
Parques têm limitação do espaço e estádios impedem palcos simultâneos pela sobreposição de sons. Anhembi reformado poderá ser solução. Multidão no terceiro dia de Lollapalooza
Rafael Leal / g1
Muito mais do que um amontoado de pistas para carros e motocicletas, o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, se tornou o point dos festivais de música que rolaram na cidade.
A edição de 2025 do Lollapalooza (nos dias 28, 29 e 30 de março) vai levar centenas de milhares de pessoas ao espaço para curtir alguns dos principais e mais concorridos shows do ano no país. Dez anos atrás, no entanto, o Autódromo estava bem longe de ser o lar queridinho dos festivais. Em setembro, ele volta a ser o palco de um grande festival: o The Town.
O que explica, então, a disputa pela área? Como é a negociação para usá-la? Não há nenhuma outra opção em São Paulo? O que podemos esperar para o futuro dos festivais na cidade?
Jockey Club: muita lama e pouco espaço
Lama atrapalhou acesso do público aos palcos do Lolla em 2013 no Jockey Club
g1
Quando chegou ao Brasil, em 2012, o Lolla aconteceu num ambiente que, em vez de ser lembrado pelo automobilismo, é atrelado ao hipismo: o Jockey Club. A parceria entre Lolla e Jockey até deixou marcas de lama nos sapatos dos fãs de Arctic Monkeys e de Foo Fighters, mas permaneceu somente até o ano seguinte, quando sujou os pés dos fãs de The Killers e The Black Keys.
Em 2014, o festival migrou para o Autódromo, travando ali uma relação bem mais estável do que a anterior. Duas das principais razões para o Lolla ter deixado o Jockey são a associação de moradores do local e a expansão do público do festival.
No Jockey, o som das atrações rendia tantas reclamações da vizinhança que, para evitar dores de cabeça, o evento mudou de endereço. Além disso, ele cresceu: foi de 60 mil pessoas a 80 mil. A partir de 2017, o Lolla passou a ter públicos de 100 mil.
O Jockey chegou a sediar outro megafestival, em 2015, o Brahma Valley, mas também ouviu críticas dos moradores. E os problemas com a lama no evento foram ainda piores. Eram comuns os buracos em que fãs de sertanejo ficavam chafurdados de lama até pelo menos o meio da canela.
Fãs de Lucas Lucco dançam no meio da água em festival em SP
Rodrigo Ortega/G1
Anhembi: uma possibilidade?
Outro lugar que já abrigou um festival famoso é o Distrito Anhembi. Em sua estreia no Brasil, o Primavera Sound levou para lá nomes como Lorde e Travis Scott, em 2022. Com um público diário de 55 mil pessoas, o festival conquistou ali os fãs da música mais alternativa. Na segunda edição, mudou para o Autódromo. Na terceira, foi cancelado.
Apesar de ter recebido críticas pelas árvores que dificultaram a visão do palco principal daquela edição, o evento havia sido elogiado. Por que, então, migrar para o Autódromo? Desde abril de 2023, o Anhembi passa por uma reforma, o que influenciou a decisão.
Público no segundo dia de Primavera Sound 2023
Fábio Tito/g1
Para os profissionais do mercado de shows ouvidos pelo g1, não existe outra área em São Paulo que comporte um público de 50 mil ou mais pessoas. Não nos moldes de um festival que oferte palcos simultâneos — e não desperte a ira da vizinhança local.
Quais seriam as outras opções?
No caso de estádios, mesmo com um bom planejamento, seria difícil impedir que os sons dos palcos se sobrepusessem. O único grande festival em estádio com palcos simultâneos foi o Rock in Rio 2, em 1991, mas a edição não foi aprovada pela organização;
Parques têm limitação do espaço. Até o Ibirapuera precisaria conciliar sua área pública com a do festival. Isso exigiria grande planejamento para um evento de mais de 50 mil pessoas. O C6 Fest segue na ativa e foi pensado para pouco mais de 10 mil pessoas, nos mesmos moldes do finado Tim Festival;
Ainda existe a expectativa de que o Anhembi reformado se torne um promissor espaço para megaeventos.
VÍDEO: Relembre como o Autódromo de Interlagos virou point dos festivais
Autódromo de Interlagos, o point dos festivais