O Centro de Florianópolis perde mais uma obra de arte urbana. O mural de Cruz e Sousa na fachada de um prédio particular na Praça XV de Novembro foi apagado esta semana após cinco anos de exibição e não há previsão para que seja refeito.
O painel de 990 m², pintado em junho de 2019 pelo artista Rodrigo Rizo, em homenagem ao poeta catarinense João da Cruz e Sousa. Nascido em Florianópolis, filho de pais negros escravizados, ele foi um importante escritor do movimento literário simbolismo no século XIX.
Rodrigo Rizo considera que o mural “Cisne Negro” teve um “significado enorme para a população de maneira geral e para a cultura do município”.
“Trouxe à tona a representatividade do poeta expoente do simbolismo, João da Cruz e Sousa, cujo rosto estampou por 5 anos a paisagem centenária do coração de uma capital majoritariamente branca, reparando parcialmente os efeitos do apagamento histórico intencional ao qual foi submetido”, escreveu o artista nas redes sociais.
A obra se localizava ao lado do Palácio Cruz e Sousa, que abriga o Museu Histórico de Santa Catarina. A iniciativa partiu de Rizo, em parceria com a produtora Studio de Ideias, e fez parte do projeto StreetArt Tour.
O mural de Cruz e Sousa foi viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, através da Fundação Franklin Cascaes, que permite que empresas destinem 20% do Imposto Sobre Serviços para projetos culturais.
Por que o mural de Cruz e Sousa foi apagado em Florianópolis?
Rodrigo Rizo esclareceu nas redes sociais que o mural do Cruz e Sousa foi apagado por causa da necessidade de manutenção da parede do prédio, que já apresentava fissuras e infiltrações.
“Dada a inviabilidade de fazer as obras de manutenção sem afetar completamente a pintura, optou-se pelo apagamento total desta”, informou o autor da obra.
Ele ainda manifestou sua vontade de repintar o painel, mas declarou que, por enquanto, não há patrocínio ou financiamento que possibilite a realização a curto prazo.
Rizo contou que o mural de Cruz e Sousa foi um grande marco em sua carreira como artista. “Por mais que seja triste ver um trabalho tão importante assim ser apagado, eu já estou acostumado. Já tive centenas de outras obras que eram importantes para mim e que foram apagadas. A efemeridade é parte essencial da arte de rua”, revelou.
“Ainda que o mural seja apagado, a memória de Cruz e Sousa permanecerá viva na mente e no coração de todos que se sentiram representados por essa obra”, declarou o pintor.
Outras figuras históricas também foram apagadas em Florianópolis
O mural de Cruz e Sousa não foi o primeiro a ser apagado no Centro de Florianópolis. A obra em homenagem a Antonieta de Barros, na esquina das ruas Tenente Silveira e Deodoro, também desapareceu.
O painel de 32 metros de altura e 9 metros de largura foi realizada em 2019 pelos artistas Thiago Valdi, Gugie Cavalcanti e Tuane Ferreira. A arte trazia a imagem da jornalista, professora e política Antonieta de Barros, que foi a primeira deputada eleita no Brasil em 1934.
Assim como o mural de Cruz e Sousa, a homenagem teve que ser apagada porque o prédio passa por reformas devido a infiltrações. O mesmo edifício ainda exibia um painel em homenagem ao escritor catarinense Franklin Cascaes, do artista Thiago Valdi, que também foi removido.
“Torço para que Cruz e Sousa volte a ocupar novamente e o mais breve possível esse lugar de destaque que tanto merece”, afirmou Rodrigo Rizo.