

A dor de cabeça provocada por um vidro trincado – Foto: Jatir Fernandes/Reprodução/ND
Caro (a) leitor (a),
Semana passada, vivi uma situação que me tirou do sério. Compartilhei nas redes, mas achei que valia trazer para cá também — porque o que parecia apenas um desabafo virou um ponto importante de reflexão. Principalmente porque não sou de me irritar com facilidade, e menos ainda de levantar bandeiras. Mas talvez o que eu deteste ainda mais do que levantar bandeiras seja ter minha inteligência subestimada.
Tudo começou com uma pedrinha que atingiu o para-brisa do meu carro e provocou uma trinca. Agendei a troca com a seguradora, tudo certo. Levei o computador, fui até a loja e fiquei na salinha, tocando reuniões enquanto o serviço era feito.
Na chegada, já fui surpreendida com a tentativa de incluir um serviço extra — que não fazia parte do orçamento e nem tinha garantia de necessidade: “Pode ser que a câmera de ré precise ser recalibrada. Se for o caso, são R$ 500. Antecipado. Sem certeza de que será necessário.” E se não fosse necessário? Bem… o prejuízo ficava comigo. Um ótimo negócio — para eles, claro.
Três horas depois, fui chamada. O vidro, trocado. Mas a borracha? Encolhida, mal encaixada, com cola aparente e claramente reaproveitada. Questionei. Vieram as desculpas: que não tinham a peça, que precisavam de autorização da seguradora, que era assim mesmo. E um detalhe: durante todo esse tempo, ninguém me procurou para dar uma posição ou confirmar qualquer alteração no serviço.
Só esqueceram de um detalhe importante: a dona da corretora de seguros é minha amiga. E enquanto tentavam me enrolar, eu estava com ela ao telefone. Sim, havia borracha. Sim, havia autorização. Sim, eles podiam — e deviam — ter feito certo desde o início. Mas não fizeram. Porque acharam que eu não ia perceber. Porque, até hoje, existe essa mania de subestimar a inteligência da mulher em ambientes “masculinos”.
E não é sobre um erro técnico. É sobre a escolha consciente de entregar um serviço malfeito esperando que a cliente — mulher, sozinha — aceite calada.
E a gente vai somando essas pequenas indignações. Porque não é só na oficina. É no mercado, no hospital, na empresa.
E, sim, também nos relacionamentos.
Quando o questionamento sobre respeito é deturpado e rotulado como “ciúmes”. Respeito não se exige — se oferece.
Acredito que o que é bonito é para ser visto e admirado, de ambos os lados. Mas tem situações que ultrapassam o bom senso. Aquelas cenas clássicas: você está num restaurante, num evento, e o parceiro (ou parceira) flerta com alguém na sua frente. Confesso: posso viver mil anos e ainda não vou entender esse tipo de comportamento. Mas claro que cada qual com suas regras. O acordado não sai caro. Não pelo flerte em si — o vento sopra para todos os lados. Mas por maturidade, paz ou talvez por termos sido educadas, por muito tempo, a fingir que não vimos para evitar conflito.
E se você questiona, a resposta vem pronta:“Você está com ciúmes.”
Mas não é ciúmes. É radar. É percepção. É inteligência.
Existe uma diferença enorme entre ser ciumento (a) e ter percepção. E essa diferença mora nesse lugar afiado e silencioso de quem observa, conecta pontos e simplesmente sabe.
Subestimar a inteligência de alguém — seja na oficina ou no amor — não é só um erro. É, acima de tudo, um ato deselegante.