detalhes sobre os bastidores da articulação golpista. Segundo Cid, Flávio fazia parte de um grupo conservador, que via a aceitação do resultado das eleições como a melhor estratégia. Essa ala aconselhava Bolsonaro a evitar um confronto direto e a organizar uma oposição forte para o governo de Lula.
O depoimento também revelou que havia um grupo radical, do qual Eduardo Bolsonaro fazia parte. Essa ala se dividia em dois segmentos: um que tentava encontrar provas de fraude nas eleições para justificar uma recontagem de votos e outro que defendia um golpe de Estado armado, acreditando que Bolsonaro contaria com apoio de forças populares e de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
Além de Eduardo Bolsonaro, o grupo radical contava com a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do ex-ministro Onyx Lorenzoni, do ex-assessor Felipe Martins e do senador Jorge Seiff. Eles pressionavam Bolsonaro a assinar um decreto que instauraria um Estado de Defesa, anulando o resultado das eleições e mantendo-o no cargo.
Já o grupo conservador, liderado por Flávio Bolsonaro, incluía nomes como Ciro Nogueira (então ministro da Casa Civil), o advogado-geral da União Bruno Bianco e o Brigadeiro Batista Júnior (comandante da Aeronáutica). Eles argumentavam que um golpe poderia ser um erro estratégico e que a oposição deveria ser fortalecida de maneira democrática.
A divisão interna entre os apoiadores de Bolsonaro reforça a complexidade da crise política que levou aos eventos do 8 de janeiro. As revelações de Mauro Cid ajudam a esclarecer como diferentes alas dentro do círculo bolsonarista divergiam sobre o caminho a ser seguido após a derrota eleitoral. Agora, o STF deve avaliar as implicações dessas declarações na denúncia contra Bolsonaro e seus aliados.
Pressão de aliados
Cid também revelou que, após iniciar sua delação, sofreu pressões para revelar o conteúdo dos depoimentos. O general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações sobre os primeiros depoimentos.
Segundo Cid, após sua soltura, diversos intermediários entraram em contato com seu pai e sua esposa para descobrir o que ele havia dito à Polícia Federal. Braga Netto chegou a solicitar oficialmente ao STF acesso à delação, mas teve o pedido negado.
Wajngarten também teria feito ligações para familiares de Cid com o mesmo objetivo. Esses contatos estão sendo investigados para verificar se configuram pressão sobre o delator.
A delação de Cid segue como peça-chave nas investigações contra Bolsonaro e seu entorno. A expectativa é que novas revelações surjam nos próximos meses, aprofundando o cerco ao ex-presidente e seus aliados.
Os termos da delação
Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, revelando detalhes comprometedores sobre Bolsonaro e seu círculo próximo.
Em troca de sua colaboração, Cid pediu que suas condenações fossem reduzidas ou limitadas a dois anos de prisão, que seus bens apreendidos fossem devolvidos e que sua segurança e a de sua família fossem garantidas. O acordo também previa que os benefícios fossem estendidos ao pai, à esposa e à filha mais velha do delator.
O STF alertou que os benefícios só serão concedidos caso as informações fornecidas por Cid sejam confirmadas e que qualquer violação do acordo resultará na perda das vantagens. Em novembro de 2024, inconsistências foram apontadas na delação, levando Cid a prestar novos esclarecimentos para evitar o cancelamento do pacto.
Como contrapartida, Cid se comprometeu a contar a verdade sobre todos os crimes que praticou ou presenciou, auxiliar a Polícia Federal na análise de provas e afastar-se de qualquer atividade criminosa. Ele também se comprometeu a relatar se for contatado por qualquer investigado.
A lei brasileira estabelece que, mesmo que o delator descumpra o acordo, as informações prestadas continuam válidas para a Justiça. Assim, as declarações de Mauro Cid já estão sendo utilizadas em inquéritos e processos contra os envolvidos.