Padre que dormiu na rua por três anos é formado em sete faculdades e presta advocacia aos pobres: ‘Gratidão’


Arno Dalmônico, de Sorocaba (SP), revelou que não sente mágoa de ninguém e transformou o momento difícil e conquistas, em especial, espirituais. Padre que dormiu na rua é formado em sete faculdades e presta advocacia aos pobres
Arno Dalmônico, de 75 anos, causou comoção e despertou sentimentos de solidariedade e compaixão na cidade de Sorocaba (SP), em 1994, quando passou a dormir na em uma rua da cidade após desentendimentos com a Ordem Salesiana.
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Mais de 30 anos depois, o padre voltou para a Rua Gustavo Teixeira, no Jardim Paulistano, onde dormiu por mais de três anos e refletiu sobre os sentimentos e como o episódio mudou a vida dele. Afirma não sentir mágoa de ninguém e diz que transformou o momento difícil em conquistas, em especial, as espirituais.
Falar sobre a vida nas ruas não é um tabu para ele, mas existem coisas que o ex-pároco prefere não falar, como o episódio do desentendimento com a Ordem.
“Eu vim pra cá indicado pelos meus superiores em 1987. Aí, vivi aqui até 1994. Houve um pequeno desentendimento entre o diretor e eu, e fui me afastando da comunidade salesiana por motivos diversos. Mas desde aquela ocasião, até hoje, tudo que me aconteceu eu faria questão de continuar repetindo. Todos os momentos foram felizes, antes e depois do Salesiano.”
Reportagens da época relatam que o desentendimento se deu por uma transferência para outra cidade, comum entre padres, mas que Arno não concordou. O padre, antes do seu afastamento, era um fenômeno de popularidade em Sorocaba.
Padre de Sorocaba (SP) que dormiu na rua por 3 anos, tem 7 faculdades e presta advocacia aos pobres
Marcel Scinocca/g1
Colecionador de histórias… e profissões!
Passos firmes, memória sensata. Quem vê o padre Arno caminhando pelas ruas da zona oeste da cidade nem imagina quanta história ele tem. Professor, advogado, sociólogo, filósofo, padre… Ao todo são sete profissões, mas ele confessa que a vocação relacionada à teologia é a que mais gosta.
É por meio de um cartão de visitas, no entanto, que é possível ver “os dois lados de Arno”. Na “parte da frente” estão informações sobre Arno como padre: pode fazer alguns eventos como, por exemplo, batizados. Do outro, está o lado de Arno advogado, incluindo o cadastro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). É nesta área, inclusive, que ele mostra uma preferência especial pelos clientes: advogar para os pobres.
“Eu era da roça e tive oportunidade de estudar, me esforcei. Eu tive a sorte de ser um professor, mas não só isso, não ser padre, ser advogado. Tenho sete profissões e como advogado, atendo os pobres que não tem condições de pagar.”
Arno também relembra do tempo em que se abrigou em uma calçada, ao lado da paróquia onde deixou de atuar, logo após o desentendimento com a Ordem. “Eu queria descobrir o que estava acontecendo comigo. Aquele momento, então, assumi que o que Deus faz na minha vida não é para o meu mal, é para evitar coisas piores. Foi um momento difícil”, relembra.
Ele conta ainda que todo o período que viveu na rua foi uma grande lição, e que não tem mágoa de ninguém. “Nunca passei necessidade. O povo me ajudou sempre.”
“Tanto aqueles que me apoiaram, quanto aos demais, eu sempre os amei e continuo amando. Não tenho raiva de ninguém. Pelo contrário. Tenho gratidão. A gratidão, para aqueles que me ajudaram, ou mesmo para aqueles que me fizeram entrar nessa provação, a gratidão é grande, e que Deus os abençoe, hoje e sempre.”
Padre de Sorocaba (SP) volta à calçada onde dormiu por 3 anos
Marcel Scinocca/g1
A vocação, segundo Arno, nunca foi deixada de lado e agora está ainda mais forte.
“Mais do que nunca. Agora, eu atendo as pessoas onde elas estão, onde elas me chamarem. Como padre, sempre atendo, nos hospitais, nas casas, em casamentos, em batizados. Sempre fiz isso. Nenhum religioso e nenhum bispo mandou eu parar. Não tenho mente nenhuma em desistir. Sou padre até o último dia da minha vida.”
Arno, que acorda todos os dias para levar comida para pessoas em situação de vulnerabilidade social em diversos pontos de Sorocaba, adora animais e a natureza, e conta o segredo de tanta disposição.
“O segredo é muito interessante. Na bíblia diz que os apóstolos seguiram a Jesus: mostra-nos o pai. E Jesus deu essa resposta: quem me vê o pai.” E eu me vejo assim no espelho. Quem me vê, vê Deus. Não que eu seja mais do que isso, mas dentro de mim, age um Deus. Como ele age em mim? Eu sempre penso em coisa positiva. Sou feliz, sou rico, sou saudável. E isso me dá toda essa vitalidade. Ao invés de eu pensar nos 75, eu falo: ‘tenho 40 anos’. E isso me deixa com juventude na minha vida.”
Do lado de fora da igreja, ele contempla plantas que diz que ajudou a plantar e nos dá uma lição de fé e esperança. “Cresci bastante pelo acaso daquela aprovação. Graças a Deus, todo o passado me deixa orgulhoso, me deixa cheio de alegria.”
Arno se aposentou em fevereiro deste ano da profissão de professor, diz que mantém uma relação tranquila com a comunidade salesiana e tem duas filhas.
Padre de Sorocaba (SP) fala sobre momentos em que dormiu na rua por 3 anos
marce
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