
Os cientistas estão investigando, pela primeira vez, a quão perigosa pode ser a próxima grande erupção na ilha. Turistas visitam Oia, na ilha de Santorini, Grécia, em 31 de agosto de 2022
Louiza Vradi/Reuters
No topo dos penhascos escarpados de Santorini, encontra-se uma indústria turística mundialmente famosa que vale bilhões.
Abaixo deles, no fundo do mar, esconde-se a ameaça efervescente de uma enorme explosão.
Uma antiga erupção de grandes proporções criou a encantadora ilha grega, deixando uma enorme cratera e uma borda em forma de ferradura.
Agora, os cientistas estão investigando, pela primeira vez, o quão perigosa pode ser a próxima grande erupção.
Ilha grega de Santorini está em alerta para terremotos
A equipe de reportagem da BBC News passou um dia a bordo do navio de pesquisa real britânico Discovery, enquanto eles procuravam por pistas.
Poucas semanas antes, quase metade dos 11 mil habitantes de Santorini havia fugido por questões de segurança quando a ilha foi atingida por uma série de terremotos.
Foi um duro lembrete de que, sob os idílicos vilarejos brancos repletos de restaurantes, acomodações do AirBnB com banheiras de hidromassagem e vinhedos vulcânicos, duas placas tectônicas se encontram na crosta terrestre.
Isobel Yeo, especialista em vulcões submarinos altamente perigosos do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, está liderando a missão. Cerca de dois terços dos vulcões do mundo estão submersos, mas quase não são monitorados.
“É um pouco como ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’ em termos de compreensão do perigo, em comparação com os mais famosos, como o Vesúvio”, ela diz no convés, enquanto observamos dois engenheiros içando um robô do tamanho de um carro para fora do navio.
Este estudo, realizado logo após os terremotos, vai ajudar os cientistas a entender que tipo de abalo sísmico pode indicar que uma erupção vulcânica é iminente.
A última erupção em Santorini aconteceu em 1950, mas em 2012 houve um “período de agitação”, afirma Isobel. O magma fluiu para as câmaras dos vulcões, e as ilhas “incharam”.
“Os vulcões submarinos são capazes de erupções realmente grandes e destrutivas”, diz ela.
“Somos induzidos a uma falsa sensação de segurança quando estamos acostumados a pequenas erupções, e ao vulcão agindo de forma segura. Presumimos que a próxima vai ser igual, mas pode não ser”, explica.
A erupção do Hunga-Tonga no Pacífico, em 2022, produziu a maior explosão subaquática já registrada, e gerou um tsunami no Atlântico, com ondas de choque sentidas no Reino Unido. Algumas ilhas de Tonga, próximas ao vulcão, foram tão devastadas que seus habitantes nunca mais voltaram.
Abaixo dos nossos pés no navio, a 300 metros de profundidade, há fontes hidrotermais borbulhantes. Essas fissuras na Terra transformam o fundo do mar em um mundo laranja brilhante de rochas salientes e nuvens de gás.
“Sabemos mais sobre a superfície de alguns planetas do que sobre o que existe lá embaixo”, diz Isobel.
O robô desce até o leito marinho para coletar fluidos, gases e fragmentos de rocha.
Mistura de água e magma
Essas fontes são hidrotermais, o que significa que água quente jorra das fissuras, e geralmente se formam perto de vulcões.
É por isso que Isobel e 22 cientistas do mundo todo estão neste navio há um mês.
Até agora, ninguém conseguiu descobrir se um vulcão se torna mais ou menos explosivo quando a água do mar se mistura com o magma nestas fontes.
“Estamos tentando mapear o sistema hidrotermal”, explica Isobel. Não é como fazer um mapa em terra. “Temos que olhar para o interior da Terra”, diz ela.
O Discovery está pesquisando a caldeira de Santorini e navegando até Kolombo, outro grande vulcão nesta região, a cerca de sete quilômetros a nordeste da ilha.
Não se espera que os dois vulcões entrem em erupção em breve, mas é apenas uma questão de tempo.
A expedição vai criar bancos de dados e mapas de risco geológico para a Agência de Defesa Civil da Grécia, explica Paraskevi Nomikou, membro do grupo de emergência do governo que se reuniu diariamente durante a crise do terremoto.
Ela é de Santorini, e cresceu ouvindo o avô contar histórias sobre terremotos e erupções passadas. O vulcão a inspirou a se tornar geóloga.
“Esta pesquisa é muito importante porque vai informar a população local sobre a atividade dos vulcões, e vai mapear a área de acesso proibido durante uma erupção”, diz ela.
Isso vai revelar que partes do fundo do mar de Santorini são as mais perigosas, ela acrescenta.
Estas missões são incrivelmente caras, de modo que Isobel faz experimentos dia e noite, enquanto os cientistas trabalham em turnos de 12 horas.
John Jamieson, professor da Universidade Memorial de Newfoundland, no Canadá, mostra à BBC rochas vulcânicas extraídas das fontes.
“Não pegue esta”, ele adverte. “Está cheia de arsênico.”
Apontando para outra que parece um suspiro preto e laranja salpicado de ouro, ele explica: “Esta é um verdadeiro mistério — não sabemos nem do que ela é feita”.
Estas rochas contam a história do fluido, da temperatura e do material dentro do vulcão. “Este é um ambiente geológico diferente da maioria dos outros — é realmente emocionante”, diz ele.
Mas o coração da missão é um contêiner escuro no convés, onde quatro pessoas olham para telas montadas em uma parede.
Usando um joystick que pode parecer com o de um console de videogame, dois engenheiros dirigem o robô subaquático. Isobel e Paraskevi trocam teorias sobre o que há em uma poça de fluido que o robô encontrou.
Os cientistas registraram terremotos muito pequenos ao redor do vulcão, causados pelo fluido que se movimenta pelo sistema e causa fraturas. Isobel mostra uma gravação de áudio da reverberação das fraturas. Parece o som grave em uma casa noturna sendo amplificado e reduzido.
Eles identificam como o fluido se move por meio das rochas pulsando um campo eletromagnético na terra.
Isso está criando um mapa em 3D que mostra como o sistema hidrotermal está conectado à câmara magmática do vulcão, onde uma erupção é gerada.
“Estamos fazendo ciência para as pessoas, não ciência para os cientistas. Estamos aqui para fazer com que as pessoas se sintam seguras”, diz Paraskevi.
A recente crise do terremoto em Santorini destacou o quanto os moradores da ilha estão expostos às ameaças sísmicas e o quanto dependem do turismo.
De volta à terra firme, a fotógrafa Eva Rendl encontra a reportagem em seu local favorito para ensaios fotográficos de casamento. Quando a chamada onda de terremotos aconteceu em fevereiro, ela deixou a ilha com a filha.
“Foi realmente assustador, pois as coisas foram ficando cada vez mais intensas”, diz ela.
Ela está de volta agora, mas os negócios estão mais devagar. “As pessoas cancelaram as reservas. Normalmente, começo a fotografar em abril, mas meu primeiro trabalho é só em maio”, relata Eva.
Na praça principal do sofisticado vilarejo de Oia, em Santorini, a turista britânico-canadense Janet conta à BBC que seis pessoas do seu grupo de inicialmente dez amigos cancelaram a viagem.
Ela acredita que informações científicas mais precisas sobre a probabilidade de terremotos e vulcões ajudariam outras pessoas a se sentirem mais seguras em relação a visitar a ilha.
“Eu recebo os alertas do Google, recebo os alertas dos cientistas, e isso me ajuda a me sentir segura”, diz ela.
Mas Santorini vai ser sempre um destino de sonho. Em Imerovigli, a reportagem avista duas pessoas subindo em um dos terraços para tirar a foto perfeita.
O casal — casado há apenas 15 minutos — viajou da Letônia, e não se deixou intimidar pelas ameaças subaquáticas da ilha.
“Na verdade, queríamos nos casar perto de um vulcão”, diz Tom, ao lado da noiva, Kristina.