
O nono título do Carnaval de Florianópolis da Consulado do Samba chegou. Após empate na apuração com a Embaixada Copa Lord, ambas com 269,1 pontos, a escola da Caieira do Saco dos Limões venceu a disputa no critério de desempate pelo somatório de notas dos jurados dos casais de mestre-sala e porta-bandeira.

Troféu na quadra da Consulado em Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
Em homenagem à conquista, a ponte Hercílio Luz vai ficar com as cores da Consulado até o dia 10 deste mês, conforme solicitação da Liesf (Liga das Escolas de Samba de Florianópolis).
Sem comemorar um título desde 2019, a agremiação bateu na trave nos últimos dois carnavais, mas em 2025 pôde soltar o grito de campeã. Após erguer o troféu ainda na passarela Nego Quirido, o presidente Casinha e os demais integrantes da escola se digiram para o barracão da escola, na Caieira. Lá, a festa foi madrugada adentro.

Casinha, presidente da Consulado – Foto: Germano Rorato/ND
No discurso emocionado da vitória, já no barracão, Casinha tranquilizou a todos dizendo: “Já está chegando o chope”. Campeão em outras funções na escola da qual é membro desde os anos 1990, o presidente trouxe o primeiro troféu no novo cargo.
“Não tenho nem palavras. Foi muito trabalho, a comunidade se dedicou muito. Pegamos uma escola com muitos problemas, conseguimos minimizar quase todos, e agora o resultado está aí. Parabéns, Nação Consulense”, ressaltou. Casinha dedicou o título à comunidade.
“Sem as pessoas a gente não é nada. Sou presidente, mas daqui a pouco vou sair e a comunidade fica para sempre”, destacou Casinha.
O comandante da Ordinária no Carnaval de Florianópolis
Alysson Rodrigo Ferreira, o mestre Biscoito, liderou a Ordinária, a bateria que somou 30 pontos, três notas dez. Na escola desde 1990, mestre de bateria desde 2010, ele mantém o 10 na bateria desde 2016.

Alysson, o mestre Biscoito, da Consulado, comandou mais de 100 ritmistas na Nego Quirido – Foto: Germano Rorato/ND
“Não consigo descrever o que estou sentindo. É uma luta colocar a escola na avenida”, disse, parabenizando as coirmãs. Na visão dele, o Carnaval de Florianópolis cresceu.
“Não é fácil colocar a rapaziada na avenida, mais de 100 cabeças tocando, com a estrutura que a gente tem. Quero parabenizar todos, dizer que sou grato e que o Carnaval tem que ser melhor ainda”, considerou.
O segredo do sucesso, para ele, é envolver a comunidade, fazer todos se sentirem importantes.
“Todos os ritmistas deixam a família em casa para vir ensaiar e não é fácil. Agora é curtir.”
Segundo lugar engasgado desde 2019
Rainha de bateria Thaynara de Freitas Juvêncio, 30 anos, desfila na Consulado há mais de 15 anos e é rainha há seis. Casada com o jogador de futebol Matheus Pereira, do Oita Trinita do Japão, ela passa a maior parte do ano na Ásia e vem para Florianópolis na época dos ensaios. Ela começou na escola por influência do irmão, Rafael Freitas.
“Sou cria da Consulado e desfilo somente aqui. Estava com muita saudade de ganhar título. Nosso último foi em 2019 e nos últimos carnavais ficamos em segundo e estava engasgado, a gente estava batendo na trave e foi merecido, a escola estava linda”, avalia.

Rainha de bateria Thaynara, da Consulado, deu show na Nego Quirido – Foto: Germano Rorato/ND
Segundo ela, o fim da apuração foi um momento de tensão, sem saber se a escola era campeã ou vice. Quando veio a confirmação, foi uma explosão total. “A escola mereceu. Todo mundo gritando em êxtase. Vamos curtir, com muita alegria e felicidade, para o desfile das campeãs.”
A comunidade do samba que se tornou família
Aidê Nascimento de Carvalho, 75 anos, está há 47 carnavais na Consulado. De São Luís (MA), passou 20 anos no Rio e veio para Florianópolis nos anos 1970.

Foliãs da Consulado, campeã do Carnaval de Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
“Essa terra aqui é uma maravilha, onde casei, tive minhas três filhas, que se criaram dentro da escola”, explicou ela, que desfilou na ala dos amigos.
Segundo Aidê, a união da comunidade da escola foi o fator da diferença.
“É muito difícil fazer Carnaval. O samba sempre foi discriminado lá atrás e agora vem conquistando espaços. Quando eu entro aqui [no barracão], conheço mais da metade, porque é uma família.”
Emocionada, ela se sentiu um pouco mal no meio do desfile, mas não arredou pé. “Minha filha disse que eu estava vermelha. Eu não queria preocupar ela e disse: ‘É o calor’. Sem voz para cantar, ela seguiu mesmo assim, com a energia que restava. Ontem, celebrou o título com as filhas Deysi, Carla e Gisele.
O retorno à escola para a conquista do caneco
Intérprete da escola, Alan Cardozo começou no Carnaval em 1999, na Os Protegidos da Princesa, chegando a erguer canecos na escola do Mocotó. Foi para a Consulado em 2003 e ficou até 2005, quando foi campeão, com enredo sobre Aleixo Garcia. Voltou para a Protegidos, passou pela Coloninha e depois de 20 anos retornou à Consulado para ser campeão de novo.

Alan Cardoso, intérprete da Consulado, campeã do Carnaval de Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
“Aqui tenho uma sorte imensa, estou superfeliz com o resultado, a escola veio leve, linda, cantando nosso samba e foi tudo maravilhoso. Estou sem palavras, voltando e sendo campeão, presente maior eu não esperava”, considerou. Para ele, o estalo de que vinha título foi ainda no pré-carnaval, nos ensaios.
“A Consulado acolhe todo mundo com muito carinho. Nosso samba pegou, sou um dos autores. Foi um processo muito legal e a escola abraçou o samba.
O responsável pelos delírios
O carnavalesco Raphael Soares foi o responsável por transformar os delírios de Fritz Müller em um espetáculo na avenida. Para ele, o enredo cumpriu seu propósito.
“O que eu queria aconteceu: as pessoas deliraram junto comigo. Esse enredo não é biográfico, é um delírio. Usamos Fritz Müller para contar uma nova história. O Batuque do Caeira viajou ao passado para convidá-lo a ser Carnaval no presente. Estou muito, muito feliz com esse resultado”, afirmou.