{"id":152283,"date":"2025-04-01T14:26:15","date_gmt":"2025-04-01T17:26:15","guid":{"rendered":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/bbcbrasil\/152283"},"modified":"2025-04-01T14:26:15","modified_gmt":"2025-04-01T17:26:15","slug":"61-anos-do-golpe-militar-conheca-piauienses-mortos-perseguidos-e-cassados-pela-ditadura","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/bbcbrasil\/152283","title":{"rendered":"61 anos do golpe militar: conhe\u00e7a piauienses mortos, perseguidos e cassados pela ditadura"},"content":{"rendered":"

Segundo a Comiss\u00e3o Nacional da Verdade (CNV) e o Comit\u00ea por Mem\u00f3ria, Verdade e Justi\u00e7a (CMVJ) do Piau\u00ed, dois piauienses foram assassinados e nove deputados do estado foram cassados pelo regime ditatorial entre 1964 e 1985. Ant\u00f4nio P\u00e1dua, morto, e Chagas Rodrigues, cassado pela ditadura militar
\nMemorial da Resist\u00eancia de S\u00e3o Paulo\/Ag\u00eancia Senado
\nNesta ter\u00e7a-feira, completa-se 61 anos do golpe militar no Brasil, que ocorreu entre 31 de mar\u00e7o e 1\u00ba de abril de 1964. O regime autorit\u00e1rio que comandou o pa\u00eds at\u00e9 1985 perseguiu, torturou e matou opositores no Piau\u00ed e o g1 re\u00fane, nesta reportagem, alguns dos alvos da ditadura e mostra suas contribui\u00e7\u00f5es na luta pela democracia.
\nHistoriadores desse per\u00edodo afirmam que h\u00e1 uma tentativa de negar ou minimizar os efeitos nefastos do regime no estado. Mas a Comiss\u00e3o Nacional da Verdade (CNV) e o Comit\u00ea por Mem\u00f3ria, Verdade e Justi\u00e7a (CMVJ) do Piau\u00ed, apontam assassinatos e a cassa\u00e7\u00e3o deputados piauienses.
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\nSegundo as entidades, dois piauienses foram assassinados pela ditadura. Um deles, como o famoso ex-deputado federal Rubens Paiva, o qual a hist\u00f3ria \u00e9 contada no filme ganhador do Oscar 2025 “Ainda estou aqui”, nunca foi encontrado.
\nAo todo, um deputado federal e oito estaduais foram cassados pelo regime. O CNV e CMVJ tamb\u00e9m contam quase 40 presos, processados e perseguidos pelos agentes do governo. Clique, abaixo, no t\u00f3pico desejado para conhecer as hist\u00f3rias de alguns deles:
\nMortos por envolvimento com guerrilha
\nL\u00edderes comunit\u00e1rios e sindicais perseguidos
\nPol\u00edticos trabalhistas cassados
\nA professora Marylu Oliveira, p\u00f3s-doutora em hist\u00f3ria pela Universidade Federal do Cear\u00e1 (UFC), destacou que a maioria dos piauienses perseguidos pelo regime militar estava envolvida, de uma forma ou outra, na defesa das reformas de base promovidas pelo presidente Jo\u00e3o Goulart, deposto pelo ex\u00e9rcito.
\n“Eles faziam parte de um projeto, na d\u00e9cada de 60, que era de reforma social, pol\u00edtica, estudantil e agr\u00e1ria. Pensavam em uma sociedade brasileira menos desigual. Essas lutas sempre foram vistas como uma amea\u00e7a \u00e0s elites, cujo discurso acabou sendo centrado no medo da amea\u00e7a comunista”, explicou a professora.
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\nJ\u00e1 o professor Leandro Castro, doutor em hist\u00f3ria pela Universidade Federal Fluminense (UFF), come\u00e7ou a pesquisar sobre a ditadura em Parna\u00edba inspirado pela experi\u00eancia do av\u00f4 \u2013 l\u00edder sindical da Confedera\u00e7\u00e3o Nacional dos Trabalhadores na Ind\u00fastria (CNTI) entre as d\u00e9cadas de 50 e 60 e perseguido pelos militares.
\n\u201cComecei a questionar as mem\u00f3rias de que aqui n\u00e3o houve nada durante a ditadura militar, essas mem\u00f3rias apaziguadoras que tentam distanciar Parna\u00edba dos eventos do regime. A maioria dos trabalhadores aderia ao trabalhismo, mas era colocada no guarda-chuva do comunismo para facilitar a ades\u00e3o da sociedade ao golpe\u201d, ressaltou Leandro.
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\nMortos por envolvimento com guerrilha
\nAnt\u00f4nio de P\u00e1dua Costa
\nAnt\u00f4nio P\u00e1dua era estudante e entrou para a guerrilha do Araguaia
\nReprodu\u00e7\u00e3o\/Comiss\u00e3o Nacional da Verdade
\nNascido em Lu\u00eds Correia, no litoral do Piau\u00ed, Ant\u00f4nio de P\u00e1dua era estudante de Astronomia e F\u00edsica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele atuou no movimento estudantil da institui\u00e7\u00e3o entre 1967 e 1970, e foi preso pela primeira vez durante o 30\u00ba Congresso Nacional da Uni\u00e3o Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibi\u00fana (SP), em 1968.
\nDesde ent\u00e3o, passou a ser perseguido e entrou para a milit\u00e2ncia do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1970, mudou-se para o Sudeste do Par\u00e1, onde assumiu o comando do Destacamento A da guerrilha do Araguaia \u2013 um movimento de resist\u00eancia armada contra a ditadura militar.
\nAnt\u00f4nio esteve em um tiroteio com militares em janeiro de 1974 e, depois disso, n\u00e3o foi mais visto pelos outros guerrilheiros. Segundo a CNV, ele foi v\u00edtima de desaparecimento for\u00e7ado durante a Opera\u00e7\u00e3o Marajoara, planejada e comandada pelo ex\u00e9rcito de Bel\u00e9m (PA), e listado como morto no relat\u00f3rio da Marinha entregue ao Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a em 1993.
\n“A Opera\u00e7\u00e3o Marajoara foi ‘descaracterizada, repressiva e antiguerrilha’, ou seja, com uso de trajes civis e equipamentos diferenciados dos usados pelas For\u00e7as Armadas. O seu \u00fanico objetivo foi destruir as for\u00e7as guerrilheiras atuantes na \u00e1rea e sua ‘rede de apoio’, os camponeses que com eles mantinham ou haviam mantido algum tipo de contato, escreveu a comiss\u00e3o.
\nAnt\u00f4nio de Ara\u00fajo Veloso
\nLavrador nascido em Bertol\u00ednia (PI), Ant\u00f4nio Veloso morava com a esposa e os sete filhos em S\u00e3o Domingos do Araguaia (PA). Ele conheceu alguns guerrilheiros que se instalaram na regi\u00e3o e moraram em sua casa at\u00e9 o ex\u00e9rcito se instalar no Sul do Par\u00e1 para combater a guerrilha.
\nEm depoimento a um jornal de S\u00e3o Paulo (SP), em 1980, a esposa de Ant\u00f4nio relatou que o marido levou um guerrilheiro \u00e0 Transamaz\u00f4nica, em 1972, e foi abordado por soldados que procuravam o combatente. Como n\u00e3o o encontraram, prenderam o lavrador e o obrigaram a servir de guia para o ex\u00e9rcito.
\nAnt\u00f4nio morreu quatro anos depois da pris\u00e3o, em 1976. O processo sobre o piauiense na Comiss\u00e3o Especial sobre Mortos e Desaparecidos Pol\u00edticos (CEMDP), em 1996, revelou um atestado m\u00e9dico em que ele foi diagnosticado com politraumatismo, hematomas e esquimoses.
\nAl\u00e9m de ter sido espancado violentamente e ter ficado dias sem \u00e1gua e comida, ele foi colocado com os p\u00e9s sobre latas abertas que cortavam seus p\u00e9s toda vez que se movia. Esse tratamento teria lhe ocasionado diversas sequelas, impossibilitando-o de trabalhar e sustentar sua fam\u00edlia, citou o relat\u00f3rio da CNV.
\nL\u00edderes comunit\u00e1rios e sindicais perseguidos
\nIracema Santos Rocha da Silva
\nIracema Santos ao lado do ex-presidente da OAB-PI, Celso Barros Neto
\nDivulga\u00e7\u00e3o\/OAB-PI
\nA advogada Iracema Santos nasceu em Floriano (PI), em 1927, e se candidatou \u00e0 Prefeitura de Teresina nas d\u00e9cadas de 50 e 60. Ex-presidente da Liga Feminina Trabalhista, ela conseguiu ser eleita deputada federal em 1970, mas foi cassada pela ditadura.
\nAntes disso, em 1964, foi acusada pelos militares de comunismo e subvers\u00e3o e encarcerada no 25\u00ba Batalh\u00e3o de Ca\u00e7adores, na capital, onde teve de depor aos agentes do regime. Quando foi solta, a proibiram de encontrar-se com qualquer pessoa.
\nEla foi conduzida a prestar depoimentos no ex\u00e9rcito no Dia das M\u00e3es, o que criou uma situa\u00e7\u00e3o muito impactante. Se hoje em dia h\u00e1 uma dificuldade importante na introdu\u00e7\u00e3o das mulheres no espa\u00e7o pol\u00edtico, naquela \u00e9poca era muito incomum uma mulher jovem e aguerrida politicamente, considerou a professora Marylu Oliveira.
\nDe acordo com as pesquisas do CMVJ, Iracema tamb\u00e9m perdeu o emprego como professora da Universidade Federal do Piau\u00ed (UFPI) e um cargo no Instituto Nacional de Coloniza\u00e7\u00e3o e Reforma Agr\u00e1ria (Incra). Ela foi anistiada pelo governo federal, em 2015, e recebeu uma indeniza\u00e7\u00e3o de R$ 150 mil.
\nEvil\u00e1sio dos Santos Barros
\nCarteira profissional de Evil\u00e1sio Barros, oper\u00e1rio e l\u00edder sindical
\nAcervo particular da fam\u00edlia de Evil\u00e1sio Barros
\nO oper\u00e1rio Evil\u00e1sio Barros nasceu em Buriti dos Lopes (PI), mas come\u00e7ou a trabalhar e constituiu fam\u00edlia em Parna\u00edba, no litoral do Piau\u00ed. Entre o fim dos anos 1950 e in\u00edcio dos anos 1960, representava a Federa\u00e7\u00e3o dos Trabalhadores da Ind\u00fastria no estado, vinculada nacionalmente \u00e0 CNTI.
\nSeu neto, o professor Leandro Castro, afirmou que a ditadura militar incluiu o av\u00f4 no Inqu\u00e9rito Policial Militar (IPM) aberto em Parna\u00edba em 1964, pouco depois do golpe, o primeiro instaurado no Piau\u00ed. Os militares notavam que Evil\u00e1sio viajava constantemente e recebia instru\u00e7\u00f5es para fazer greves.
\nAp\u00f3s o golpe, ele estava em viagem para Fortaleza (CE) e, quando retornou, soube que os militares estiveram em sua casa, em busca dele, para interrog\u00e1-lo. Chegaram de madrugada \u00e0 casa da minha av\u00f3 gr\u00e1vida, revistaram a resid\u00eancia toda sem nenhum mandado, em clima de terror. Ele se apresentou com o advogado e ficou duas semanas preso, contou o professor.
\nEmbora n\u00e3o pertencesse a nenhum partido pol\u00edtico, Evil\u00e1sio perdeu os direitos de se candidatar e votar para cargos p\u00fablicos. Em 2011, recebeu uma indeniza\u00e7\u00e3o de R$ 100 mil do governo federal, que reconheceu que o ex-oper\u00e1rio foi perseguido e sofreu tortura psicol\u00f3gica pelo Estado. Ele faleceu em 2015.
\nPol\u00edticos trabalhistas cassados
\nFrancisco das Chagas Caldas Rodrigues
\nChagas Rodrigues foi governador, senador e deputado federal pelo Piau\u00ed
\nC\u00e9lio Azevedo\/Ag\u00eancia Senado
\nAdvogado, professor e tenente da reserva do ex\u00e9rcito, Chagas Rodrigues nasceu em Parna\u00edba (PI) e \u00e9 um dos personagens mais relevantes da hist\u00f3ria da pol\u00edtica piauiense. Ele governou o estado entre 1959 e 1962 e foi eleito deputado federal em 1964, quando passou a ser perseguido pela ditadura.
\nSua atua\u00e7\u00e3o enquanto governador ficou marcada pela implanta\u00e7\u00e3o do servi\u00e7o social no Piau\u00ed, distribui\u00e7\u00e3o de ferramentas para trabalhadores e camponeses e discursos em defesa da reforma agr\u00e1ria. Ele foi inserido no primeiro IPM instaurado pelos militares no estado.
\nAntes filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), foi obrigado a migrar para o Movimento Democr\u00e1tico Brasileiro (MDB), a \u00fanica legenda de oposi\u00e7\u00e3o permitida pelo regime militar. Em 1969, teve o mandato cassado pelo Ato Institucional n\u00ba 5 (AI-5).
\nChagas Rodrigues chegou a ser exilado do estado, mas foi anistiado em 1979 e retornou \u00e0 vida pol\u00edtica em 1986, quando foi eleito senador. O governo federal o indenizou em 2007, dois anos antes de sua morte.
\nJesualdo Cavalcanti de Barros
\nJesualdo Cavalcanti teve o mandato de vereador cassado pela ditadura
\nDivulga\u00e7\u00e3o\/Jesualdo Cavalcanti
\nNascido em Corrente (PI), o advogado Jesualdo Cavalcanti foi um membro ativo do movimento estudantil entre os anos 1950 e 1960. Ele se elegeu pela primeira vez a um cargo p\u00fablico em 1962, quando entrou para a C\u00e2mara dos Vereadores de Teresina.
\nO mandato como vereador, por\u00e9m, durou apenas dois anos. Com o golpe promovido em 1964, ele entrou na mira dos militares por ser filiado ao PTB. Em sua autobiografia, publicada em 2006, o pol\u00edtico lembrou que foi cassado pelos colegas de bancada e preso e humilhado pelos agentes do regime.
\nS\u00f3 um vereador do PTB se absteve, mas todos os outros colegas votaram a favor da cassa\u00e7\u00e3o porque o ex\u00e9rcito exigiu. Ele foi exposto em um caminh\u00e3o na pra\u00e7a Pedro II, onde se passava com os presos pol\u00edticos na \u00e9poca. Na pris\u00e3o, os carcereiros falavam que ele seria jogado no rio, faziam amea\u00e7as veladas e expl\u00edcitas, comentou a professora Marylu Oliveira.
\nJesualdo recuperou os direitos pol\u00edticos em 1974 e voltou \u00e0 vida p\u00fablica como deputado estadual, em 1978. Ele se elegeu deputado federal, assinou a Constituinte de 1988 e encerrou a carreira pol\u00edtica como prefeito de sua cidade natal, Corrente, em 2012, antes de falecer em 2019.
\nGolpe militar deu in\u00edcio a per\u00edodo de repress\u00e3o pol\u00edtica nos anos 60 e 70
\n\ud83d\udcf2 Confira as \u00faltimas not\u00edcias do g1 Piau\u00ed
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Segundo a Comiss\u00e3o Nacional da Verdade (CNV) e o Comit\u00ea por Mem\u00f3ria, Verdade e Justi\u00e7a (CMVJ) do Piau\u00ed, dois piauienses foram assassinados e nove deputados do estado foram cassados pelo regime ditatorial entre 1964 e 1985. Ant\u00f4nio P\u00e1dua, morto, e Chagas Rodrigues, cassado pela ditadura militar Memorial da Resist\u00eancia de… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-152283","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152283","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=152283"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152283\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=152283"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=152283"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/bbc.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=152283"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}