
Estádio Vidal Ramos Júnior, casa do Inter de Lages – Foto: Jehan Oliveira/FME Lages/ND
O Inter de Lages está fora da Série B do Catarinense 2025 e, com isso, só retornará reiniciando na Série C. Em nota oficial, o clube informou a desistência da competição no mesmo dia da definição dos jogos.
Sem condições financeiras de manter o clube em funcionamento, principalmente por questões na Justiça, a diretoria emitiu uma nota informando a real situação do campeão catarinense de 1965.
Na longa carta publicada no site oficial, o clube lageano informa as dificuldades enfrentadas para contar com patrocinadores e a manter as contas do clube em dia diante de problemas na esfera jurídica.
O Leão Baio é presidido desde 2014 por Cristopher Nazário Nunes, que também preside a SC Clubes. Em 2024 o Inter de Lages foi rebaixado no Estadual e havia expectativa de montar uma equipe para buscar o acesso, mas não será mais possível.
De acordo com o regulamento da FCF, o clube que desistir de uma competição está automaticamente rebaixado para a divisão seguinte.

Cristopher Nazário Nunes é presidente do Inter de Lages desde 2014 – Foto: Greik Pacheco/Divulgação/ND
Leia a carta do clube na íntegra
“Mais do que um clube de futebol, o Internacional de Lages é um símbolo de identidade de lageanos e serranos. Essa instituição, fundada há 76 anos, foi construída não agora ou nos últimos poucos anos, quando voltou a ganhar holofotes, graças a vitórias em campo ou conquistas de títulos na década passada, mas ao longo de décadas.
Foi o esforço coletivo de dezenas de milhares de torcedores, apoiadores, dirigentes, imprensa e figuras de relevo do poder público e da iniciativa privada que deram forma a essa instituição, de profundas raízes em sua comunidade. Não por acaso, em 2012, a Câmara de Vereadores de Lages ratificou a importância do clube para os lageanos ao aprovar, por unanimidade, o projeto que reconheceu o Esporte Clube Internacional como patrimônio cultural do município.
Assim como foi só com a passagem do tempo que o Inter ganhou forma e que se moldou seu lastro com a comunidade, tampouco foi no passado recente que surgiram os problemas financeiros que têm prejudicado e mesmo comprometido as atividades do clube. A situação é bastante conhecida.
Ao longo da última década, o Inter fez esforços para se reconstruir dentro e fora de campo. Nos gramados, destacamos a volta do clube à elite do Campeonato Catarinense, em 2014, após 13 anos de ausência, o retorno às competições nacionais, em 2015, o que não ocorria havia quase meio século, a inédita participação na Copa do Brasil, em 2016, e um novo acesso à primeira divisão do estadual, em 2023.

Estádio Vidal Ramos Júnior teria gramado sintético para o Inter de Lages e outros jogos – Foto: Inter de Lages/Divulgação/ND
Esses feitos só foram possíveis graças ao apoio da comunidade que deu forma ao clube. Não foram multinacionais ou corporações de outras paragens que contribuíram com recursos e serviços para a existência do clube, e sim empresas e instituições locais, de Lages e cidades da Região Serrana. Além delas, foi a torcida que tornou essa obra coletiva possível até aqui por meio da compra de ingressos, da adesão a planos de sócios e, claro, de seu apaixonado apoio.
Com esses recursos, o Inter construiu sua trajetória também no passado recente. Ocorre que os recursos de hoje destinam-se aos compromissos do presente, mas também do passado, e isso, como se sabe, tem sido um elemento que tem atrapalhado as atividades do clube.
Desde meados da década passada, quando começaram os esforços para a reorganização do clube, os contratempos do passado continuaram a afetar o trabalho do Inter no presente. Assim, o planejamento financeiro de cada temporada, elaborado com muito zelo – e com a participação de representantes da comunidade, e não apenas da direção do clube -, acabou sempre comprometido por despesas que não estavam no planejamento, dado que o clube as contraiu dez, 20 ou mesmo 30 anos antes. Muitas desses débitos são de ações trabalhistas, que representam cerca de 90% do passivo do clube.
Ainda assim, o Internacional trabalhou sem ignorar a responsabilidade de cumprir os compromissos pretéritos e correntes. O Internacional de Lages tem mantido esforços incansáveis para equalizar seus passivos – e as dívidas, não ignoremos, são um quadro que aflige virtualmente todos os clubes do futebol brasileiro. Desde a última década, em iniciativas para cumprir compromissos passados, a atual direção do clube tem feito de tudo para ajustar as finanças do Inter e ajudar a construir para ele um caminho equilibrado e saudável, em respeito à instituição e à comunidade que ajudou a construí-lo. Como parte desses esforços, a atual direção pagou mais de R$ 1 milhão em pendências do clube, que gestões anteriores acumularam durante décadas.
Já nos anos 2020, as finanças do Inter sofreram com o choque da pandemia de covid-19: por duas temporadas, o clube disputou competições sem poder contar com sua grande força, a torcida em campo. É ela a propulsora do desempenho dos atletas no gramado e, também, a principal fonte de receita do clube, por meio da compra de ingressos e do pagamento de planos de sócios.
Mas, apesar desses esforços, o Inter não tem encontrado na Justiça um clima conciliatório, que permita a reestruturação efetiva do clube. Em vez disso, vê-se sob uma chuva permanente de penhoras de receitas e diante de restrições que tornam inviáveis até mesmo simples medidas administrativas. Agora, após enfrentar esse quadro ao longo de anos, tornou-se inviável para o clube manter-se nas competições nos termos atuais.
Recentemente, ocorreram 41 intimações judiciais a patrocinadores e potenciais patrocinadores para que eles destinassem as verbas de patrocínio a ações judiciais, o que, na prática, inviabiliza completamente as atividades do clube. O estrangulamento é evidente: o Inter sempre apoiou-se na participação de sua comunidade para existir. Como se disse anteriormente, não foram multinacionais ou corporações de outras plagas que contribuíram com recursos e serviços para o clube manter suas atividades, mas sim empresas e instituições de Lages e da região. Sem o apoio financeiro desses entes locais, o Inter não pode contratar atletas e profissionais para disputar competições.
O Internacional só pode honrar compromissos do passado se puder levantar recursos para manter suas atividades no presente. Estrangulá-lo, assim, nos parece que contraria inclusive os interesses dos credores, que, sem o clube na ativa, podem ficar sem a chance de receber o que têm a receber.
Dado que a próxima competição do clube, a Série B do Campeonato Catarinense, começará em menos de dois meses, o quadro atual, decorrente das notificações aos potenciais apoiadores, inviabilizou a participação do Inter. O clube já comunicou a Federação Catarinense de Futebol sobre a decisão.
O Esporte Clube Internacional reitera sua confiança na justiça e seu respeito pelo Poder Judiciário. O clube não deixará de existir nem encerrará suas atividades, e, dentro dos ritos do Estado Democrático de Direito, sendo norteado pela letra da lei, buscará formas de se estruturar para voltar, assim desejamos, em 2026″.