O Brasil tem presenciado nos últimos tempos desastres naturais provocados pelas chuvas. As cenas se repetem por várias capitais do país: bairros alagados, árvores caídas nas ruas, imóveis sem água e luz.
Não é preciso ir muito longe no tempo para lembrar de alguns desses casos. Em 2022, as chuvas que atingiram Pernambuco ficaram marcadas como a maior tragédia natural do século no estado.
Em 2022, fortes chuvas assolaram Recife (PE) e causaram deslizamentos de terra, deixando 140 mortes, 122 mil pessoas desalojadas, 68 mil casas danificadas e 3 mil destruídas completamente. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) estima que choveu 500 milímetros em uma única semana, algo considerado atípico.
Mais recentemente, em 2024, o Rio Grande do Sul também enfrentou uma das maiores tragédias climáticas de sua história. Entre o final de abril e início de maio, chuvas intensas provocaram enchentes devastadoras que afetaram mais da metade dos municípios gaúchos. O número de mortos chegou a 183, com dezenas de desaparecidos e mais de 800 feridos.
O governo estadual declarou estado de calamidade pública em 78 municípios e situação de emergência em outros 340, totalizando 456 municípios afetados. A infraestrutura foi severamente danificada, incluindo estradas, pontes e sistemas de abastecimento de água.
O que diz o especialista
Diante desse cenário preocupante, especialistas alertam para a necessidade urgente de mudanças no planejamento urbano e na adaptação das cidades ao novo padrão climático.
O professor de engenharia ambiental da Unesp de Sorocaba, William Dantas Vichete, destaca que as mudanças no regime de chuvas podem transformar áreas antes seguras em regiões suscetíveis a inundações. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das cidades, sem um planejamento adequado, leva à ocupação de áreas de risco, agravando ainda mais a vulnerabilidade da população.
Segundo o especialista, há medidas imediatas que podem ser adotadas para mitigar os impactos desses desastres.
“Sempre será possível melhorar e mitigar esse tipo de problema, mas quanto maior os danos e a severidade, maior são as intervenções e mudanças que precisamos fazer, incluindo mudanças culturais e sociais”, destaca.
Vichete destaca que a implantação de sistemas de alerta e a gestão eficiente das áreas de risco são essenciais para preparar a população vulnerável e minimizar as perdas de vidas humanas. O professor ressalta algumas mudanças possíveis nas capitais que podem ajudar a conter grandes tragédias.
“Mudanças definitivas como novas áreas urbanas com maior áreas permeáveis e infraestrutura para retenção e detenção de águas pluviais “in loco”; realocação sócio-ambiental e sócio cultural de pessoas que vivem em áreas críticas e ampliação da infraestrutura de drenagem urbana pelo conceito de retenção das águas pluviais, envolvendo a ampliação da infiltração e infraestrutura verde-azul”, cita.
No entanto, Vichete destaca que “nada disso funciona 100% se não houver uma mudança cultural, visando gestão de resíduos para evitar que os bueiros sejam entupidos com lixo, rios recebam detritos e esgotos sem tratamentos e até mesmo na consciência de que mesmos os eventos hidrológicos extremos vão passar, sendo melhor ter paciência e aguardar em local seguro”.
Além disso, o especialista comenta que é necessário reformular os planos diretores urbanos, impedindo a ocupação de várzeas e estabelecendo estratégias bem definidas para o uso do solo em regiões propensas a enchentes.
Diante da frequência crescente de desastres relacionados às chuvas, o Brasil enfrenta o desafio de se adaptar a uma nova realidade climática. A implementação de políticas públicas eficazes, aliada ao envolvimento da sociedade, será decisiva para minimizar os impactos dessas tragédias e garantir um futuro mais resiliente para as cidades brasileiras.