Um dos diretores do espaço, DJ Michell destaca importância do coletivo para o movimento cultural carioca DJ Michell
Rio de Agora/Divulgação
Presença certa no Baile Charme do Viaduto de Madureira, no Rio de Janeiro, DJ Michell sabe bem o impacto daquele espaço na vida das pessoas – e fala do assunto com propriedade. O difícil pra ele, aos 44 anos, é explicar em palavras tudo que o lugar significa na própria jornada.
A voz chega a embargar quando o carioca lembra do garoto Michel Jacob Pessoa, nascido e criado na Zona Norte do Rio, e de toda sua trajetória. Além de se tornar um dos DJs responsáveis por colocar todo mundo para dançar, ele é um dos diretores do Espaço Cultural Hip-Hop Charme, conhecido mundialmente como um lugar de resistência e emponderamento negro.
“Não sei nem explicar, não consigo explicar porque a minha formação profissional foi toda ali, familiar também. É muita coisa que mexe na minha vida”, conta.
DJ Michell ainda era um menino quando despertou para a música. Do pai Wilson Alves Pessoa, já falecido, e do padrinho Alexandre Careca veio a influência musical que também domina o Baile Charme, patrimônio imaterial cultural do Rio de Janeiro.
Embora o blues norte-americano e suas raízes africanas sejam a referência, o charme tem toda uma pegada bem carioca na dança, na sensualidade, na coletividade. Foi esse balanço corporal cheio de charme que acabou por batizar o ritmo.
“A questão da dança e do coletivo foram temperos nossos”, explica DJ Michell, se referindo aos movimentos conhecidos como passinhos sociais, dançados em grupos desde a década de 1980.
Para ele, a paixão despertou através da música, antes mesmo do surgimento do baile no viaduto, no início dos anos 1990. Ao lado do pai e do padrinho, viu a origem do movimento, frequentou os clássicos bailes no Clube Vera Cruz, na Abolição, e passou a trilhar o próprio caminho junto ao charme.
Enquanto montava os equipamentos, o menino Michel mexia nos discos. Daí para o interesse em tocar foi um pulo. Nos primeiros anos do Baile Charme do Viaduto de Madureira já foi convidado a ser DJ. Como ainda era adolescente, entrava em cena das 19h às 21h.
“Fui criando uma relação com o viaduto. Só parei quando comecei a faculdade, em 1999. Em 2001 retornei e, desde então, estou lá todo sábado”, conta o DJ, que estudou publicidade pensando em usar o conhecimento para aumentar a visibilidade de tudo que envolve o espaço.
Cultura como ferramenta de empoderamento
Quando fala em fortalecer o movimento, DJ Michell se refere a questões que vão além do baile, razões pelas quais aceitou o convite para ser diretor do núcleo social e cultural: fazer do lugar um espaço de empoderamento, resistência, acolhimento e pertencimento.
“Criei o projeto Rio Charme Social em 2012, oferecendo aulas de dança para o público geral. Atendemos mais de 15 mil pessoas diretamente”, conta.
São ciclos com duração de três meses, com aulas gratuitas às segundas, quintas e sábados. Além de um coordenador, há mais quatro professores. Tudo acontece no mesmo espaço do baile, onde até as paredes ensinam: inaugurada em 2024, uma galeria de arte urbana conta a história da música preta, com imagens feitas por artistas grafiteiros.
“Um espaço embaixo de um viaduto costuma ser ligado à degradação, insegurança, e a gente transformou esse espaço num local vivo, com cultura, moda. É um local familiar, não tem problemas com violência ou drogas”, explica.
Os bailes acontecem todos sábados, das 22h às 5h. Num deles, há 20 anos, DJ Michell conheceu a esposa, Lhidiane. Os dois são pais de Ricardo, de 8 anos.
“Meu filho é fruto desse baile”, acrescenta.
A profissão e a família são apenas alguns dos frutos. Mais do que colher, o carioca quer seguir semeando para que o espaço siga sendo referência como um lugar de resistência e empoderamento negro, sobretudo para jovens negros periféricos que encontram ali acolhimento e pertencimento.
“O charme tem impacto positivo na vida das pessoas, não é só diversão. Elas vão para dançar, mas o mais importante é o impacto que gera. É algo que a gente não consegue mensurar”, afirma.
Ao preservar um dos fenômenos culturais mais marcantes das periferias cariocas, o Baile Charme atrai o mundo. No início do ano, o jornal New York Times publicou uma matéria de página inteira, com chamada de capa, destacando a importância do espaço como berço da cultura da black music no Rio e parte das belezas da cidade.
Programa de diversidade “Respeito Dá o Tom” promove inclusão de pessoas negras na Águas do Rio Diversidade
Inclusão e diversidade também dentro das empresas
Divulgação
Empoderar pessoas negras e promover a diversidade tem sido um movimento importante também para o mundo corporativo. Na Águas do Rio, o programa de diversidade Respeito Dá o Tom (criado pela Aegea, empresa que controla a concessionária), foi implantado em 2021, quando a concessionária iniciou sua operação. O objetivo do projeto é promover a inclusão de pessoas negras (e a igualdade de gênero) em todos os níveis hierárquicos da companhia.
A iniciativa tem como base três pilares de atuação: empregabilidade, com foco na geração de oportunidades; desenvolvimento dos colaboradores; e relacionamento, com a sensibilização dos colaboradores por meio da abordagem de pautas e ações sobre diversos temas. O Respeito Dá o Tom foi reconhecido pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) como um dos principais programas de igualdade racial do país, sendo certificado com o Selo “Sim à Igualdade Racial”.
A Águas do Rio atua com responsabilidade corporativa e tem buscado construir um legado pelo fim da desigualdade racial e de gênero existente no mercado de trabalho. Hoje, mais de 70% dos funcionários da concessionária se autodeclaram pretos e pardos – e aproximadamente 50% dos profissionais são de comunidades da área de concessão da empresa. A meta da empresa é ter 34% dos cargos de liderança (gerência e diretoria) ocupados por pessoas negras.
O Respeito Dá o Tom também virou uma websérie no canal do YouTube da concessionária e já está na segunda temporada.