Após uma análise detalhada, o DNA de 64 esqueletos encontrados em uma câmera subterrânea no México foram identificados. Os pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva na Alemanha afirmaram que os ossos pertenciam a meninos maias sacrificados, muitos com idade entre 3 a 6 anos.
O estudo foi realizado na cidade maia de Chichén Itzá, no México, que abrigava restos mortais de mais de 100 pessoas sacrificadas em rituais realizados ao longo de 500 anos. De forma incomum, todas as vítimas eram meninos, sendo que alguns deles eram parentes próximos, incluindo dois pares de gêmeos.
“Muitos indivíduos eram parentes, o que sugere que apenas famílias específicas tinham acesso a esse tipo de sepultamento. Isso não era algo comum, mas uma honra significativa”, afirmou Rodrigo Barquera, pesquisador do instituto.
A análise, publicada na revista científica Nature, utilizou datação por carbono e sequenciamento genético para estudar os ossos encontrados em um “chultun” — reservatório subterrâneo de água. A câmara esteve ativa entre o início do século 7 e meados do século 12.
Os meninos maias sacrificados estavam sem sinal de violência
A ausência de sinais de trauma nos meninos maias sacrificados foi algo que deixou os pesquisadores intrigados. “Não encontramos marcas de violência que indiquem que os corpos foram jogados ou maltratados antes do sepultamento”, explicou Barquera. Sendo assim, estudos futuros poderão revelar se as vítimas foram envenenadas ou morreram de outras formas.
Os pesquisadores ainda destacaram que sepultamentos semelhantes na cultura maia geralmente envolviam jovens do sexo feminino ou uma combinação de homens e mulheres. No entanto, o sepultamento exclusivamente masculino e o vínculo familiar entre os indivíduos fazem deste achado um mistério.
Possíveis significados rituais envolvendo os meninos maias sacrificados
Uma hipótese levantada pelos pesquisadores sugerem que os sacrifícios podem ser relacionados a apelos às divindades por chuvas ou boas colheitas. Outro ponto de destaque é a presença de gêmeos, que pode estar ligada à mitologia maia.
“Sabemos que, para os maias, os gêmeos masculinos eram figuras importantes, associados aos ‘gêmeos heróis’ da tradição, que desceram ao submundo para vingar o pai”, comentou Barquera.
O estudo também aponta que os meninos sacrificados compartilhavam ancestrais com as populações indígenas que ainda vivem na Península de Yucatán, também no México. Curiosamente, os descendentes possuem maior resistência genética à bactéria Salmonella enterica, possivelmente em decorrência de epidemias que ocorreram durante o período colonial.
Por isso, além dos avanços científicos, a equipe de pesquisadores planeja colaborar com as comunidades locais para ampliar o entendimento sobre a história e a herança cultural da região. “Há muito o que aprender com eles”, conclui Barquera.
Quem eram os maias?
Os maias, uma das civilizações mais sofisticadas das Américas pré-colombianas, teve seu surgimento entre 2 mil a.C (antes de Cristo) e 1.500 d.C (depois de Cristo) na região que hoje abrange partes do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador.
Conhecidos por suas realizações avançadas em astronomia, matemática, arquitetura e escrita hieroglífica, os maias desenvolveram cidades-estado independentes conectadas por uma rede comercial. Conforme um estudo no Journal of Atnthropological Research, foi destacado que sua sociedade era profundamente estruturada, com uma hierarquia que incluía nobres, sacerdotes, guerreiros e agricultores.
Além disso, a religião desempenhava um papel central, com rituais elaborados e sacrifícios realizados para honrar os deuses e garantir equilíbrio cósmico. Pesquisas arqueológicas e genéticas recentes também revelam a habilidade maia em gerenciar recursos naturais, adaptando-se a desafios ambientais por meio de técnicas agrícolas avançadas, como os terraços e reservatórios de água.
Sacrifícios e estudos sobre a cultura maia
Alguns estudos antropológicos citam que os rituais, como o dos meninos maias sacrificados, eram comuns entre essa civilização, muitas vezes associados a questões de fertilidade, renovação e conexão espiritual com as divindades.
Um artigo publicado na Journal of Anthropological Archaeology reforça que sacrifícios em culturas pré-colombianas simbolizavam transições de poder ou respostas a crises ambientais, como secas ou doenças.