
Tarcísio Araújo participa virtualmente de audiência de instrução e julgamento que começou nesta quinta-feira (8). Defesa confirmou que cliente viaja a trabalho. Tarcísio Araújo e Nayara Vilela se casaram em uma cerimônia luxuosa em março deste ano
Arquivo/Jozadarque Photoart AC
O marido da cantora Nayara Vilela, Tarcísio Araújo da Mota, não compareceu presencialmente na audiência de instrução e julgamento que acontece nesta quinta-feira (8) no Fórum Criminal de Rio Branco. Ele é acusado de envolvimento na morte da cantora e foi denunciado pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) por feminicídio em janeiro do ano passado.
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Após mais de dois anos, a Justiça começou a ouvir nesta quinta testemunhas e demais envolvidos no caso, inclusive Tarcísio, que está em viagem a trabalho e participa de forma remota.
O advogado Wellington Silva justificou que a audiência não foi marcada em tempo hábil e o cliente já estava viajando.
O promotor público do MP-AC que atua no caso, Efraim Mendoza, contestou a versão da defesa e afirmou que as audiências ocorrem de acordo com uma pauta e a audiência sobre a morte de Nayara “foi, digamos, pautada com bastante antecedência”, disse ele.
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Nayara Vilela, de 32 anos, foi encontrada morta em casa na noite do dia 24 de abril na Estrada das Placas, em Rio Branco. As apurações foram feitas pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) com base nos vídeos divulgados nas redes sociais que mostraram uma discussão entre a cantora e o marido momentos antes da tragédia.
Inicialmente, o caso foi analisado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que descartou a hipótese de feminicídio. No entanto, diante de novos elementos, o inquérito foi encaminhado à Deam, que aprofundou as diligências e concluiu pelo indiciamento do marido da vítima
A cantora foi velada em Sena Madureira, interior do Acre, onde morava parte da família dela. A morte da artista causou comoção e amigos fizeram homenagens pelas redes sociais.
Em dezembro de 2023, a Polícia Civil indiciou o empresário pelo crime.
Audiência de instrução e julgamento
A primeira audiência de instrução e julgamento deve se estender até esta sexta (9) e serão testemunhas, tanto da acusação como de defesa, são apresentadas as provas referentes ao caso e, ao final, as partes farão as alegações orais.
Após as alegações, a Justiça vai decidir se pronuncia ou não o acusado a júri popular. Uma equipe da Rede Amazônica Acre esteve no Fórum Criminal e conversou com a defesa do acusado e o representante do MP-AC no caso. O MP-AC defende que o acusado seja julgado por um júri popular.
O advogado Wellington Silva declarou que espera que a audiência ‘conte a verdade’ e demonstre que o cliente é um viúvo enlutado, que além de sofrer pela morte da esposa, também sofre por responder pelo processo. “Um processo injusto, cruel, que o Ministério Público tenta, por todas as formas e maneiras, desvirtuar a verdade e colocar um inocente no banco dos réus”, assegurou ele
Uma das teses da defesa é que Tarcísio não sabia que Nayara precisava de ajuda psicológica maior do que a que já tinha.
Nayara Vilela foi achada morta em casa em abril de 2023
Divulgação
“Do ponto de vista psíquico, se a Nayara tinha alguma síndrome, alguma doença, alguma enfermidade, era de total desconhecimento do Tarcísio, que não teve acesso a qualquer prontuário médico, laudo ou conversa com o médico que dissesse que ela sofria de algum problema de ordem psicológica” reiterou.
A defesa ainda alegou que o marido de Nayara, como leigo em questões de saúde, não tinha a obrigação de saber, mas que tinha alguns cuidados com a esposa. “Ele acompanhava, conversava. O fato de ela ter, talvez, uma personalidade voltada à ansiedade, pra ele, como leigo, não era suficientemente possível ou imaginável que ela desse cabo à própria vida. Isso não era esperado por ele, até porque era um marido dedicado à família e à esposa”, mencionou.
Para o promotor Efraim Mendonza, o Tribunal do Júri, que é formado pelo povo, deve dar resposta ao ato de violência sofrido por Nayara. “Quero aproveitar essa ocasião, já que é um caso muito importante, emblemático, e pedir que a morte da Nayara não seja em vão. Que ela represente a voz das mulheres”, pediu.
O promotor acusou a defesa de fundamentar sua tese em uma teoria que confia em um sistema machista, misógino que ainda é a nossa sociedade. “Não é só a sociedade acreana, o Brasil inteiro. Ela [a defesa] acredita nisso, na impunidade. Agora, nós acreditamos na verdade, no sangue que foi derramado. E assim estamos buscando justiça”, concluiu.
Marido se defendeu
Na época, o g1 entrou em contato com o empresário após a divulgação da denúncia por mensagem e ele respondeu apenas ‘nada a declarar’.
Dias após o crime, Tarcísio Araújo fez um desabafo sobre as críticas e acusações que recebeu nas redes sociais e pediu respeito.
Na postagem, feita no dia 29 de abril, o empresário rebateu as acusações, disse que amava a esposa e jamais faria algo para machucá-la. Tarcísio explicou também o motivo que levou ele a gravar as imagens da esposa abalada antes do suicídio.
Tarcísio Araújo e Nayara Vilela se casaram em uma cerimônia luxuosa em março deste ano
Arquivo/Jozadarque Photoart AC
“Eu entendo que o que aconteceu foi uma tragédia e que muitas pessoas estão procurando respostas e culpados para essa situação. Mas, peço a todos que tenham um pouco de empatia e considere a minha dor e a dor da minha família. Eu amava muito a minha esposa e jamais faria algo para machucá-la ou causar-lhe algum mal. Nós tivemos momentos muitos felizes juntos, mas também passamos por momentos difíceis e desafiadores. A doença dela era uma questão que lidávamos juntos, com muito amor e respeito”, diz na publicação.
Ainda na publicação, Tarcísio disse que gravou os vídeos para enviar para a mãe da cantora, que era a pessoa que conseguia acalmá-la. Argumentou também que a intenção era ajudar a esposa e pediu desculpa se as imagens causaram desconforto a alguém.
Tarcísio Araújo e Nayara Vilela se casaram em uma cerimônia luxuosa em março de 2023. Nas redes sociais, Nayara postava declarações e fotos do casamento.
A PM disponibiliza os seguintes números para que a mulher peça ajuda:
(68) 99609-3901
(68) 99611-3224
(68) 99610-4372
(68) 99614-2935
Veja outras formas de denunciar casos de violência contra a mulher:
Polícia Militar – 190: quando a criança está correndo risco imediato;
Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes;
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
Qualquer delegacia de polícia;
Secretaria de Estado da Mulher (Semulher): recebe denúncias de violações de direitos da mulher no Acre. Telefone: (68) 99930-0420. Endereço: Travessa João XXIII, 1137, Village Wilde Maciel.
Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
Ministério Público;
Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
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