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Especialistas afirmam que a tecnologia usada para interceptar aeronaves é de uso restrito das autoridades e equipamentos vendidos na internet não são eficazes. Eles deram dicas sobre como agir caso a pessoa tenha a privacidade violada. Empresária que diz ter sido filmada nua por drone em São Vicente, SP
Arquivo pessoal e Reprodução
O caso da empresária que alega ter sido filmada nua dentro de um apartamento em São Vicente, no litoral de São Paulo, repercutiu nacionalmente e levantou um alerta: é possível parar um drone? Ao g1, especialistas deram dicas sobre o que fazer ao sentir a privacidade ameaçada por um equipamento.
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Milena Augusta, que tem um apartamento no 2º andar de um prédio no bairro Boa Vista, disse que o drone permaneceu estabilizado diante da janela janela por um tempo considerável, o que a fez acreditar que estava sendo filmada.
De acordo com o piloto profissional de drones Rômulo Venâncio, o único equipamento homologado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e capaz de interceptar o sinal de controle de um drone é o dispositivo conhecido como “DroneGun Tactical”, que se parece com uma arma (veja abaixo).
No entanto, o uso do equipamento é restrito às autoridades federais e algumas estaduais para derrubar drones suspeitos que sobrevoam áreas não autorizadas. O dispositivo, inclusive, foi usado pela Polícia Federal durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Brasília.
Policial federal usou arma antidrone durante posse presidencial de Lula e Alckmin na Esplanada dos Ministérios
Fábio Tito/g1
Gabriel Ribeiro, que é formado em Ciências Aeronáuticas e especialista em drones, afirmou que ainda não existe nenhuma interceptação dos equipamentos para uso civil. “Talvez, achem [essa tecnologia] no mercado chinês. São dispositivos que a gente pode falar que são ‘gatos’, mas não são nada eficientes”, reforçou.
🤔Se não tem como parar um drone, o que fazer ao ser incomodado por ele?
🚔Ao perceber a aproximação da aeronave, de acordo com Rômulo, é necessário acionar imediatamente a Polícia Militar e Guarda Civil Municipal (GCM). “As autoridades irão dar andamento nos procedimentos administrativos”, explicou ele.
🪨Segundo Gabriel, geralmente a primeira reação instintiva é arremessar um objeto para derrubar o drone. “Se o drone cair dependendo da altura que ele tiver, do tamanho do drone, do peso dele, a queda simplesmente pode ferir alguém embaixo. Então, a gente recomenda que nunca faça isso”, disse.
📸 Ainda conforme a orientação de Gabriel, o ideal é tirar uma foto do drone para tentar identificar o modelo e o número da matrícula do equipamento na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
🚶O especialista também orientou procurar o piloto do drone nas proximidades, seja em áreas abertas ou nas varandas e coberturas de apartamentos.
“A gente não tem muito controle, hoje os drones se popularizaram de uma forma muito grande e abrangente, então as pessoas acabam usando de uma forma muito discriminada e sem muito conhecimento. Por isso, a gente reforça que as pessoas que operam drone tenham um treinamento adequado para saber exatamente quais são as normas vigentes para uso de drones no Brasil”, comentou ele.
Rômulo Venâncio (à esq.) e Gabriel Ribeiro (à dir.) são especialistas em drone
Arquivo pessoal
Regras
Segundo o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial (RBAC-E) da Anac, os drones são classificados como “aeromodelos” quando de uso recreativo, ou RPAS, da sigla em inglês para Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada, para uso não recreativo.
Os voos estão limitados a uma altura de 400 pés [cerca de 120 metros], pois, acima desse nível, operam aeronaves tripuladas. Além disso, um drone operado acima dessa altura põe em risco o espaço aéreo utilizado por aeronaves tripuladas.
Os drones não podem operar em uma distância menor do que 30 metros horizontalmente de residências, animais e pessoas não envolvidas com a operação ou não anuentes com ela.
O caso
Drone invade privacidade e filma mulher nua no litoral de SP
Milena Augusta, de 35 anos, alega ter sido filmada nua dentro de um apartamento no 2º andar de um prédio no bairro Boa Vista, em São Vicente. Ao g1, ela contou que mora na Europa e se sentiu desrespeitada com a situação durante as férias no Brasil. “Mês que vem volto pra Itália e a sensação é horrível. Estou com medo de que postem alguma foto ou vídeo meu”.
Ao g1, ela afirmou ter registrado um boletim de ocorrência pela internet. De acordo com a empresária, a volta para a Itália está marcada para o próximo mês. Apesar disso, ela levará a sensação de insegurança na bagagem.
“Me sinto totalmente invadida, não esperava passar por isso, venho ao Brasil pra curtir minha família, passar as festas com eles. Fico longe o ano todo e, quando venho, me acontece isso. Estou me sentindo totalmente desrespeita e invadida, nunca ouvi falar de um caso como esse na Itália”, disse.
Procurada pelo g1, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que apura o caso.
Milena Augusta, de 35 anos, disse ter sido espionada por um drone pela segunda vez em menos de um mês em São Vicente (SP)
Reprodução e Arquivo pessoal
Vigiada com frequência
Milena revelou que essa não foi a primeira vez que ela foi vítima de espionagem com drone. No final de janeiro, segundo a empresária, um drone já havia sido avistado em sua janela, mas, naquela ocasião, a aeronave permaneceu por menos tempo pairando no ar
A empresária ressaltou que não se sente mais confortável dentro da própria casa, e que tem receio de manter as janelas abertas.
O que diz a prefeitura?
Em nota, a Prefeitura de São Vicente lamentou o ocorrido no dia 12 de fevereiro e afirmou que a regulamentação do uso de drones é de competência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
No entanto, a administração municipal prometeu estudar possíveis medidas para evitar situações semelhantes. Além disso, reforçou a importância de registrar um boletim de ocorrência (BO) junto às autoridades policiais.
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