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Pesquisador especialista em animais aquáticos acredita que o problema deve ser resolvido nos próximos dias, após o ciclo natural de reprodução da espécie Piranhas atacam moradores e turista na represa do Broa, em Itirapina, interior de São Paulo
Fabio Rodrigues/g1 e Nilson Porcel/EPTV
A Represa do Broa, em Itirapina (SP), já soma 9 ataques de piranhas no período de 15 dias, segundo levantamento divulgado pela prefeitura nesta quinta-feira (13).
Um pesquisador especialista em animais aquáticos acredita que o problema deve ser resolvido nos próximos dias, após o ciclo natural de reprodução da espécie. Contudo, a prefeitura não descarta manter o acesso ao local proibido até o carnaval.
O último caso registrado foi o de um turista de Campo Grande (MS), que sofreu ferimentos no dedo mindinho do pé esquerdo, no sábado (8). (veja abaixo o histórico de ataques).
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O acesso de banhistas está proibido no local desde 27 de janeiro, logo depois do fim de semana em que os primeiros ataques aconteceram. A Prefeitura publicou um decreto com a proibição.
Histórico de ataques na represa:
A prefeitura atualizou o número de ataques para 9 e divulgou um histórico dos ataques no Broa, um ponto turístico que atrai centenas de pessoas da região. Veja:
6 ataques em 26 de janeiro: foram 6 vítimas, sendo 1 criança. Quatro vítimas foram atendidas no hospital São José em Itirapina. Duas procuraram por ajuda em São Carlos. Um empresário ficou ferido no calcanhar.
1 ataque no dia 27 de janeiro: a vítima foi um pescador de Itirapina.
1 ataque no dia 1º de fevereiro: a vítima foi um morador do Broa.
1 ataque no dia 8 de fevereiro: a vítima foi um turista de Campo Grande (MS)
Os ataques dos dias 27 de janeiro e 1º de fevereiro ainda não tinham sido divulgados. “Sempre tomei banho onde tem piranhas e nunca aconteceu ataque. Achei meio duvidoso, aí vim e constatei. Senti uma beliscada no dedo. Saí e vi que tinha arrancado um pedaço”, afirmou o turista do MS em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, no dia do ataque.
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Turista é o 7º atacado por piranha na represa do Broa; local está interditado
O médico e professor da Universidade de São Paulo (USP), de Botucatu, Vidal Haddad Júnior, é especialista em animais aquáticos peçonhentos e estuda o comportamento das piranhas em diferentes ambientes. Uma reunião com a prefeitura e moradores nesta quinta discutiu o assunto.
Haddad Júnior disse que sempre existiu esse tipo de piranha na região da represa. “A espécie que tem aqui chama-se Serrasalmus maculatus. É uma piranha como todas as outras piranhas, mas o caipira paulista botou o nome nela de pirambeba. É originária das bacias do Prata, do Rio Paraguai, o Rio Paraná, e tem também algumas no nordeste”, disse.
O médico e professor da Universidade de São Paulo (USP), de Botucatu, Vidal Haddad Júnior, fala sobre os ataques de piranhas na represa do Broa, em Itirapina
Leandro Vicari/EPTV
Todos as vítimas das piranhas estavam em uma profundidade de pelo menos 50 cm. A prefeitura proibiu a entrada de banhistas na água por meio de um decreto, que ainda está em vigor, mas muita gente não respeita a determinação.
De acordo com o médico, os ataques estão relacionados com a piracema, que é a época de reprodução dos peixes.
“A característica da piranha é a fêmea botar os ovos na vegetação do fundo ou nas raízes de aguapé e a fêmea acaba indo embora. E quem cuida dos ovos até nascerem é o macho, que é um sempre mais agressivo. Então, uma represa que chega a ter 2 mil pessoas no fim de semana, que tenha cinco piranhas defendendo ovos, quantas pessoas vão se aproximar desse ninho?”, disse.
Segundo o especialista, os ataques aconteceram agora por conta da queda do volume de água na represa. “Com o nível da água descendo, o pessoal está se aproximando do local dos ovos. A água tá quase 3 metros [abaixo] do normal e aí a pessoa se aproxima dos ninhos. Mas é um número de acidentes muito pequeno”.,
A proibição de entrar na água aqui na represa pode se atender até o carnaval desse ano. “Tem mais uns 15, 20 dias para a gente ter uma uma posição melhor nesse sentido aí. O carnaval vai pegar nessa parte aí, então a gente corre o risco de ainda estar proibido o banho”, afirmou o secretário de Turismo de Itirapina, Gilberto da Silva Júnior.
Medidas de segurança
Banhistas não têm respeitado decreto que proíbe acesso à Represa do Broa, em Itirapina
Nilson Porcel/EPTV
Algumas medidas de segurança para evitar novos ataques, como isolar a região onde estão depositados os ovos dos peixes, foram apresentadas. “Coisa que não se deve fazer é ficar jogando detritos na água, como resto de sanduíche. Então quando se toma cuidado com isso, e coloca uma rede de proteção, passa o tempo dos ovos, passa as mordidas, e mais uma semana por aí, já deve ter dado o tempo dos ovos nascerem”, ressaltou o pesquisador.
“A gente tinha algumas dúvidas, agora mais para frente a gente já vai começar sair daqui com a cabeça já pensando num projeto para já. Fazer essa sinalização e quanto mais pessoas souberem da proibição, melhor para a gente e para todos”, disse o secretário.
Novas medidas
No dia 8 de fevereiro, a Prefeitura de Itirapina anunciou uma série de medidas que pretende implantar para evitar novos casos na represa do Broa.
Entre elas está a contratação de uma empresa para monitorar o local, uma nova lei e até um campeonato de pesca de piranhas.
Segundo a prefeitura, por ser um problema inédito no município, foram chamados especialistas e órgãos ambientais para a solicitação de orientações, como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) Cuesta Corumbataí, o Comitê de Bacias Hidrográficas, a Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em reunião feita na terça-feira (4) entre representantes da prefeitura, associação de moradores e um biólogo especialista foram definidas três frentes de atuação:
Contratação de uma empresa especializada em realizar o monitoramento da ictiofauna (conjunto de espécies de peixes que habitam uma região biogeográfica) na represa, com o objetivo de levantar informações sobre as frequências de espécies que caracterizam o ecossistema. Com isso, será possível estimar os períodos e locais de maior risco das piranhas e referenciar as decisões da prefeitura.
A criação de uma lei municipal específica para a regulamentação da pesca no município, sobretudo da proibição da soltura de espécies invasoras.
A realização de um campeonato de pesca de piranhas organizado pela associação de moradores, seguindo as regulamentações ambientais pertinentes ao período da piracema.
Não foram divulgadas datas da implantação das medidas ou envio da lei para aprovação da Câmara.
Turista teve pé mordido por piranha na represa do Broa em Itirapina
Arquivo pessoal e Fabio Rodrigues/g1/arquivo
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