Todo verão, o cenário se repete: praias lotadas, turistas e moradores aproveitando o sol e, infelizmente, uma onda de viroses que atinge a população. O aumento expressivo de casos registrados pela rede pública de saúde não é novidade, mas a resposta ao problema segue insuficiente, ano após ano. A cada temporada, culpados são apontados, desde o queijo vendido na praia até hábitos individuais, enquanto a raiz da questão, frequentemente associada à falta de saneamento básico, continua sendo ignorada.
Estudos indicam que viroses podem ser transmitidas por diversas vias, incluindo o contato ou a ingestão de pequenas quantidades de água contaminada com fezes humanas. Segundo levantamentos, apenas 34,8% da população em Santa Catarina tem acesso à rede de esgoto, aos serviços de saneamento básico. Embora não se possa estabelecer uma relação direta em todos os casos, a baixa cobertura de esgotamento sanitário é um fator que merece atenção, especialmente quando se considera que muitos municípios enfrentam problemas semelhantes com impactos na saúde pública.
Apesar de investimentos pontuais no saneamento básico, a realidade é que eles têm sido insuficientes para atender à demanda. Na maioria das áreas, ainda faltam redes públicas de esgotamento sanitário que realizem todas as etapas necessárias, coleta, transporte, tratamento e disposição final adequada. O resultado é perceptível: aumento de casos de doenças típicas de verão, sobrecarga no sistema de saúde.
É inaceitável que uma cidade como Florianópolis, que tanto lucra com o turismo, negligencie uma questão tão fundamental. Enquanto grandes eventos movimentam a economia local e a paisagem urbana ganha novos empreendimentos, a carência de saneamento básico expõe uma desigualdade preocupante, que deveria ser tratada como prioridade.
Saneamento básico é um direito constitucional, indispensável à saúde, à dignidade e à qualidade de vida. Negligenciar esse serviço essencial compromete não apenas a saúde da população, mas também o desenvolvimento econômico e social da cidade. Não basta remediar os efeitos a cada verão; é preciso atacar as causas do problema com investimentos robustos e uma gestão comprometida.
Florianópolis, com sua beleza natural e potencial econômico, merece soluções à altura. É hora de transformar promessas em ações concretas. Que o próximo verão não seja apenas mais uma repetição das mesmas histórias, mas o início de uma mudança efetiva.
Thaiza Fabiula De Souza Araujo Marca. Advogada. Especialista em Direito do Consumidor. Pós-graduada em Direito Civil, Processo Civil, Imobiliário e Direito Público. Colunista Jurídica. Ajudando as pessoas a entenderem seus direitos. Acompanhe o meu trabalho @thaizamarca e @thaizamarca.advocacia