Prefeitura mantém liberação para construção de prédio do Exército no entorno do Complexo do Ibirapuera mesmo com posição contrária do Iphan


Município diz que nenhuma ilegalidade está sendo cometida, já que o termo para construção foi emitido em novembro de 2024, após autorização do Iphan e antes de novo posicionamento do órgão de proteção do patrimônio. Complexo Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, na região do Parque Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo.
Divulgação/GESP
A Prefeitura de São Paulo manteve posição favorável à construção de um prédio do Exército no entorno do Complexo Esportivo do Ibirapuera mesmo com parecer contrário por parte do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão responsável pela preservação dos bens culturais do Brasil, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras.
O projeto prevê um edifício de 14 andares (cerca de 42 metros) e 73 unidades residenciais, com 11.387 m² de área construída.
De acordo com o município, nenhuma ilegalidade está sendo cometida, já que o Termo de Consentimento para Atividade Edilícia Pública (TCAEP) foi emitido em 18 de novembro de 2024, após autorização do Iphan e antes de novo posicionamento do órgão.
A nova deliberação contrária às obras no endereço teria sido emitida pelo Iphan em 9 de dezembro de 2024.
“A Prefeitura foi notificada pelo IPHAN sobre uma nova deliberação referente ao tombamento do entorno. Em resposta, solicitou ao instituto um parecer técnico que justificasse a alteração da área protegida. Até o momento, não houve retorno”, apontou a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL).
A prefeitura informou que que a pasta prestou esclarecimentos ao Ministério Público e informou que, “até agora, não há fundamentos técnicos ou jurídicos para a suspensão do TCAEP”.
“No entanto, [a prefeitura] segue acompanhando o processo junto ao Iphan e aguarda um posicionamento formal para, se necessário, reavaliar sua decisão”, completou a administração municipal.
“Com a alteração da área do entorno, o Exército agora fica na abrangência da área de entorno. Nessa ocasião, relatou o Diretor que o Exército já informou que irá impugnar essa decisão, pois haverá reabertura do período de impugnação e novos debates. […] mas durante a 106ª Reunião o Conselho deliberou pelo retorno à área de entorno de 2021”, aponta a ata de uma reunião do diretor do Departamento de Patrimônio Material com a Associação de Moradores de Vila Mariana.
Ou seja, o perímetro do tombamento passou a abranger a área da construção do Exército.
O g1 procurou o Iphan, o Exército e a Associação de Moradores de Vila Mariana para mais detalhes, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a ata do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Iphan, a altura máxima permitida para construções nesta área é de 15 metros.
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‘Prejuízo à ambiência’
Durante a reunião que decidiu pelo tombamento definitivo do Complexo, ocorrida em 12 de novembro, a conselheira relatora, Flávia Brito Nascimento, argumentou que qualquer construção na área poderia “prejudicar a ambiência” do bem tombado.
Ao longo de todo o processo, que culminou com a aprovação da preservação deste patrimônio histórico, houve uma tentativa de reduzir a área de entorno, mas a relatora foi contra. Ficou delimitado, portanto, conforme previsto no tombamento provisório de 2021.
Vivian Barbour, urbanista e advogada da Associação de Moradores da Vila Mariana, afirma que notificou a prefeitura e o Iphan sobre a irregularidade da obra, solicitando a anulação ou a suspensão do TCAEP.
“Apesar da deliberação, o alvará viola as diretrizes do tombamento. É incontornável a preservação do patrimônio”, observa.
Vivian ressalta que a prefeitura não havia sido formalmente notificada sobre o tombamento, o que levou a associação a protocolar uma denúncia. Mesmo assim, as obras continuam.
Tombamento não foi homologado
A ata da reunião que decidiu pelo tombamento do Complexo Esportivo do Ibirapuera foi publicada no dia 6 de dezembro, após ser consolidada com todas as assinaturas necessárias.
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