
Pesquisadores analisaram comunicação de chimpanzés considerados ‘primos’ dos humanos e descobriram sinais de linguagem complexa, que antes se acreditava ser exclusiva das pessoas. Pesquisa descobriu semelhança com humanos na comunicação de bonobos
AP
Uma nova pesquisa revelou que os bonobos — espécie de chimpanzé mais próxima dos humanos — usam uma forma de comunicação vocal que lembra a linguagem humana. Segundo os cientistas, os sons emitidos pelos animais são combinados de maneira semelhante à forma como os humanos encadeiam palavras para formar significados mais complexos.
A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, após mais de 400 horas de gravações feitas na Reserva Comunitária de Kokolopori, na República Democrática do Congo. O estudo foi publicado na Science, um dos mais renomados periódicos de ciência.
Para a pesquisa, a equipe analisou 567 chamados únicos e 465 pares de sons, totalizando mais de 700 interações vocais. Os pesquisadores queriam entender se os bonobos utilizam a chamada composicionalidade — a habilidade de combinar unidades de linguagem (como palavras ou sons) para formar novos significados. Essa capacidade é considerada um dos pilares da linguagem humana.
🔴 Por exemplo: ao dizer “sou uma péssima cantora”, a combinação das palavras “ruim” e “cantora” cria um sentido diferente de “uma pessoa ruim”. O significado emergente indica alguém que canta mal — um novo conceito construído a partir de palavras isoladas.
Para identificar esse padrão nos bonobos, os cientistas observaram o contexto em que os sons eram emitidos e usaram ferramentas matemáticas semelhantes às aplicadas em sistemas de inteligência artificial, como o ChatGPT. Eles construíram um mapa que agrupava os chamados conforme sua semelhança de significado.
🔴 O resultado chamou a atenção. Em 16 pares de sons, os dois chamados mantinham significados próximos aos seus usos individuais. Mas em quatro casos, os pares formavam algo novo.
➡️ Um deles, por exemplo, combinava um pio alto — geralmente usado para chamar a atenção de bonobos distantes — com um pio baixo, relacionado a excitação emocional. Juntos, os dois pareciam funcionar como um pedido de ajuda, sinalizando que o animal estava em perigo.
Para os pesquisadores, a descoberta é um avanço importante na compreensão das origens da linguagem. Se os bonobos usam a composicionalidade de forma natural, é possível que o ancestral comum entre eles e os humanos — que viveu há cerca de 7 milhões de anos — já tivesse essa habilidade.
A conclusão reforça a hipótese de que os fundamentos da linguagem humana podem ser muito mais antigos do que se pensava, e que a capacidade de construir significados complexos a partir de unidades simples não surgiu exclusivamente com humanos.