Dia dos Povos Indígenas: caciques do Alto Tietê reivindicam por saúde especializada


Segundo o IBGE, a região apresenta 1.853 pessoas autodeclaradas indígenas. Ministério da Saúde oferece atendimento especializado apenas para indígenas aldeados. Aldeia indígena M’Boiji Tupinambá fica em Mogi das Cruzes
Yasmin Castro
O Dia dos Povos Indígenas é celebrado neste sábado (19). No Alto Tietê, 1.853 pessoas são autodeclaradas indígenas, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022. Muitos deles reivindicam por um atendimento de saúde especializado para essa população na região.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) é responsável pelas ações de atenção primária em saúde e saneamento nos territórios indígenas. O modelo considera a diversidade social, cultural e territorial dos povos indígenas.
✅ Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
No entanto, segundo o Ministério, para os indígenas que vivem em áreas urbanas, o atendimento é realizado pelas próprias redes municipais, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Não há um atendimento especializado como acontece nos territórios indígenas.
Para Angá Morerekoara (Luis de Lima), Pagé e Cacique da aldeia M’Boiji, onde vivem os integrantes da etnia Tupinambá, localizada na Porteira Preta, em Mogi das Cruzes, a comunicação na hora de um atendimento médico é a principal barreira enfrentada por eles.
“Todo parente, que é o paciente, que saí da aldeia para passar em consulta tem que ter o acompanhamento da agente comunitária ou da assistente social da aldeia, […] porque, além de traduzir quando há necessidade, […] elas vão explicar pro médico o tratamento que nós temos na aldeia, a nossa fé, porque tudo isso envolve. […] Têm médicos que não entendem isso e pedem pro paciente passar sozinho pra ele mesmo falar. Isso é uma coisa que ainda vamos ter que reparar”, explicou.
Mogi das Cruzes é a cidade do Alto Tietê que mais tem indígenas, são 538.
Segundo a Prefeitura de Mogi das Cruzes, a Secretaria Municipal de Saúde e Bem-Estar segue as diretrizes do Ministério da Saúde em relação ao atendimento oferecido aos indígenas aldeados que vivem no município.
A prefeitura informou, ainda, que promove atenção primária à saúde e realiza ações de saneamento, de forma participativa e diferenciada, respeitando as especificidades epidemiológicas e socioculturais dos aldeados.
O cacique destacou que na cultura indígena há o costume de realizar tratamentos com medicamentos da floresta, e os médicos precisam estar bem orientados para compreenderem isso.
“Muitas das vezes, para que o parente [indígena] aceite ser tratado com os medicamentos de fora, a gente tem que conversar, o médico tem que dar uma atenção um pouco diferente. Então, precisa […] que os médicos tenham consciência de que pelo menos têm que ter o acompanhamento da assistente social da aldeia ou da agente comunitária pra facilitar o próprio trabalho”.
Indígena urbano
Segundo Alex Werá Kaimbe (Alex Ribeiro), cacique da etnia Kaimbé no Estado de São Paulo, em Itaquaquecetuba, cidade onde mora, vivem em torno de 45 kaimbés, em contexto urbano.
O cacique contou que seria importante ter um atendimento em saúde especializado para os indígenas no município.
“Primeiramente [é preciso] trazer uma equipe […] que vai entender a complexidade da população, como questões étnicas, culturais e sociais. […] Cada povo conhece sua história e sua ancestralidade, o cuidado integral que o sistema de saúde prevê em sua lei abrange isso que estamos necessitando”, destacou Werá.
Itaquaquecetuba é a segunda cidade da região que mais apresenta indígenas, ao todo são 494.
Segundo a Prefeitura de Itaquaquecetuba, a Secretaria de Saúde não recebeu qualquer solicitação formal relacionada ao tema em questão, mas que não há qualquer tipo de impedimento para a implementação de um atendimento especializado voltado à saúde indígena.
A Prefeitura de Itaquaquecetuba informou, ainda, que a Diretoria de Atenção Primária está à disposição para dialogar e colaborar na construção de ações que visem garantir o cuidado e o acolhimento necessários.
Werá explicou que em São Paulo existe um ambulatório médico especializado na população indígena, onde muitos kaimbés procuram por atendimento. Para ele, todos os indígenas deveriam ter o mesmo acesso à saúde.
“O SUS não é claro em relação ao indígena que vive na cidade. Então, o atendimento tem que ser uma saúde diferenciada para toda a população indígena, independente do contexto em que viva”, frisou o cacique Werá.
Leia também
Veja o que abre e o que fecha no Alto Tietê durante o feriado prolongado de Páscoa e Tiradentes
Mais de 48 mil veículos devem passar pela Mogi-Bertioga durante os feriados de Páscoa e Tiradentes
Vanusa Kaimbé mora em Guarulhos e foi a primeira indígena a receber a vacina contra o Coronavírus no Brasi
Rodrigo Rodrigues/G1
Conselheira do CNJ fala sobre a Ação Nacional da Saúde Indígena no Tocantins
Veja tudo sobre o Alto Tietê
Adicionar aos favoritos o Link permanente.